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    Ninguém Tá Olhando: Após vitória no Emmy, Daniel Rezende e Fabiano Gullane falam sobre o possível futuro para a série (Entrevista Exclusiva)

    Em uma sequência de acontecimentos atípicos, Ninguém Tá Olhando obteve bons números de audiência, boa recepção na crítica, foi cancelada e logo depois venceu o Emmy Internacional. Haja coração!

    Recentemente, o universo das séries nacionais passou por uma situação, no mínimo, atípica e peculiar: Ninguém Tá Olhando, projeto episódico dirigido por Daniel Rezende (Bingo, Turma da Mônica - Laços) e produzido pela Gullane, ganhou um Emmy Internacional de Melhor Série de Comédia mesmo após ter sido cancelada pela Netflix ainda em sua primeira temporada. 

    Com isso, rapidamente é possível avaliar que algo nisso tudo não está lá muito correto. Afinal de contas, Ninguém Tá Olhando foi não apenas um sucesso de crítica (o que só se comprova com a vitória na premiação), mas também foi muito bem recebida pelo público, no geral. 

    Para tentar entender um pouco melhor como foi o processo de receber a premiação máxima para uma série de comédia brasileira, quais são os planos para o futuro de Ninguém Tá Olhando e algumas curiosidades sobre os próprios bastidores da produção, o AdoroCinema conversou com o diretor Daniel Rezende e o sócio-diretor da produtora Gullane, Fabiano Gullane.

    "A gente jamais imaginou que Ninguém Tá Olhando seria escolhida como a melhor série de comédia do ano na maior premiação de séries do mundo. O prêmio nunca é o objetivo, é consequência de um trabalho bem feito, mas eu confesso que foi muito surpreendente porque no Brasil a série já não tinha sido renovada pela Netflix, então a gente jamais imaginou que pudesse ter um respiro de reconhecimento. E aí vem o mundo e prova que o Brasil e o resto do planeta funcionam em ritmos completamente diferentes. Eu não consigo pensar em um reconhecimento maior do que esse", falou Daniel sobre a recepção da série no Emmy.

    "Realmente é muito grande o Emmy Internacional. Fomos escolhidos como a melhor série de comédia do mundo e é uma honra receber esse prêmio junto com o Daniel, os diretores, elenco, equipe, a Netflix e todo mundo que fez essa série junto com a Gullane. É um reconhecimento do talento e da indústria audiovisual brasileira", concluiu Fabiano.

    Com o reconhecimento em um momento tão atípico — após um cancelamento — era inevitável perguntar como Daniel e Fábio se sentiram no meio deste turbilhão de emoções que envolvia sofrer a dureza do cancelamento e logo depois o reconhecimento máximo da premiação. 

    "Pensa: a série foi bem de crítica, foi bem de público, tivemos muitos fãs, na CCXP do ano passado, que você raramente vê pessoas fantasiadas de personagens brasileiros, você achava vários 'Ângelus'. Mas a gente deu um pouco de azar em coisas que você não controla. Nós talvez tenhamos lançado a série no pior momento possível, onde a nota de corte da Netflix estava bem alta. São coisas que infelizmente não temos controle", disse Daniel.

    Para Fabiano, há um otimismo em enxergar que cada produto audiovisual se torna aquilo que conquistou em sua jornada: "Todos os processos audiovisuais são turbilhões em cada processo. São processos longos: um projeto desses demora uma a dois anos para ser escrito e criado; mais um ano de produção, preparação e filmagem; e depois mais um ano de pós produção, montagem, música, etc. Fora os meses de lançamento, eventos, festivais... Nesse processo todo são muitas alegrias, muitas correções de rota. A gente costuma brincar que normalmente, o que fica mesmo são os obras, os prêmios e o reconhecimento de cada uma delas. Os processos vão se misturando, as histórias vão virando lendas, e vamos ficando sempre com as histórias mais legais e divertidas".

    Mas e quanto ao possível futuro da série? Será que existe algo planejado para uma possibilidade de "resgate" ou renovação por outro veículo? Segundo Daniel, muitos dos planos para temporadas seguintes já estavam presentes no mundo das ideias.

    "Nossa ideia era, depois de estabelecer esse universo, poder numa segunda e terceira temporada, aprofundar nessas questões existenciais. A gente criou os Ângelus para rir dos seres humanos. É uma metáfora aos seres humanos ridículos que passam a vida seguindo regras e nunca questionam. Então a gente tinha espaço pra aprofundar temas muito mais interessantes e complexos. Então essa é a maior pena de não ter continuado". 

    "A gente tinha alguns caminhos que seriam seguidos nas próximas temporadas. A gente ia revisitar a criação das quatro regras, entender quem as criou, e nessa jornada o UIi ia entender mais ainda essa coisa de que o ser humano precisa de regra. Mas a única que eu posso dizer é que independente de quantas temporadas tivesse tido, a gente nunca ia responder se tem mesmo um chefe ou não. Porque essa é um pouco a nossa vida, né? Nem a ciência, nem a religião, ninguém nunca vai dizer se existe um chefe ou não. Se as coisas são determinadas ou se as coisas são aleatórias", concluiu Daniel.

    Segundo Fabiano, a questão criativa se encontra com a burocrática na facilidade de uma possível retomada da série: "A grande qualidade do "Ninguém ta olhando" é que é atemporal, universal, fala com todas as gerações e pode acontecer em qualquer tempo e lugar. Acho que é essa a Beleza: a série pode ser retomada  antes ou depois deste momento que foi contado na primeira temporada. A história que fizemos foi muito bem contada, aqueles anguels fizeram toda aquela confusão naquele tempo, e divertiram e emocionaram, além de fazer as pessoas refletirem sobre suas próprias crenças. Quem viu ficou muito feliz, e a gente mais ainda". 

    E ainda falando em possíveis futuros arcos, a segunda temporada iria contar com um reforço um tanto quanto carismático: ninguém menos do que o ator Nicolas Cage

    "Quando a gente vendeu a série para a Netflix, quem aparecia no final da primeira temporada era o Nicolas Cage. Porque tinha essa punição de assistir Cidade dos Anjos em looping na eternidade, e no final da primeira aparecia o Nicolas Cage e ele estava em todo o primeiro episódio da segunda temporada. E nós chegamos a convidá-lo, inclusive! Mas ele recusou, pois nunca fez nenhuma série na vida, até hoje ele só fez cinema, nunca fez televisão, e ele disse que não queria começar na televisão por uma série que não fosse protagonizada por ele. E contra isso eu não tinha argumento", contou Daniel. 

    E será que a aparição de Cage ao final da primeira temporada teria dado um rumo diferente a Ninguém Tá Olhando? Seria possível a série escapar deste cancelamento? E indo além: qual teria sido exatamente a razão de um cancelamento para um produto tão elogiado e tão bem elogiado? Aparentemente, a questão é tão delicada que a própria Netflix, após a vitória de uma série original sua no Emmy, não realizou sequer um tweet em comemoração. Fica difícil saber como será o futuro de um produto audiovisual que conquistou algo tão importante em nosso país, mas os realizadores tentam:

    "Me corta o coração a gente ter neste momento uma série que não se finalizou. O meu desejo seria que isso [a vitória no Emmy] fizesse os brasileiros olharem mais para as próprias séries brasileiras e que quem não deu chance, pudesse dar uma chance e assistir Ninguém Tá Olhando porque vai rir, vai se divertir, vai se questionar, e vai perceber que a gente também sabe fazer uma série de qualidade, com bom texto, bons diálogos, boa reflexão, e quem sabe isso nos leve a um hábito de fazer cada vez mais. Isso não para a gente, vamos continuar fazendo mais", concluiu Rezende. 

    Assim, com esta grande vírgula, endossamos por aqui os desejos de Daniel e Fabiano: que Ninguém Tá Olhando seja um grande começo para que possamos fazer cada vez mais. Afinal, contradizendo o próprio nome da série, me arrisco a dizer que neste momento estão, sim, todos olhando!

    Aproveite para ler a nossa crítica da primeira temporada de Ninguém Tá Olhando!

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