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    Happiest Season: Harper é uma personagem tóxica no novo filme de Kristen Stewart?

    O romance natalino estrelado por Kristen Stewart e Mackenzie Davis levantou muitas questões sobre a conduta da protagonista.

    Happiest Season foi lançado oficialmente em 26 de novembro no Hulu e, agora, também chega ao catálogo da HBO Max, tendo se tornado um fenômeno na internet, dividindo opiniões e levantando debates importantes na rede. Dirigido por Clea DuVall (Veep e The Handmaids Tale), o romance natalino acompanha Abby (Kristen Stewart), que vai passar o natal na família da namorada Harper (Mackenzie Davis) e planeja pedí-la em casamento durante o feriado. Porém, Harper ainda não é assumida para os pais e pede para que Abby se apresente como uma amiga e não dê nenhuma evidência de que estão juntas.

    O pedido de Harper foi o início de todas as situações desagradáveis que se desencadearam ao longo da trama e gerou grandes discussões sobre tal comportamento, responsabilidade afetiva e revelação da sexualidade. A personagem de Mackenzie Davis foi muito criticada pelo público, mas até que ponto ela estava errada? Para tentar responder a essa pergunta, separamos alguns pontos para a reflexão sobre o assunto.

    O que está por trás do medo de Harper em se assumir?

    Harper surgiu com a ideia de levar Abby para conhecer sua família e, quem sabe, começar a gostar de natal, já que a data comemorativa nunca mais foi a mesma desde que a jovem perdeu os pais. A iniciativa deixou Abby hesitante, mas a namorada insistiu. No entanto, durante a viagem, Harper avisou que mentiu sobre ter se assumido e fez o pedido que soou absurdo para os espectadores, com a promessa de que logo contaria a verdade.

    É perceptível o quão desconfortável essa situação se torna quando Harper cada vez mais evita contato com Abby e a deixa sozinha por muitas vezes lidando com pessoas que a jovem não conhece. O objetivo de não parecer um casal é muito mais simples para Harper, que desde sempre se escondeu por medo de perder o amor da família conservadora, que colocava todas as expectativas de sucesso nela, seja na vida profissional ou na amorosa.

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    Embora o mundo tenha avançado bastante em discussões a respeito da comunidade LGBTQ+, a homossexualidade como característica negativa continua sendo um senso comum na sociedade, e ser lésbica representa um dos piores cenários que os pais de Harper poderiam imaginar para as três filhas do casal. O medo de Harper em se assumir para a família é justificável, assim como o de qualquer pessoa LGBTQ+ que ainda não tenha a sexualidade revelada. É notório que a personagem de Mackenzie Davis não odeia a si mesma enquanto lésbica. O que a amedronta não é se apaixonar por mulheres, mas todas as perdas que se consolidam com tal afirmação.

    O ato de se assumir é libertador, mas deixa estilhaços dolorosos para quem o faz, seja opressão e ameaças no ambiente externo ou uma das piores violências possíveis, que é quando acontece dentro da própria casa, de forma física ou psicológica. Infelizmente, como consequência, é muito comum que pais passem a agredir, humilhar e desprezar seus filhos por causa de suas sexualidades, tratando a situação como uma escolha que pode ser revertida por meios perversos. E por ser a família o laço afetivo mais forte e duradouro, a rejeição tende a ser mais difícil de lidar. Nem todos têm pais amorosos e compreensivos como os de Abby, e é justamente por prever uma reação negativa dos pais — que demonstraram preconceitos inúmeras vezes, que Harper se esconde.

    O que diz Clea DuVall?

    Em entrevista, a cineasta Clea DuVall, que também é lésbica, contou que já esteve nas duas posições incômodas vividas tanto por Harper, quanto por Abby: “Sou uma grande fã de filmes de Natal, mas nunca vi minha experiência representada. Depois de A Intervenção, quando comecei a pensar sobre o que eu queria fazer a seguir, este filme parecia uma grande oportunidade de contar uma história universal de uma nova perspectiva. Tive essa ideia que se baseava em minhas próprias experiências de ir para casa com outras pessoas e ser o "amigo" ou pedir às pessoas para serem "amigos". Eu definitivamente estive em todos os lados disso.”

    A diretora imprimiu sua realidade e a de muitas outras mulheres lésbicas em Happiest Season, tornando a experiência ainda mais íntima para quem assistiu e já passou por situações semelhantes. Por mais incômodo e doloroso que alguns desdobramentos do enredo tenham sido apresentados, o retrato de Harper e Abby fazem parte do que há de mais real na vida de quem é membro da comunidade LGBTQ+.

    Justiça à Abby e Riley

    Harper não deve ser criticada pelo seu medo de perder o amor da família ao se revelar lésbica, mas por muitas outras escolhas que fez sem pensar na forma em que afetaria a namorada Abby, e também, a ex Riley, interpretada por Aubrey Plaza, com quem muito errou no passado.

    Abby chega na casa da família e é tratada com desdém, sendo constantemente relembrada de que é órfã, acusada de roubo e ignorada na maior parte do tempo — inclusive pela própria Harper. Considerando que a personagem de Kristen Stewart sequer queria aceitar o convite de passar o natal na casa da namorada, a jovem ainda se esforçou de todas as formas possíveis para ser bem vista por amigos e familiares, além de ter ido contra à própria identidade em consideração à amada.

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    Harper, que tanto insistiu pela presença de Abby, falhou muitas vezes ao não defender a namorada de todos os ataques sofridos, piadas de mal gosto, e por tê-la deixado de lado em meio a tantas pessoas desconhecidas. É desconfortável assistir Abby tendo que fingir não ser lésbica, abrindo mão de suas vontades para agradar a quem pouco se esforçava para deixá-la feliz naquele ambiente. Tudo isso poderia ser evitado se Harper tivesse se posicionado, afinal, já que estava sendo uma péssima namorada, poderia ter fingido ser ao menos uma boa amiga para Abby.

    Quanto a sua história com Riley, esta foi um dos erros mais absurdos de Harper. Além de expor e fazer com que a ex namorada se assumisse de forma indesejada, ainda a deixou de lado lidando com todas as consequências de suas atitudes. Quando Riley e Abby se aproximam, é uma conexão muito genuína que faz bem as duas, já que ambas pagaram o preço dos erros de Harper.

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    Apesar dos erros, Harper não é tóxica pelo seu medo em se assumir lésbica, mas por algumas atitudes desnecessárias que teve com pessoas que a amavam. Grande parte dos estragos não teriam sido causados se, além de uma boa companheira, também fosse mais responsável e consciente com os sentimentos alheios. Para pessoas LGBTQ+, é muito fácil se imaginar e sentir empatia pela situação da duas namoradas. Assim como é doloroso estar na posição da Harper, também é estar na pele de Abby, que poderia ter sido tratada de forma mais justa e gentil sem necessariamente levantar suspeitas sobre a sexualidade não-revelada da companheira.

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