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    Governo Bolsonaro vai bancar filme com Sharon Stone e musical na Broadway sobre o Brasil

    Além de uma história em quadrinhos do Mickey.

    Axelle/Bauer-Griffin/FilmMagic

    Sharon Stone, atriz conhecida por fazer sucesso nos anos 90 com Instinto Selvagem e Cassino, vai estrelar o filme brasileiro, Além do Paraíso. Gravado nas praias do nordeste, o longa-metragem acompanhará a história de uma arqueóloga em busca do tesouro de Constantino, imperador romano que autorizou a prática do cristianismo, cuja riqueza estaria escondida no Brasil. A informação é do Jornal O Globo.

    A produção faz parte da iniciativa da Embratur, transformada em agência pelo presidente Jair Bolsonaro, que aumentou o orçamento do Instituto Brasileiro de Turismo de US$ 8 milhões para US$ 120 milhões. O planejamento estratégico formulado pelo presidente da agência, Gilson Machado, e sua equipe, tem como um dos principais focos o patrocínio de filmes, tanto ficcionais quanto documentários. Foi divulgado que a agência vai apoiar pelo menos sete produções, sendo duas delas sobre Amazônia.

    O documento oficial detalha que, além do filme protagonizado por Stone — que tem objetivo de dar "visibilidade a vários destinos da costa do Nordeste, por conta do impacto do filme em nível global" — será produzida uma animação infantil que "abordará os aspectos que tornam a Amazônia um destino turístico" e ainda terá a função de "combater as falsas histórias que são compartilhadas na imprensa mundial".

    Além dos filmes, a agência pretende patrocinar um musical na Broadway, buscando "relatar a história da música do Brasil, contornando todos os movimentos musicais e culturais". Entre diversos roteiros apresentados, o que mais chamou a atenção da cúpula da Embratur foi uma história com a cantora Carmen Miranda, que teria tido o corpo "congelado" e "descongelado" nos dias de hoje, narrando a história da música brasileira.

    A Embratur ainda prevê roteiros alinhados com o governo Bolsonaro, com foco em atrações turísticas judaicas e militares e patrocínio de filmes e livros sobre a história de judeus no Brasil, além de "versões impressas e digitais para promover os grandes ícones militares do país, como fortes, locais de batalhas, museus e quartéis ao segmento do público militar".

    "Vamos mostrar o Brasil que deu certo, tanto nos filmes quanto nos roteiros", afirmou Gilson Machado. "Não vamos mostrar tráfico, violência, favela essas coisas que vinham sendo exportadas. A gente quer mostrar o que é bom. Não podemos vender as mazelas do Brasil, isso temos que resolver internamente".

    O plano também prevê a elaboração de histórias em quadrinhos dos personagens da Disney, Mickey e da Minnie, em uma aventura por estados brasileiros, com o objetivo de gerar curiosidade de crianças e "estimulá-las a convencer os seus pais a visitarem o Brasil". Vale notar que nos anos 30 foi criado pela Disney o Zé Carioca, personagem das animações Alô, Amigos e Você Já Foi à Bahia?, que encarnava a personalidade carioca em uma animado papagaio — na época com o objetivo de estreitar as relações entre os Estados Unidos e os países da América do Sul durante a Segunda Guerra Mundial.

    Walt Disney Animation Studios

    Segundo especialistas, o projeto tem um viés ideológico ligado ao governo e não representa a diversidade do Brasil, tanto em religiões quanto ao público LGBT. "Esse plano restringe a interpretação da diversidade do Brasil. O turismo não precisa reproduzir a versão oficial e vender o viés de que é o Brasil judaico e militar. E os outros grupos que fazem parte da nossa formação? Não tem como justificar essa seletividade", afirmou a professora de patrimônio cultural e políticas públicas do curso de Turismo e da pós-graduação em museologia da USP Clarissa Gagliardi, ao Jornal O Globo. "Atrelar (o país) à imagem de artistas e produções de cinema estrangeiros não agrega nada. Só faria sentido usarmos o Mickey, se tivéssemos a Disney", completou o professor do curso de turismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Francisco Barbosa do Nascimento Filho.

    De acordo com Osvaldo Matos, diretor de marketing da Embratur, Além do Paraíso está em fase de pré-produção e deve começar a ser filmado no primeiro semestre deste ano. Ainda não há previsão para os demais projetos.

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