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    A Odisseia dos Tontos: Diretor e produtor falam sobre a importância da presença do humor em uma história trágica (Entrevista exclusiva)

    Filme argentino marca a primeira vez em que o astro Ricardo Darín trabalha ao lado de seu filho, Chino.

    Representante argentino para o Oscar 2020 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, A Odisseia dos Tontos, dirigido por Sebastián Borensztein, é uma fábula divertida que ao mesmo tempo toca em temas espinhosos. A opressão dos poderosos perante aos mais fragilizados (especialmente financeiramente falando) dita o tom da narrativa, mas também há bastante espaço para uma divertida dinâmica em grupo.

    Protagonizado por Ricardo Darín (O Segredo dos seus Olhos, Um Conto Chinês), esta dramédia acompanha o inusitado plano de um grupo de "tontos" que querem reaver uma grande quantia de dinheiro roubada pelo banco de sua cidade, logo que a crise econômica chamada Corralito predominou na Argentina em 2001.

    O filme ganhou exibições durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e tem estreia marcada para dia 31 de outubro. O AdoroCinema entrevistou Borensztein e o produtor Federico Posternak durante uma visita ao Brasil; confira abaixo!

    AC: O filme traça um paralelo muito próximo com aqueles que sofrem não apenas com bancos, mas com instituições e tantos outras razões. Como vocês acham que o filme conversa com essas pessoas?

    Federico Posternak: A Odisseia dos Tontos faz uma espécie de justiça poética cinematográfica, e isso dá possibilidade de fazer uma catarse. Ao fim da história também damos certa esperança às pessoas. Isso é um jeito de existir a conversa entre filme e público.

    Sebastián Borensztein: Quem assiste ao filme se sente representado. Nas diversas sessões que já vimos junto do público, às vezes as reações mais se parecem como num jogo de futebol. Pessoas torcendo, gritando... Eu acho que isso acontece por conta da conexão que as personagens possuem com inúmeras vidas realísticas, que passam ou passaram por estes problemas que vemos na tela.

    AC: Vocês acham que é apenas por conta da escolha do elenco que isso acontece?

    Federico Posternak: É uma junção de tudo. A empatia que a história traz ao público, com as características dos personagens e, finalmente, com o elenco escolhido. É um pacote.

    AC: Essa é a primeira vez que Ricardo Darín trabalhou com o filho Chino. Como foi a dinâmica no set?

    Sebastián Borensztein: Foi muito boa. Começamos a trabalhar com eles desde o início da adaptação, então quando chegamos ao set já tínhamos dois anos de preparação, de todo o trabalho em conjunto até adaptarmos o livro totalmente, passarmos pela pré-produção, ensaios... Na fase de filmar eles já eram quase que uma máquina. É muito lindo vê-los juntos trabalhando. É uma família fazendo algo distinto, vivendo uma experiência que engrandece a relação entre pai e filho, e foi incrível ver tudo isso. Chino Darín aprendeu muito com ele, mesmo que ao mesmo tempo houvesse uma pressão grande até mesmo para ele em ficar à frente de Ricardo Darín, o ator, e não o pai.

    AC: O filme possui um tom de fábula. Essa foi uma escolha criativa ou já existia no livro?

    Federico Posternak: O tom mais leve não está no livro. Nós decidimos que essa história tinha de ser contada com os pés a uns 10cm acima do chão o tempo todo. Primeiro porque, na realidade, isso não acontece com "tontos" como esses que protagonizam o filme. Eles não são capazes de vencer os opressores o tempo todo. Há certa ingenuidade e muita simplicidade no que envolve o plano, mas tudo é representativo, simbólico. Respeitamos a história e seus personagens, mas a estrutura do filme é completamente diferente do livro. Contamos tudo desde o começo, suas intenções e planos com outro ponto de vista... E a incógnita é como tudo dará certo - se der certo. Além disso, nosso conceito de trabalho foi a de que aqui temos uma luta entre os tontos e os malvados, e isso nos guiou durante todo o projeto. 

    AC: Sobre a briga de classes que dita o ritmo do filme, há uma certa nuance entre drama e comédia...

    Federico Posternak: Sim, isso é bem demarcado. Nós não nos apoiamos no humor do livro. Ao invés disso, potencializamos muito o leve humor que existia nas páginas e o colocamos no filme em locais que ele não existia. Achamos que era o melhor jeito de contar uma história tão trágica. Muitos elementos do livro são realmente bonitos de serem lidos, mas não aproximam o espectador de uma realidade que é importante de ser discutida.

    AC: As personagens femininas têm uma importância forte no plano, mesmo que não apareçam em todas as cenas.

    Federico Posternak: A ideia de criar a cooperativa é de Lidia (Verónica Llinás), mas isso não existe no livro. Como algo muito grave acontece com ela logo no início, foi uma forma de que ela faça parte da história o tempo inteiro. Além disso, modificamos a personagem Carmen (Rita Cortese), chefe da empresa de transporte que participa do plano de reaver o dinheiro (e que no livro era um homem) pela questão da relação entre ela, que é mãe, com seu filho, o que é mais interessante para nós - até pelo fato de que já temos pai e filho (personagens de Chino e Ricardo Darín) tendo de lidar um com outro.

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