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    Hebe: "Se fosse contar a história do Felipe Neto, falaria sobre o momento atual", afirma roteirista (Entrevista exclusiva)

    Batemos um papo com a roteirista Carolina Kotscho e o diretor Maurício Farias.

     A vida de Hebe Camargo é tão grandiosa que poderia dar um filme. E, neste caso, deu mesmo. Sob direção de Maurício Farias e com roteiro de Carolina KotschoHebe - A Estrela do Brasil chegou aos cinemas de todo o Brasil na última quinta-feira, estrelado por Andréa Beltrão e com elenco formado por Danton Mello, Marco RiccaDaniel Boaventura e Stella Miranda. O AdoroCinema bateu um papo exclusivo com o diretor e a roteirista sobre o desenvolvimento do projeto, seus desdobramentos políticos e o que mais está por vir no “universo estendido da Hebe” — ou seja, a série que ainda está por vir e chegará às telinhas em 2020.

    Sobre o período escolhido

    “Fazer uma biografia não é falar o que aconteceu na vida de uma pessoa famosa. A gente propõe uma reflexão, e esse é o período de maior transformação na vida da Hebe”, afirma Kotscho. “Nós propusemos um diálogo que eu acho ser muito importante para o que vivemos hoje, embora ele tenha sido pensado em um contexto diferente do atual. Ele ganhou um outro significado que diz muito sobre a Hebe, sobre a importância que ela teve e sobre o motivo por que ela passou tanto tempo em frente às câmeras.”

    Sobre o filme e sobre a série

    “Quando a Carol fez o roteiro do filme, ela fez a partir do roteiro da série. Uma coisa que normalmente não é comum. Geralmente, é o contrário: faz-se o roteiro do filme e, a partir dele, é desenvolvida a série; a Carol buscou o caminho contrário [...] Quando fizemos o filme, sabíamos que aquelas cenas estavam encaixadas nos episódios da série, e isso nos libertou de uma preocupação a respeito de termos um tempo menor —  que existe quando estamos fazendo apenas um filme”, conta o diretor.

    “O filme é uma síntese, neste caso uma síntese de um longo tempo da vida da Hebe, e de um período muito importante para a vida dela”, completa.

    Sobre o direito de falar de política em um programa de entretenimento

    “Tudo o que fazemos — e a arte é sempre uma colocação, havendo ou não consciência do que está sendo feito — tem um posicionamento. Este recorte que a Carol fez da vida da Hebe a coloca em um ponto em que ela questiona exatamente isso, quando ela quer trazer para o seu programa assuntos que considerava muito relevantes e estava vendo fora da televisão brasileira, e que a interessavam. Foi quando ela percebeu que ela realmente precisava ir nessa direção”, conta Farias.

    “É o momento em que ela toma consciência da responsabilidade e do poder que vêm com o fato de ser uma mulher com o microfone na mão”, completa a roteirista. “A consciência dela vem da relação que ela tinha com o público, ela dizia que precisava olhar para a câmera e saber que estava falando com alguém.”

    O papel dos formadores de opinião nos rumos políticos do país

    “Acho que a Hebe é a prova de que defender o que é certo não é uma questão ideológica, é uma questão de caráter”, conta Kotscho. “Ela podia defender o Maluf, mas o princípio da liberdade é uma coisa que ela não admitia que se cruzasse. O resto é imprevisível. Ela era uma pessoa progressista nos costumes e conservadora na política, mas não é uma questão de política, de direita ou de esquerda. Ela tinha princípio e valores e, em relação a isso, ela sempre foi muito coerente e se posicionou desta forma a vida toda.”

    “O formador de opinião, hoje em dia, é uma figura muito importante”, afirma Farias. “Isso é um fato, e não é muito diferente do que sempre foi. A questão é que os amplificadores ficaram muito maiores em alguns casos. Acima de tudo, precisamos, neste momento — no mundo e no Brasil — de uma reflexão sobre o que é uma vida em sociedade, num regime democrático, em que todas as pessoas estão incluídas. Há uma intolerância muito grande neste momento, e essas pessoas intolerantes, não afeitas ao diálogo, são contrárias ao espírito de agregação, democracia e de uma vida melhor para todos. Esses princípios são maiores que qualquer ideologia. Uma ideologia que impede que pessoas sejam contra um regime é algo que eu espero que não precisemos viver nunca mais.”

    “Acho que existe um paralelo que pode ser feito”, segue a roteirista. “Se eu fosse contar a história do Felipe Neto, eu escolheria falar sobre o Felipe Neto de hoje, porque eu acho que é sobre essa tomada de consciência do lugar do formador de opinião. É alguém que até ontem era um menino e que percebeu que fala com 34 milhões de pessoas. E ele se posicionou, e foi brutalmente atacado. E que escolha você faz em um momento desse? Falando de dramaturgia, falamos de escolhas.”

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