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    Festival de Vitória 2019: "Eu me sinto uma bandida", afirma Vera Fischer sobre tratamento à classe artística no governo Bolsonaro

    Em conversa com a imprensa, atriz relembrou os destaques de sua carreira no cinema e falou sobre a relação com Xuxa Meneghel.

    Levi Mori/Divulgação

    Grande homenageada da 26ª edição do Festival de Cinema de Vitória, a atriz Vera Fischer chegou à capital capixaba pronta para relembrar sua carreira nas telonas. Bem humorada e sem papas na língua, Fischer falou sobre a proibição na Justiça da comercialização do filme Amor Estranho Amor (1982), das dificuldades da classe artística no governo Bolsonaro e de seu novo projeto no cinema, Quase Alguém, programado para ser filmado no primeiro semestre de 2020.

    O último trabalho na filmografia de Fischer é de 2002, com Xuxa e os Duendes 2 - Nos Caminhos das Fadas, mas, antes disso, a atriz chamou a atenção da crítica e do público em diversos títulos, como Intimidade (1975), pelo qual venceu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte; Amor Estranho Amor (1982), que rendeu a ela o candango de melhor atriz, no Festival de Brasília; e Navalha na Carne, filme em que foi dirigida por Neville d'Almeida. Agora, ela foi agraciada com um Troféu Vitória por sua contribuição ao audiovisual.

    Justamente por se tratar de um destaque na filmografia da artista, Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri, foi um dos tópicos de maior repercussão durante a conversa com os jornalistas. Ao falar sobre suas percepções acerca da batalha judicial movida por Xuxa, que impediu a circulação do filme em mídias comerciais, Fischer revelou uma mágoa com a colega de elenco.

    “Pelo fato de o filme ter atores muito importantes no elenco, não só eu, mas Tarcísio Meira, Íris BruzziMauro Mendonça e outros, achei [a atitude] um desrespeito a esses profissionais. Eu recebi um outro prêmio por esse papel, o Air France, que na época era o prêmio mais forte da categoria. Então, eu fiquei muito chateada, porque eu queria que o Brasil visse meu trabalho nesse filme”, disse a atriz.

    Faltando alguns meses para o início das filmagens do longa-metragem Quase Alguém, de Daniel Ghivelder, Fischer confessou que seu afastamento do cinema se deu, em grande parte, porque não foi convidada para projetos que a interessavam. 

    “Em todas as áreas, existem grupos. Tem a turminha do filme, outra da televisão e outra do teatro. Eu sempre fui muito livre, eu nunca tive grupos. Então, acabei ficando fora do cinema esse tempo todo. Até recebi alguns convites, mas eram coisas que não iam me acrescentar em nada. O cinema brasileiro teve uma época que ficou muito masculina. Já nesse novo projeto, a história fala muito de mulher, então, para mim, esse retorno é uma grande emoção”, revelou. 

    Em tom de desabafo, a atriz falou ainda do momento atual vivido pela classe artística brasileira. Segundo Fischer, os artistas têm sido tratados pelo governo federal como grandes vilões. 

    “O governo está com ódio de artista, como se a gente fosse o demônio. Nós somos os vilões, a arte é perniciosa. E, de fato, artista é perigoso porque pensa. É isso que eles não querem. Não é mais uma divergência entre visões de esquerda e direita, é um ódio geral contra a arte. Antigamente, existiam conversas, era possível chegar a lugar comum. Agora, não, somos apontados na rua como salafrários e ladrões. Eu me sinto uma bandida agora. Temos que resistir, nem que a gente bata de porta em porta pedindo apoio”.

    Como parte da homenagem à Vera Fischer, o Festival de Vitória publicou um livro exclusivo sobre sua carreira. Na noite de quinta-feira (26), no Teatro Glória, a atriz foi recebida no palco por Catarina Abdalla e George Israel, que entregaram a ela o troféu Vitória. Na ocasião, o músico também fez uma apresentação surpresa no saxofone e, em seguida, tocou no violão uma canção escrita especialmente para ela.

    “Vera Fischer eterna musa do teatro, da TV e do cinema”.

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