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    Kati Critica: Star Wars, meninas poderosas e boys magia

    Eu quero um BB-8 para chamar de meu, mas sou um K-2SO nessa vida!

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    Cada um de nós tem uma cultura inútil. E, nem sempre valorizamos como a família tem peso nessa composição tão importante de conhecimento. Afinal, todo mundo tem aquele filme que costumava ver ao lado dos pais, avós, irmãos e/ou primos. Só que o interessante mesmo é crescer e descobrir como os clássicos da sua casa não são, necessariamente, os clássicos da sociedade. Ninguém tem noção da minha decepção ao saber que Tudo para Ficar com Ele não é uma das comédias mais aclamadas da história... 

    Enfim, alguns cresceram com pais nerds que o apresentaram ao mundo de Star Wars. Por outro lado, lembro de mamãe me apresentando a filmografia do John Travolta, enquanto meu pai gravava cada edição do Oscar na fita cassete (a geração Billie Eilish que não entende o que estou falando, pode procurar no Google, de nada). Só fui ver a obra de George Lucas por causa do emprego que me permite escrever esta coluna hoje. Até sabia o básico, principalmente por crescer vendo séries e filmes norte-americanos. Eu conhecia o penteado da Leia (Carrie Fisher), sabia que Darth Vader (James Earl Jones) era o moço todo de preto com um aspirador de pó na garganta, e que ele era pai de um tal de Luke (Mark Hamill). 

    Então, imagine a surpresa ao me ver super animada com os trailers de The MandalorianA Ascensão Skywalker na recente edição da D23. Nessa nova posição que me encontro como padawan de fã de Star Wars, utilizarei essa coluna para analisar os diversos projetos desta franquia, com as questões que realmente importam nessa bagaça. Já deixo claro que sou aprendiz mesmo, pois tenho consciência de minha insignificância nesse fandom. Nunca li livros ou graphic novels, me perco com as séries animadas (só sei que o Freddie Prinze Jr. dubla uma) e, literalmente, perguntei para minha querida parceira de redação Vitória Pratini se tinha alguma coisa errada nesse texto. Então, se vocês querem uma linha do tempo explicativa e informativa, este não é seu lugar. Ela fez uma — veja aqui!

    Para já colocá-los no clima, basta explicar como as notas não serão simples números. Será uma escala de Poes Dameron (Oscar Isaac), pois aqui sabemos aproveitar o que há de bom nessa vida. 

    TRILOGIA ORIGINAL

    Para começar, fiquem tranquilos que não estou aqui para falar mal de uma trilogia clássica da ficção científica. Se eu acho a última bolacha do pacote? Não, mas compreendo sua importância no cinema, então não venham me xingar depois. Por exemplo, sei que a reviravolta do Darth Vader sendo pai do Luke em O Império Contra-Ataca foi legal, principalmente sendo pioneira na época. Mas isso é regra básica de qualquer novela mexicana, sabe? Se Thalia ou Maite Perroni sempre são as filhas perdidas de algum velho rico, o mesmo conceito se aplica aqui. Só que ao invés de dinheiro, é a Força.

    E por mais que R2-D2 seja, basicamente, o canivete suíço em formato de androide preferido de todo mundo, eu me identifico mesmo é com um ser pessimista, pragmático e que não sabe calar a boca como C-3PO (Anthony Daniels). Se essa aventura acontecesse comigo, eu ia ser a pessoa que ficaria reclamando por horas a fio, achando que vai morrer. Já faço isso se pego ônibus a noite no Rio de Janeiro, imagina numa guerra espacial?

    Obviamente, também nem preciso explicar como a saudosa Carrie Fisher foi um símbolo de empoderamento feminino num gênero tão dominado pelos homens — dentro e fora das telas.

    Vocês falam que Luke é o herói e tal, mas quem teve a ideia de mandar os robôs para Obi-Wan (Alec Guinness) foi Leia. Ou seja, uma mulher deu o pontapé dessa história toda que vocês amam, beijos para os machistas. Ao longo da franquia toda, ela é vista planejando estratégias políticas e de guerra, consertando naves e atirando nos inimigos sempre que tem chance. Até quando é obrigada a ficar naquela roupa de escrava sexista bem babaca, usa a corrente para esganar aquela geleia gigante que vocês chamam de Jabba the Hutt.

    Sem falar que é Leia quem faz amizade com os Ewoks que, aparentemente, são os ursinhos de pelúcia mais mortais do universo, principalmente perto de Stormtroopers que não sabem mirar. Se o Chewbacca tivesse encontrado os Ewoks primeiro em O Retorno de Jedi, tinha os comido, fícaríamos sem apoio e o Império ia ganhar.

    Ao mesmo tempo, também não serei hipócrita e dizer que foi o pioneirismo de Star Wars que chamou minha atenção inicial. A resposta do que amei surge em duas palavras: Han e Solo. Foi impossível não ter uma crush forte pelo Harrison Ford com 30 anos de atraso (sim, minha família também falhou em apresentar a franquia Indiana Jones). Bad boy sarcástico que, na realidade, é do time dos bonzinhos? Só faltou usar uma jaqueta de couro preta para ser galã de filme teen! O emprego dele não é muito instável, mas tem uma nave própria. Sem falar no seu leal parceiro Chewbacca, praticamente uma mistura de cachorro fofo com guarda-costas, logo tudo que preciso nessa vida.

    Resultado? Guerra nas Estrelas e O Império Contra-Ataca são ótimos em construir um mundo de fantasia, sendo seguidos por um Retorno de Jedi que quase desperdiça Leia, resolvendo tudo com Ursinhos Carinhosos e jogando o vilão num poço como se fosse a Samara de O Chamado. Porém, sou uma trouxa por finais felizes, logo a nota é:

    TRILOGIA PRELÚDIO

    Lembra como eu falei que não ia zoar a trilogia original? É, esse respeito não vai aparecer aqui com os prequels. Bendita seja a pessoa que me recomendou seguir a ordem dos filmes por sua data de produção, e não pela cronologia da história Skywalker, porque né... Eu sei que tem uns fãs apaixonados que defendem os prelúdios, mas assim fica difícil de ajudar, amigo. 

    Natalie Portman até tenta salvar, mas é uma bagunça. Um terço é basicamente Velozes & Furiosos no espaço estrelado por uma criança. Outra parte é uma analogia egocêntrica que transforma Anakin (Jake Lloyd) em Jesus — sendo que livros recentes explicam que foi o Palpatine (Ian McDiarmid) que manipulou os midi-chlorians, ou seja, a mãe dele, basicamente, foi a Jane the Virgin de Tatooine. E outro terço é um stand-up de Jar Jar Binks, o que nem irei me aprofundar, pois não sou obrigada. 

    Sendo advogada do diabo, a batalha final de A Ameaça Fantasma é até legal, mas um quarto da treta é resolvida por acidente, com um pivete dentro de uma nave. "Ah, Kati, é a Força!" Tudo tem limite nessa vida, meus amigos. Se abrirmos essa porta, a Matilda tem a Força, como já diria uma grande amiga minha.

    Até a ousadia do sabre de luz duplo do Darth Maul fica estragado pela ganância humana, quando General Grievous tira uns quatro sabres ao mesmo tempo, dois filmes depois, contra o Obi-Wan (Ewan McGregor). Nem sempre mais é melhor, ok? Aliás, pobre Ewan McGregor... Ele até traz algo de bom para Ataque dos Clones e A Vingança do Sith, além de cumprir a cota boy magia que acalenta nossa visão de cada dia. Mas é jogado para escanteio, a fim de darem destaque para o pior ship que já vi na vida. 

    Olha, eu assisti novelas mexicanas, séries da CW e comédias românticas machistas ao longo dos 26 anos de minha vida. Eu estou acostumada com ship ruim, mas Star Wars se esforça com Anakin (Hayden Christensen) e Padmé (Portman) hein? Para começar, é estranho que um deles seja criança quando eles se conhecem. Não me entenda errado, nada contra mulheres mais velhas namorando homens mais novos. Só que o garoto cresce para se tornar um adolescente tarado e cheio de hormônios; e porque diabos uma poderosa ex-rainha/senadora de respeito ia querer ficar com um embuste egocêntrico — QUE MATOU CRIANÇAS EM DOIS FILMES DISTINTOS? Se eu não apoio esse tipo de relacionamento bizarro em filmes teen bobos como After, não vai ser aqui, numa franquia bilionária, que eu vou ficar de boas.

    Ps: Reparem como nem usei a cena da areia como argumento para não ficar fácil demais.

    Aliás, você sabe que há algo de errado numa trilogia quando o melhor filme do grupo é onde o Samuel L. Jackson e vários outros Jedis (que deveriam ser basicamente Superman do espaço) são derrotados que nem moscas; a personagem bad ass feminina fica num canto chorando e olhando para paisagens durante a trama toda; e a batalha final é definida sobre quem está no alto. Tendo dito isso, é clara a inspiração desse filme num dos melhores games da internet, "O Chão é Lava", então deixo passar.

    E essa parte da saga nem tem novos robôs, só reaproveita antigos, gastando todo o GCI no Yoda. Logo, hoje não, Faro!

    Tomara que a nova série do Ewan McGregor seja boa, pois o mino merece. Pausa para relembrar dele cantando "Your Song" em Moulin Rouge para me acalmar:

    TRILOGIA NOVA

    Quando tentam defender a trilogia prelúdio, sempre falam que, pelo menos, ela tentou criar algo; ao contrário da atual, que se apoia em nostalgia. O que é verdade. Porém, O Despertar da Força traz várias coisas diferentes nessa bagaça. Para começar, a Rey (Daisy Ridley) é a protagonista do trio. E vamos começar logo falando sobre esses haters que a chamam de Mary Sue.

    Para quem não conhece, esse é um termo usado quando uma personagem feminina é perfeita e consegue fazer tudo, de forma irrealista. Sabe porque ela consegue se virar? Por que ela é uma mulher! Nessa sociedade, nós não temos outra opção que não seja resolver qualquer pepino que surge em nossa frente. Citando uma maravilhosa canção da versão musical de Meninas Malvadas: "Isso é o feminismo moderno, as pessoas esperam que eu domine o mundo em sapatos nos quais não consigo nem andar!" Rey ainda tem vantagem de usar botas. Mesmo assim, é na areia, o que não é legal.

    Segundo, o outro protagonista é um stormtrooper arrependido, que busca algo melhor, depois de ter se ferrado a vida toda. Ou seja, gente como a gente. E Finn (John Boyega) se enfia nas batalhas, mesmo tendo vontade de fugir o tempo todo. Ou seja, ainda mais gente como gente. Já o terceiro protagonista é PoeDameron. Ah, Poe... Ele emana o charme e ousadia de Han Solo, mas numa versão mais zoeira e impulsiva, ainda heroico, líder da p*rra toda. Se Han Solo sai atirando ao encontrar Darth Vader em Cloud City em O Império Contra-Ataca; o comandante zoa o Kylo Ren (Adam Driver) na cara dele, enquanto está sendo capturado e torturado. Amo quem ri do perigo. 

    Talvez meu amor por Poe seja porque ele é interpretado por Oscar Isaac, também conhecido como um dos atores mais cheios de empatia do mundo, cujo único filme onde não é charmoso é X-Men: Apocalipse, pois ele está desperdiçado embaixo de um cosplay de vilão de Power Rangers? Provavelmente. Mas isso não anula meus argumentos. Se eu também sou uma trouxa, que sonha em ver a Disney sendo ousada e fazendo o ship Stormpilot (Finn + Poe) sendo realidade? Sim, por isso apoio fanfics.

    E mamilos polêmicos a parte, Kylo Ren é um vilão interessante demais. Os fãs conservadores podem não ter gostado como Luke foi culpado na criação dele...

    E, como alguém que shippa Leia e Han, sofri quando o fruto desse casal mata o próprio pai. Mas ele não é puro ódio. Apoiado na atuação boa do Adam Driver (que também tem seus charmes de galã feio, bom ressaltar), é um personagem desenvolvido, tem seus próprios conceitos e apresenta muito mais camadas do que o próprio avô teve em 3 filmes, apesar de carregar um estereótipo emo que o cerca. E eu amo esse perfil no Twitter

    O carisma desses personagens é tanto que você até supera Os Últimos Jedi, onde dois terços de narrativa são inúteis e não aconteceriam se a Laura Dern de cabelo roxo compartilhasse o plano para os amiguinhos. Por um lado, ver Luke quase mamando leite verde na teta de um bicho estranho me traumatizou para o resto da vida; mas a cena da treta de Rey e Kylo contra os guerreiros do Snoke (Andy Serkis) é boa demais.

    Sem falar que a ideia de qualquer um poder ser Jedi, não somente os parentes de um Skywalker, é o mesmo tipo de esperança que os fãs de Harry Potter têm quando esperam uma carta de Hogwarts. E se alguém falar mal de Rose (Kelly Marie Tran) no meu expediente, vai apanhar! Na escala de Poes Dameron de alegria:

    Por favor, A Ascensão Skywalker, não me decepcione. Mas só de ter Rey dando uns saltos boladona e Poe vestido de cosplay de Mad Max já me faz feliz na vida. Ps: essa trilogia nova trouxe BB-8. Precisa dizer mais?

    SPIN-OFFS

    Sobre Rogue One... É fan service? É, mas não ofende! Jyn (Felicity Jones) não foge da briga, mesmo sendo baixinha, o que resume como sobrevivi ao bullying dos tempos de escola. Chirrut (Donnie Yen) faz piada no meio das brigas — e representa toda essa fé ao redor da Força, a qual eu não ligo, particularmente, mas para os fãs é legal.

    E K-2SO (Alan Tudyk) é um dos melhores robôs que já vi no cinema, cheio de sarcasmo e sendo babaca na cara da sociedade, de forma maravilhosa, apesar de eu ter ficado chateada que copiaram como trato minhas amizades, sem minha autorização. Logo não é a toa que estou animada para ele voltar na série do Cassian Andor

    Han Solo - Uma História Star Wars... Eu não vi, pois a vida é muito curta. Mas já sei que as melhores coisas são o Lando de Donald Glover (pois, é o Donald Glover!) e a androide interpretada pela genia Phoebe Waller-Bridge (essa mulher criou Fleabag, ganhou minha confiança para o resto da vida. Ainda mais se ela salvar a franquia 007, como está prometendo!). Isso é o bastante para me fazer dormir a noite. 

    Então, a notinha vai para Rogue One mesmo! Se o roteiro é bem qualquer coisa, como reclamarei de um filme que dá papéis de destaque para boys magia como Diego Luna e Riz Ahmed? Parabéns Lucasfilm, nunca critiquei.

    Moral da história: Oscar Isaac na trilogia nova, Diego Luna em Rogue One, Pedro Pascal em The Mandalorian. Continuem escalando homens latinos bonitos e talentosos em Star Wars. Obrigada, de nada.

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