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    Festival de Gramado 2019: Cinebiografia de Brizola resgata luta bem-sucedida contra golpe militar

    Antes de 1964.

    Exibido fora de competição na noite deste domingo no Palácio dos Festivais, Legalidade é daqueles filmes tipicamente gaúchos que têm muito a dizer ao Brasil, ao menos em relação ao contexto histórico. Afinal de contas, o novo longa-metragem do diretor Zeca Brito resgata a história do movimento que dá nome ao filme, liderado por Leonel Brizola quando ainda era governador do Rio Grande do Sul, na tentativa de garantir a posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros.

    Impulsionado por inflamados discursos transmitidos via rádio, o Legalidade aos poucos ganhou fôlego junto à população, que iniciou um levante contra os interesses do Exército nacional em depor Jango, devido aos seus ideais de esquerda. Por 14 dias, Brizola e aliados se aquartelaram no Palácio Piratini, sede do governo do estado, à espera do vice-presidente, que estava em visita diplomática à China. Isto em 1961, três anos antes do fatídico golpe militar que enfim derrubou João Goulart.

    Na coletiva sobre o longa-metragem realizada na manhã desta segunda-feira, muito se falou sobre a importância em resgatar histórias do Brasil que nem sempre são contadas nos livros de História. "Meu pai sempre disse que ninguém havia contado no cinema a grande história do Legalidade. Achava estranho, como uma grande história não está em livro algum? Ou, se está nos livros, por que eles não chegam às salas de aula?", questionou o diretor. "Algumas Histórias no Brasil são as memórias familiares que preservam, elas não são abraçadas pela historiografia oficial, ainda. Às vezes porque o período histórico é demonizado, visto como algo perigoso, mas isto não quer dizer que não possa ser tida como legítima, como história."

    Zeca Brito revelou que, desde a infância, conviveu com os feitos de Brizola graças à influência de seu pai, o ator Sapiran Brito, que interpreta o político na velhice em Legalidade. "Foi um presente para mim interpretá-lo, o maior estadista do Brasil que surgiu após Getúlio Vargas!", bradou o ator. "É importante deixar claro que o filme cai muito bem na conjuntura atual, mas não foi pensado desta forma. Ele foi bolado dez anos atrás, na intenção de contar uma história. Por coincidência, cai neste momento em que caminhamos para o obscurantismo", afirmou Sapiran.

    Com orçamento de R$ 3 milhões e oito anos de captação através das leis de incentivo ao audiovisual, Legalidade é também o último filme do ator Leonardo Machadofalecido em setembro de 2018. É dele a tarefa de interpretar Leonel Brizola, papel que afirmou ser seu assim que soube da realização do longa-metragem.

    "Isso foi uma das coisas mais incríveis do filme", afirmou a produtora Luli Gerbase. "O Leo acordou na casa dele e disse à esposa que iria interpretar o Leonel Brizola. Ele tomou banho e colocou o cabelo para trás, chegou a tirar um pouco de cabelo, fez o bigodinho típico do Brizola, se vestiu como a época e foi à produtora. Lá ele disse para mim e ao Zeca [Brito]: 'nem precisa testar alguém, porque eu sou o Brizola'. Acho que ele já tinha estudado tanto o personagem que, quando chegou, já falava que nem o Brizola. Ficamos muito impactados!"

    O diretor Zeca Brito, bem-humorado, ainda levantou uma dúvida durante as filmagens, sobre ter um Brizola mais bonito que os dois galãs do elenco, Fernando Alves Pinto e José Henrique Ligabue. "Vocês viram que colocamos lente de contato marrom para esconder aqueles olhos azuis", brincou a produtora.

    Zeca ainda revelou que Cleo Pires tinha um crush por Brizola, quando bem pequena. "Minha avó era muito apaixonada pelo Brizola, no café da manhã sempre falava nele. Então o achava o máximo, lindo. Devia ter quatro ou cinco anos, na época", disse a atriz, que revelou ter entrado no projeto ainda durante as filmagens de O Tempo e o Vento, em que Zeca Brito trabalhou como assistente de direção.

    Com lançamento nos cinemas agendado para 12 de setembro, Legalidade conta ainda com Letícia SabatellaPaulo Cesar Pereio no elenco. O longa está entre os 12 candidatos à vaga brasileira ao próximo Oscar, na categoria de melhor filme estrangeiro.

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