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    Kati Critica: A vida seria melhor se fosse um musical

    Menos Bohemian Rhapsody, mais Rocketman!

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    O mês de maio foi cheio de expectativas para muitas pessoas. Noivas torciam para casar. Alguns estavam ansiosos pelos finais de Game of Thrones e The Big Bang Theory. Outros esperavam a estreia da nova novela das nove, A Dona do Pedaço. E eu desesperada pelas trilhas sonoras de Aladdin e Rocketman. Não, os filmes em si, as trilhas primeiro.

    Não sei se ficou claro anteriormente, mas sou uma pessoa obcecada por musicais. Não faço ideia do que está tocando na rádio desde 2015, porém sei cantar até os raps de Hamilton. Logo, trilhas são meus termômetros. No caso de Aladdin, foi ela que me deu coragem de ver o remake. (Me desculpem se estava com ranço, pois nenhum Gênio deveria tentar substituir o icônico Robin Williams, ok?!) Tudo mudou quando ouvi "Speechless", a canção inédita da princesa Jasmine (Naomi Scott), toda trabalhada no empoderamento feminino. Tinha que ser criação do lendário Alan Menken com Justin Paul e Benj Pasek, desde La La Land esses meninos não me decepcionam...

    E pensar que elegi Ranger Rosa como a protagonista mais chata daquele remake com a Becky G. Nunca critiquei. 

    Sobre Rocketman? Bem, eu nunca veria um filme que tivesse estragado "Your Song". Felizmente, Taron Egerton tem boa voz, além de ser bonito. Prioridades. Toda essa introdução só surge como uma justificativa só para fazer uma coluna sobre musicais, pois o gênero sofre muito preconceito pelo povo. Quando anunciaram que Vingadores: Ultimato tinha três horas de duração, ninguém desistiu de ver, mas esse mesmo pessoal reclamou de Os Miseráveis (e olha que eles nem tinham ouvido o Russell Crowe cantando ainda)!

    Sempre ouço muito como tal pessoa "não gosta de musicais". Mas o que há de errado com eles? Por exemplo, tem gente que não curte Mamma Mia. Uma história divertida, numa ilha belíssima, com diversos homens bonitos sem camisa e dançarinos profissionais, pulando ao som de hits da banda ABBA. Racionalmente, não existe nada ruim no que acabei de descrever! (E a continuação ainda tem a Cher!)

    Todo mundo gosta de música. Pode ser Beethoven ou Anitta, mas todo mundo curte algo, senão os karaokês já tinham entrado em falência. A música preenche aquele silêncio constrangedor no carro. Nos distrai quando perdemos horas no trânsito todos os dias. A faxina da casa fica mais legal ao som daquele batidão... Ou seja, se você parar e analisar, a vida seria melhor se fosse um musical!

    Eu sou daquele tipo de pessoa que faz passinhos aleatórios, no meio da rua, quando ouço certas canções no meu fone de ouvido, fazendo estranhos ao meu redor olharem de forma torta. Gosto de pensar que sou uma versão pobre da Giselle de Encantada. (Afinal, Amy Adams tem algumas similaridades comigo: somos ruivas e não temos Oscar.) Então, imagine só poder sair cantando e dançando, sem ser julgado pela falta de coordenação motora dos seus ossos? Qual é o problema de resolver as tretas numa batalha de dança tipo Amor, Sublime Amor? É melhor do que levar porrada!

    Uma vez li que musicais surgiam quando palavras não eram suficiente para traduzir tudo aquilo que você está sentindo, então os personagens precisavam entoar suas expressões em canções. Tipo, a alegria do Tom (Joseph Gordon-Levitt) depois de sair da friendzone em (500) Dias com Ela. Até os filmes não musicais ficam mais legais quando dão a louca (sim, ainda uso essa expressão, me julgue)! Quem nunca suspirou torcendo para o crush se declarar que nem Heath Ledger — popularizando "Can't Take My Eyes of You" para toda uma geração de novinhos — em 10 Coisas que Odeio em Você? Ou se perguntou que diabos Oscar Isaac estava fazendo naquela dança doida de Ex_Machina - Instinto Artificial?

    Ou não ama aqueles famosos passinhos de Tom Cruise em Negócio Arriscado, mesmo que dançar de meias seja altamente perigoso e te faça cair na sala de casa... Não que eu tenha experiência no assunto ou coisa parecida. 

    E nem vou me aprofundar no mundo da TV e recordar farofas maravilhosas como GleeSmash e Crazy Ex-Girlfriend, cujas trilhas sonoras ainda ouço até hoje. Só digo que quero mais séries musicais. Afinal, Empire virou novela exagerada até para mim, enquanto Galavant foi um flop gigante (apesar de ter umas músicas bem hilárias), pois quem achou que musical na Idade Média ia dar audiência, meu povo?

    Resumindo pra quem se perdeu até agora: musicais são vida. Tecnicamente, eles ajudaram a popularizar o cinema com som dos anos 30 até os 50, além de apresentar uma geração de pessoas talentosas que nos dão inveja até hoje, como Fred Astaire e Ginger Rogers. Sem falar em permitir a criação de obras icônicas como Cantando na Chuva, Melodia da BroadwaySinfonia de Paris ou Cinderela em Paris — também conhecidos como aquelas referências que você viu em La La Land e nem sabia. 

    Por falar no filme de Damien Chazelle, existem aqueles que acreditam como essa é uma obra superestimada. Eu não sou uma dessas pessoas.

    Porém entendo quem torceu para o belíssimo Moonlight no Oscar. E sim, alguns musicais têm problemas. Ninguém mais aguentava ouvir "Let It Go" na época de FrozenGrease é meio sexista. My Fair Lady também. A música do copo de A Escolha Perfeita fez mais vítimas do que jogar Tapão com aquele primo competitivo. Nem toda peça é bem adaptada para as telonas, vide Caminhos da FlorestaRock of Ages e O Fantasma da Ópera. Mas esse gênero tem o poder de melhorar as coisas!

    O próprio Rocketman, por exemplo, é uma forma abstrata que Elton John encontrou para tentar passar a sua visão de mundo. No meio da narrativa, até quando o Taron Egerton estava na pior, perdido entre drogas e sexos sem significado, tudo que eu conseguia pensar era invejar como ele estava num lugar bonito e cheio de figurinos lindos. Eu estou na pior todo dia, sendo pobre, e não é tão legal assim. 

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    Quando você retira esse véu cético e permite que diálogos se transformem em canções, cada um pode encontrar novas formas de contar histórias. Bob Fosse era uma pessoa horrível, mas conseguiu retratá-la de maneira genial em O Show Deve ContinuarCabaret gira ao redor de uma sociedade decadente prestes a entrar em guerra. A Noviça Rebelde também enfrenta os terrores do nazismo, numa outra vibe, é claro. Dançando no Escuro é tão cheio de sofrimento que o DVD devia vir com uma caixa de lencinhos como brinde. Isso só para citar alguns... 

    No teatro, recentemente, o gênero voltou a servir para contar as jornadas de pessoas injustamente esnobadas pela história. Lin-Manuel Miranda está em quase todas as mídias possíveis hoje por ter usado hip-hop em Hamilton, o musical sobre o membro dos pais fundadores dos Estados Unidos mais esquecido no churrasco, Alexander Hamilton. Já a febre atual do Reino Unido é Six, obra que reconta as vidas das seis esposas do rei Henry VIII como se fosse um show pop! E cada uma delas é inspirada em divas como Beyoncé, Ariana Grande, Adele, Nicki MinajAlicia Keys e Lily Allen. Isso se chama liberdade criativa. 

    Sinceramente, eu poderia escrever mais milhares de caracteres sobre o assunto, mas encerro meus argumentos com uma frase: todo mundo ama um musical. Pelo menos um. Minha geração cresceu com animações da Disney e virou adolescente com telefilmes da Disney Channel. As anteriores curtiram clássicos como Mary PoppinsO Mágico de Oz e A Fantástica Fábrica de Chocolate. Os fãs da Madonna curtem Evita. Já minha mãe gosta de qualquer filme que tenha John Travolta, então já tem alguns na listinha de favoritos. 

    Felizmente, estamos numa época abençoada pelos sucessos de ChicagoMoulin Rouge e La La Land, então os musicais estão em alta. Afinal, até The Good Place busca explicações para O Rei do Show ter feito US$ 400 milhões pelo mundo... Por sua vez, o Brasil também podia investir mais nos musicais das telonas, viu? O último original que me recordo foi Sinfonia da Necrópole, onde o nosso povo é tão maravilhoso que conseguia cantar no cemitério! Só fica uma dica para sociedade: não precisa ser TUDO jukebox, ou seja, só usar músicas já famosas pois aí é mais fácil atrair público, ok? Menos Bohemian Rhapsody e mais Apenas uma Vez, por favor! 

    Moral da história: Existe uma peça sobre uma disputa de xadrez no meio da Guerra Fria, composta por dois membros do ABBA, chamada Chess. Tudo é possível no mundo musical.

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