Adaptado do livro homônimo da escritora Martha Batalha, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão conta a história de duas irmãs que, separadas pelo pai português no Rio de Janeiro da década de 1950, sofrem a falta uma da outra.
“O filme, antes de qualquer coisa, é um grito contra o patriarcado”, resume o diretor Karim Aïnouz (Praia do Futuro), que estranhou quando o produtor, Rodrigo Teixeira, o procurou (um cineasta homem) com a proposta de adaptar um texto de cores tão femininas.
“O que eu não posso fazer é estar em um lugar de privilégio e falar pelo outro. Aqui a gente está em um lugar de cumplicidade”, diz Karim. “Eu consegui fazer o filme porque eu me perguntei sobre isso [lugar de fala], se não, tinha sido uma decisão ingênua”, ele segue, admitindo que teve dúvidas em assumir o projeto. (Confira a entrevista completa no vídeo acima).
“Majoritariamente, a equipe toda era feminina”, lembra a intérprete de Eurídice, Carol Duarte (conhecida do grande público no Brasil por interpretar uma menina em fase de transição de gênero na novela A Força do Querer). A diretora de fotografia, responsável, portanto, por filmar as cenas de sexo e nudez, é a francesa Hélène Louvart (Pina); e a montadora é a alemã Heike Parplies (Toni Erdmann), para ficar em dois exemplos.
Sobre o contexto, quem sintetiza a temática do filme é Julia Stockler, que vive a irmã, Guida. “A ideia dos anos 1950 é um campo fictício para dar conta de uma construção social de hoje”.
“Qual a família tradicional que você quer restabelecer? É essa adúltera? É essa suicida?, ratifica Gregório Duvivier, que faz o papel do marido de Eurídice - e desenterrando Nelson Rodrigues. “A Família tradicional [brasileira] é a yanomami, é a pataxó”, provoca o apresentador da HBO.
Exibido fora da competitiva do Festival de Cannes, pela mostra Um Certo Olhar, o longa vem acumulando elogios por parte da crítica especializada.
De acordo com o texto do AdoroCinema, “O melodrama tropical [como define o diretor] também sustenta uma visão da sensualidade calcada no corpo. Adaptar o livro tão intimista de Martha Batalha constituía um desafio significativo, que os roteiristas Murilo Hauser, Inés Bortagaray e Karim Aïnouz superaram devido ao trabalho com exterioridades, ou seja, com o impacto visível da opressão social no corpo das irmãs Eurídice e Guida”.
A Vida Invisível de Eurídice Gusmão tem previsão de estreia em novembro no Brasil.