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    Game of Thrones 8x05: Fogo, sangue e caos a caminho do fim

    Nossa crítica do penúltimo episódio de Game of Thrones, "The Bells."

    Atenção! Contém SPOILERS do episódio 8x05 de Game of Thrones, "The Bells."

    Há várias respostas para a pergunta “por que Game of Thrones é a série mais popular da atualidade.” Porque tem dragões, fantasia, personagens interessantes e complexos, uma intrincada linha política que escancara jogatinas e tramas ilegais, porque mistura tudo isso com magia, toques de O Senhor dos Anéis e uma origem tão completa e bem estruturada que gerou especialistas que são capazes de debater por horas a linha sucessória de um período específico de Westeros. Mas a versão simples para a resposta desta pergunta talvez seja muito mais eficaz: Game of Thrones é a série mais popular da atualidade porque deu ao público o contrário do que ele havia pedido, e depois viu esse mesmo público agradecendo por isso.

    Por que então, agora, este mesmo público está reclamando das viradas de roteiro que — supostamente — vêm do mesmo lugar?

    É o penúltimo episódio de Game of Thrones. Depois de ter perdido grande parte de sua vantagem, Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) decide atacar Porto Real e ignorar os falhos planos de Tyrion (Peter Dinklage). Somos conduzidos a uma batalha nas ruas da capital, após a chegada de Jon (Kit Harington) com a ajuda que vem do Norte. Há altas expectativas em jogo, sobretudo após a moeda sobre a sanidade de Dany ter sido jogada para o alto. E, na metade do episódio, aparentemente descobrimos de que lado ela cai.

    Esteticamente, “The Bells” é um ótimo trabalho de direção e de fotografia, provavelmente limpando a estigma de Miguel Sapochnik após o infame episódio “The Long Night.” Há algo de muito poderoso nas tomadas em que Drogon sobrevoa as tropas Lannister e os navios Greyjoy em sua fúria desmedida, mas a catarse já deveria sinalizar que algo não está certo.

    Helen Sloan/HBO

    Quando algo “vira a chave” na mente de Dany e ela decide tomar o que é dela “com fogo e sangue” não estamos diante de algo que já não fosse imaginável. Desde o início da história, seus métodos honraram o lema da família. Lembra quando ela crucificou uma centena de Grandes Mestres? Nos últimos episódios, a vimos perder aos poucos todos que amava. Ela deixou pelo caminho Jorah, Missandei, Rhaegal, Viserion, mais da metade de seus Imaculados e de seus dothraki, optou deixar Daario em Meereen para cuidar da cidade — lembram dele? Que falta ele faz por aqui, não? — e não pode mais contar com os supostos novos aliados que fez em Westeros: Jon, Tyrion e Varys perderam sua confiança depois de Jon ter contado a Sansa sobre a sua verdadeira linhagem parental.

    Mas esta não é a primeira vez que Daenerys demonstra uma postura rígida frente a seus inimigos, e por isso a ideia de vê-la se transformar na vilã da história não é algo impensável — as teorias existem por aí há tempos, sobretudo baseadas nas informações de leitores da saga de George R.R. Martin. Trata-se de uma narrativa que, abordada da maneira correta, traz amplas ramificações poderosas. Existe algo a ser dito com a história de uma imperialista cega e obstinada pelo poder, que tenta defender as suas estruturas mesmo que ela — em seu papel de mulher — não seja beneficiada por isso.

    A ironia de tudo envolvendo a sanidade de Daenerys — uma personagem que o público aprendeu a amar ao longo das oito temporadas — é que existe um imenso potencial para uma história a respeito de como a sua obsessão pelo poder e pelo Trono de Ferro nada mais era do que uma busca para consolidar a própria influência, fazendo com que tudo o que ela havia feito até então fosse apenas um estepe. Um estepe que libertou milhares de escravos, mas ainda assim um estepe.  

    Helen Sloan/HBO

    Todos estes subtemas, infelizmente, não estão lá, justamente porque a série nunca questionou de forma eficaz os seus métodos de governo. Os Imaculados e os dothraki ainda seguem Dany fielmente, qualquer crise sob seu comando nas Cidades Livres jamais foi tratado como algo mais do que superficial. Por isso, quando Daenerys Targaryen ouve os sinos dobrarem e decide queimar Porto Real com inocentes e tudo, isso soa como uma traição.

    A traição faz com que a jornada de Daenerys pareça uma virada de 180º na história da personagem, enquanto na verdade as pistas deveriam estar ali o tempo todo, e de certa forma estavam. A morte de Ned, a Batalha de Água Negra e o Casamento Vermelho sempre estiveram destinados a acontecer. O que tornou estes momentos tão intensos foi o fato de as sugestões estarem em detalhes. O que acontece agora em Game of Thrones é que a série parece deliberadamente omitir cenas cruciais, somente para que o fator surpresa seja maior. Por isso, enquanto durante anos foi possível perceber que a rainha Targaryen não estava em sua melhor forma mental e desejava aceitação ao mesmo tempo em que se incomodava com a paz, isso sempre esteve mais nos livros que na própria série e, de um episódio para outro, parece apressado.

    Paradoxalmente, nada no episódio parece realmente inovador, seja porque a loucura de Daenerys foi praticamente escancarada no episódio anterior — sem sutileza alguma — ou porque Jon Snow, para variar, não tem utilidade. “The Bells” parece jogar vários desenvolvimentos de personagem no lixo apenas para colocar todos em um lugar em que estivessem perfeitamente alinhados para Daenerys enlouquecer — e aí vai Jaime Lannister, um personagem que outrora traiu sua própria promessa e matou um rei para proteger o povo de Porto Real e agora está aí dizendo que não se importa com o povo. Esse alinhamento faz parecer cada vez mais real a ideia de que David Benioff e D.B. Weiss, conhecendo os finais a que precisariam chegar com os personagens de Game of Thrones, trabalharam em uma espécie de engenharia reversa para fazê-los chegar até lá.

    Helen Sloan/HBO

    Sutil ou não, uma transformação de Daenerys sempre teria sido algo doloroso, mas a maior questão aqui não é exatamente o favoritismo que a personagem tinha com o público, e sim como, mesmo para aqueles que já esperavam esta transformação, parece algo feito às pressas. Talvez os monólogos internos de Dany nos livros ajudassem a compor o cenário. Talvez se Benioff e Weiss tivessem os livros de Martin, toda a história teria sido desenvolvida com mais suavidade  — e isso, inegavelmente, sempre estará no epicentro das críticas à última temporada da série.

    Mas o fim está próximo e as peças estão à mesa. Fogo & Sangue aparentemente deram a Daenerys o Trono de Ferro, e o soco no estômago que você está sentindo ao saber que ela conseguiu o que queria, mas pagou um preço doloroso é algo que GRRM faz muito bem.

    Seria Arya agora a única personagem com quem realmente nos importamos?!

    Helen Sloan/HBO

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    • Ah, o Valonqar… foi ali tirar uma soneca com Azor Ahai.
    • Emilia Clarke, Lena HeadeyMaisie WilliamsNikolaj Coster-Waldau foram os pontos altos do episódio. Três destes tiraram complexidade de onde não tinha para entregar momentos significativos para seus personagens.
    • R.I.P. Cersei, uma pena Lena Headey não ter feito absolutamente nada nesta temporada.
    • Cleganebowl! Tanto tempo esperando por esta luta, em um cenário apocalíptico impactante e poderoso, e acabou que o resultado foi um pouco… anticlimático. Longa demais, talvez. Ainda assim, belo desfecho. Do fogo viemos, ao fogo voltaremos.
    • R.I.P. Euron Greyjoy, vá com o deus afogado. Poderia ter ido mais cedo e ter desperdiçado menos tempo de tela.
    • Parece que Miguel Sapochnik ama acompanhar o ponto de vista de Arya Stark no meio de batalhas — o mesmo ocorre no episódio 3 —, mas é um ótimo ponto de vista para acompanhar.
    • Grande cena subestimada do episódio: Arya se despedindo de Sandor. Ali está a garota teimosa e determinada que quer a todo custo terminar a sua lista, relutando com o homem que foi forçada pelas circunstâncias da vida a aprender a respeitar. Esta é uma versão muito melhor de Arya que uma assassina robótica.
    • Saudades do Fantasma!!!
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