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    Game of Thrones 8x04: O começo de um fim apressado

    Nossa crítica do episódio "The Last of the Starks."

    ATENÇÃO! Contém SPOILERS do episódio 4 da 8ª temporada de Game of Thrones, "The Last of the Starks."

    Ao longo dos anos, Game of Thrones conquistou um público fiel com sua gama de personagens moralmente complexos. Da pureza de Ned Stark à ambição jovem de Daenerys Targaryen, o público pôde se deliciar em debates sobre as políticas de Tyrion Lannister, Lorde Varys e Petyr Baelish, escolher favoritos e defendê-los, mesmo sabendo que uma hora ou outra seriam obrigados a encarar de frente que nenhum de seus personagens é incorruptível.

    Chegando à metade final da oitava temporada, Game of Thrones volta ao jogo dos tronos com toda a força. Para muitos, a parte mais divertida da história, desde quando todo o arco do Rei da Noite e dos Caminhantes Brancos jamais chegou a ser propriamente aprofundado. Por isso, o episódio “The Last of the Starks” volta às maquinarias do poder, em discussões a respeito de tiranias com os arquitetos nos bastidores tomando as rédeas da história, ainda que os supostos protagonistas — Jon (Kit Harington) e Dany (Emilia Clarke) não saibam disso.

    O discurso de Jon Snow no funeral dos mortos na Batalha de Winterfell é uma boa abertura para o episódio, que não apenas expõe as feridas dos sobreviventes mas também ajuda a encerrar a história do episódio 3. Mas logo voltamos para a política e, para isso, a sequência do banquete acaba sendo um grande expositor de narrativas. É um momento leve para os personagens, depois de tanta tensão na batalha, mas também é um que aponta para as inseguranças de Dany a respeito de ser aceita como líder, e para o quanto aqueles personagens estão jogando de lados opostos. O conflito e a desconfiança de Sansa e Arya a respeito de Dany apenas crescem, fazendo com que uma nova ruptura seja iniciada entre os Starks.

    Helen Sloan/HBO

    O reinício das divergências políticas traz consigo desenvolvimentos de personagens que são interessantes, talvez os pontos altos do episódio. O momento entre Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e Brienne (Gwendoline Christie) é um belo agrado à audiência, porque trata-se da concretização de um arco longo e gratificante. Daenerys ter legitimado Gendry (Joe Dempsie) também é uma via de mão dupla: é um aceno para um possível plano de governo da rainha no pós-guerra (e, olha só, um indício de que talvez ela não seja não má assim!) e um gesto bonito para um personagem que sempre manteve um carinho do público, ainda que tenha sido negligenciado por tantas temporadas.

    Mas mesmo com a exposição de muitos dos personagens — e com o título que faz referência à família nortenha —, o grande tema do episódio parece ser a sanidade mental de Daenerys. A rainha em terras estranhas enxerga a rejeição primeiro nas palavras de Tormund para Jon, passa por um momento de pedir para que ele esconda a verdade para favorecê-la — e não é preciso prestar muita atenção à série para saber que isso não é algo que Jon faria —, termina perdendo mais uma parte de seu exército em uma emboscada de Euron (Pilou Asbaek), mais um de seus filhos (R.I.P. Rhaegal) e sua fiel conselheira, Missandei (Nathalie Emmanuel).

    Desde o início da temporada (ou, na verdade, desde o final da temporada anterior), o tema de uma possível loucura de Daenerys veio sendo introduzido aos poucos, tornando a personagem mais obcecada pelo poder. Obviamente, a obstinação com o trono é uma atitude que irrita o público — uma visão parecida com a do finado Stannis, que passou longe de ser um dos personagens favoritos entre os espectadores da série —, e isso causa uma rejeição maior à personagem. Neste episódio, tudo isso é traduzido em uma conversa reducionista entre Tyrion (Peter Dinklage) e Varys (Conleth Hill), que faz Dany parecer fraca e boba e esquece todo o seu desenvolvimento nas temporadas anteriores, quando libertou escravos e prometeu “quebrar a roda”.

    Isso não quer dizer que o arco de uma possível loucura de Daenerys seja algo completamente sem sentido. É condizente, sobretudo porque sua fome de poder e como ela se enxerga destinada ao trono sempre estiveram entre as suas maiores motivações. Mas é uma abordagem pobre quando tudo parece estar sendo feito apenas para que Jon ascenda como o legítimo herdeiro.

    Talvez a rejeição de toda a história que envolve Jon e Daenerys seja uma questão de tempo da série. A todo momento, algum personagem precisa explicar a outro o quanto os dois se amam. Não houve tempo para que o público se convencesse deste amor, assim como não houve tempo para se esclarecer que Daenerys ocupa um lugar de vilã — sobretudo quando esta guinada acontece logo após ela perder tanto do que amava, enquanto seus conselheiros planejam um golpe pelas suas costas. O problema não é exatamente ir com a teoria da “mad queen”, o problema é algo que vem se repetindo há tempos em Game of Thrones: arcos convencionais que apagam a evolução trilhada pelos personagens. Se você tortura a personagem a ponto de ela perder absolutamente tudo, soa bastante forçado dar a ela o título de “rainha louca” e dizer que aquilo estava ali o tempo todo.

    A esta altura, o único personagem apto a se sentar no Trono de Ferro é mesmo Fantasma. Ou Brienne.

    Helen Sloan/HBO

    OUTRAS CONSIDERAÇÕES

    • Em Game of Thrones, muitos personagens sofrem e passam por provações. Faz parte. Sansa Stark não seria diferente. Mas será que precisamos mesmo de uma personagem dizendo que, se não fosse por seu estuprador, ela não seria uma mulher forte? A cena entre ela e o Cão parece mais uma forma de a série dizer que Sansa não seria uma personagem querida se ela não tivesse passado por tantas provações e, sinceramente? Errado. Muito, muito errado.

    • Peter Dinklage tem um de seus grandes momentos na cena em que negocia a rendição de Cersei. Emmy tape, é você?

    • Aegon, o Conquistador reuniu o continente de Westeros sob um único regime — o seu — com suas duas irmãs e esposas, Rhaenys e Visenya, e três dragões: Balerion, Meraxes e Vhagar. Depois deles, muitos outros dragões viveram e morreram nos Sete Reinos, enquanto muitos homens tentaram matá-los ou conquistá-los. Meraxes, inclusive, morreu em combate, quando foi atingida por uma arma parecida com a que Euron utilizou para alvejar o pobre Rhaegar. Mas Meraxes apenas morreu porque a flecha atingiu seu olho. Resumo da história? Sim, sabemos que dragões morrem em combate. Faz parte. Com certeza outras pessoas já pensaram em atirar contra as bestas voadoras. Mas também deveria ser mais difícil atravessar as escamas de um dragão, que na história de Martin são duras feito aço.

    • A decisão de Jaime de deixar Winterfell e voltar para Porto Real parece contraditória, e é particularmente doloroso ver Brienne chorando por ele no pátio, mas vamos dar ao Regicida o benefício da dúvida.

    • R.I.P. Missandei, a única mulher negra da série que tinha alguma fala.
    Helen Sloan/HBO
    • A esta altura só resta acreditar que Game of Thrones se esqueceu completamente da existência do Fantasma e o inseriu na 8ª temporada no improviso. O Jon não te merece, Fantasma. Você é um bom garoto.

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