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    Hanna: Critica da 1ª temporada

    Mesmo com boas performances de Esme Creed-Miles, Joel Kinnaman e Mireille Enos; a série não consegue chegar aos pés do filme original.

    Nota: 2,5/5,0

    Virou moda transformar filmes em séries de TV. Só para citar uns exemplos, basta lembrar de Fargo, Westworld, Máquina Mortífera, O Exorcista... Alguns deram certo. Outros deram errado. Agora, a Amazon entra nessa mania com Hanna, adaptação do elogiado filme homônimo de Joe Wright, lançado em 2011. A premissa é a mesma: uma adolescente é treinada por seu pai para se tornar uma habilidosa assassina, enquanto ambos são caçados pela CIA. Um dos responsáveis pelo roteiro da obra original, David Farr assume o comando da atração, a fim de expandir o universo que cerca a jovem.

    Os primeiros episódios da série prometem seguir os passos do longa, até que a nova trama começa a apresentar diferenças bem drásticas, tentando aprofundar o relacionamento entre Hanna (Esme Creed-Miles) e seu pai, Erik (Joel Kinnaman). Paralelamente, o público passa mais tempo no outro lado da disputa, acompanhando a agência governamental numa narrativa centrada na agente Marissa (Mireille Enos), diretamente ligada com a protagonista.

    Se os fãs ficarão contentes em ver a recriação de algumas cenas marcantes do filme, é interessante ver a vontade de trazer algo novo. O problema é que as escolhas tomadas pelo roteiro são bem clichês — tanto nos relacionamentos pessoais, como na expansão da ficção científica. Logo, o público se vê diante de uma jornada de herói bem genérica, onde as reviravoltas perdem função, pois já foram vistas em diversos filmes e programas de TV. Mesmo usufruindo de mais tempo para contar a história, é triste perceber como quase nenhum personagem apresenta desenvolvimento ou tem espaço para demonstrar profundidade, além de Hanna e Marissa.

    Para completar, os relacionamentos são construídos com uma velocidade rápida demais para causar algum tipo de conexão com o espectador. São inseridos diversos arcos emocionais que nunca alcançam seu potencial completo, sendo apenas conectados por eficientes sequências de ação, que salvam certos episódios com ritmos irregulares. Felizmente, o trabalho de fotografia é caprichado, de tal forma que acrescenta um toque especial para os diferentes mundos visitados por Hanna, convidando o público a mergulhar em cada novo local com a jovem.

    Dentre as três figuras centrais, são as mulheres que apresentam melhores histórias, mesmo que estas também se percam em conclusões súbitas e aleatórias. Inclusive, boa parte delas parecem surgir apenas para complicar a história e preencher tempo de tela. Por exemplo, Esme Creed-Miles não tem um trabalho fácil em substituir uma performance do gabarito de Saoirse Ronan, mas consegue fazer seu trabalho, mesmo que o roteiro a prejudique diversas vezes, girando em círculos. Crível, a jovem carrega bem as sequências de luta, mas brilha mesmo quando é capaz de derrubar os muros emocionais de Hanna, explorando a personagem num mundo que não conhece. A ingenuidade da garota e a interação com a nova amiga, Sophie (Rhianne Barreto, cheia de simpatia), trazem frescor para uma narrativa tão seca e sombria. Pena que esse arco culmina em um clichê digno de novela.

    Por outro lado, Mireille Enos apresenta uma versão de Marissa bem diferente da postura feroz de Cate Blanchett no filme original. A personagem até tem seu lado poderoso, mas os destaques surgem nas sutilezas que a atriz constrói no papel, equilibrando tal façada com a vulnerabilidade que ela tenta esconder, desesperadamente. Retomando a parceria com sua coprotagonista de The Killing, Joel Kinnaman é eficiente, mas ainda não consegue diferenciar essa performance de outros heróis de ação que já interpretou anteriormente, como Altered Carbon. Dentre o restante do elenco coadjuvante, quem chama a atenção é a habilidosa Yasmin Monet Prince, que aparece nos episódios finais e deve ganhar espaço numa possível segunda temporada.

    Se o filme Hanna surpreendeu ao trazer decisões ousadas para o gênero, a série inspirada em tal obra peca na falta de criatividade, ao optar por caminhos mais fáceis, justamente na hora de desenvolver esse universo. Não é uma obra ofensiva, mas desperdiça grande parte de seu potencial. As cenas de ação vão agradar os fãs do estilo, mas falta emoção. Curiosamente, a trama apresenta o mesmo defeito que sua protagonista, ao ser jogada na sociedade: Cadê a conexão humana?

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