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    The OA: Crítica da 2ª temporada

    A série de Brit Marling ultrapassa todos os limites, só resta saber se você vai embarcar na jornada. Crítica sem spoilers, é claro.

    Nota: 3,5/5,0

    Dizer que ninguém sabe o que esperar de The OA é o eufemismo da década. A trama conseguiu atrair um grupo leal (e barulhento) de fãs, com uma história completamente surreal, cheia de metáforas e mitologias que renderam teorias loucas para todo lado. Depois de uma espera de três anos, a segunda temporada veio para trazer algumas respostas. Ênfase na palavra "algumas", pois os criadores Brit Marling e Zal Batmanglij não tiveram medo de deixar sua história ainda mais ambiciosa. E acredite: não existem limites para o Anjo Original.

    A nova temporada começa (adivinhe só!) com algo inesperado. O público começa a acompanhar uma nova história, onde o detetive particular Karim (Kingsley Ben-Adir) investiga o desaparecimento de uma jovem. Somente meia hora depois, tal trama se conecta com a jornada de Prairie. Logo, é revelado que os movimentos funcionaram e a protagonista foi para outra dimensão. Agora, ela ocupa o corpo de uma diferente versão de si mesma, chamada Nina Azarova, e não demora muito para encontrar Hap (Jason Isaacs) e os amigos sequestrados pelo vilão. Se você acha que o trailer já deu spoilers demais em revelar essas informações, saiba que é apenas o pontapé do próximo capítulo de The OA.

    Alguns podem ficar incomodados com o foco dos primeiros episódios no mistério de Karim, mas é preciso entender como a série encontra um grande desafio em equilibrar três narrativas numa mesma jornada — sendo ambientados em duas dimensões diferentes, vale lembrar. Afinal, a série ainda acompanha o desafio dos jovens amigos e BBA (Phyllis Smith) para entender o que aconteceu com sua musa inspiradora. Então, ao tentar interconectar essas histórias (e dar profundidade para aquelas que chegaram agora), a temporada apresenta um ritmo irregular, mesmo que certos aspectos ainda sejam capaz de manter o interesse do espectador.

    Tendo dito isso, ninguém pode reclamar da criatividade de The OA. Para o melhor ou para o pior. Se a trama começa como uma espécie de thriller que caminha em passos cautelosos, o meio da temporada se transforma numa ficção científica surrealista, que tenta expandir a mitologia vivida por Prairie. Sem dar maiores spoilers, ainda é possível perceber inspirações em obras de terror, ao mesmo tempo que uma sacada inteligente de roteiro usa o preconceito da sociedade contra o próprio público, se ele não souber captar as dicas distribuídas pelos episódios.

    Marling e Batmanglij sabem como existe pressão para a segunda temporada superar seus episódios originais, então se jogam na construção de um universo fascinante e absurdo. Então, preparem-se para ler mais teorias loucas onde cada aspecto da história, seja conceitual ou estético, pode dar sugestões sobre o que virá por aí. A imaginação da dupla viaja em caminhos inesperados, mas ainda existe o cuidado de conectá-los com mistérios já existentes, rendendo algumas respostas, enquanto cria ainda mais perguntas. Nessa vontade de trazer algo ainda mais ambicioso, surgem alguns momentos extraordinários, enquanto outros podem ser exagerados demais para o gosto de certa parte do público — vide um personagem intitulado chamado Velha Noite, cujo surgimento é inexplicável, mas ajuda na transição de grandes melhoras para o ritmo.

    The OA faz um trabalho bem sucedido em expandir sua mitologia e até consegue equilibrar os três arcos de maneira razoável. Porém, não sobra tempo para desenvolver seus personagens, por mais cativantes que sejam. Dentre os novatos, apenas parte da história de Karim é revelada, a fim de dar complexidade para o investigador, enquanto outras novidades acabam se tornando bem esquecíveis. Por sua vez, os jovens discípulos de Prairie têm pouco espaço de tela, ganhando apenas um breve arco cada para tentar aprofundá-los, sem muito sucesso.

    Quando as diferentes narrativas se conectam, os minutos finais da temporada jogam mais uma reviravolta surpreendente, capaz de causar diferentes reações no espectador. Seja qual for sua opinião, é algo ousado que promete trazer uma terceira temporada completamente diferente, caso a série seja renovada. Pode dar muito certo. Ou muito errado.

    No elenco, os destaques seguem nos ombros de Brit Marling e Jason Isaacs, principalmente ao longo dos diferentes desafios e dualidades que seus personagens encontram na temporada. Ela, ao carregar a responsabilidade de uma protagonista mágica com credibilidade, enquanto ele constrói um vilão no limite de psicopatia e charme. Kingsley Ben-Adir é uma boa adição como Karim, enquanto Phyllis Smith segue roubando cada cena como a queridinha BBA. Já Emory Cohen fica sem ter muito o que fazer, com um personagem bem desperdiçado.

    Queremos manter as surpresas, mas é possível revelar que algumas participações especiais trazem frescor a mais para tal história, principalmente uma personagem que aparece logo no primeiro episódio, dona de um rosto bem conhecido. Tecnicamente, é uma pena que os efeitos especiais não consigam fazer jus a imaginação de seus criadores. O que também prejudica é uma direção de fotografia escura demais, por certas vezes, em momentos cruciais, apesar de ter algumas ferramentas bem inventivas em outras cenas.

    Sinceramente, The OA nunca se propôs a ser uma história racional. Mistura diferentes elementos de gêneros narrativos para trazer metáforas sobre a sociedade atual, que nem sempre serão compreendidas; Porém, a série nunca decepciona em trazer uma experiência singular para o público e se diferenciando de qualquer outro programa existente nos dias atuais. Estamos diante de uma das obras mais geniais ou loucas da TV? Ninguém sabe. É a viagem que importa.

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