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    The Marvelous Mrs. Maisel: Crítica da 2ª temporada

    A premiada comédia de Amy Sherman-Palladino (Gilmore Girls) dá alguns tropeços, mas segue apaixonante.

    Nota: 4,0/5,0

    Conquistando quase todos os prêmios possíveis em sua primeira temporada, The Marvelous Mrs. Maisel tinha que provar como seu encanto não era coisa passageira. Afinal, é comum se decepcionar com o segundo ano de uma série novata e elogiada. Expectativas são altas e aquilo que foi tão revolucionário já perdeu o tom de novidade. Mas existe uma coisa que a senhora Amy Sherman-Palladino sabe fazer muito bem: construir seus loucos universos. Só precisa saber apreciar.

    Se você procura por uma série de reviravoltas ou mudanças bruscas de narrativa, essa não é a melhor escolha. A ideia aqui é montar — cheio de delicadezas e detalhes — o mundo que cerca esses personagens, deixando-os confortáveis (ou não!) o suficiente para expressarem rápidos diálogos, estilo já clássico de sua criadora. Quem se apaixonou pela curiosa cidade de Stars Hollow de Gilmore Girls, sabe do que estamos falando. Então, não é novidade ver que a segunda temporada de The Marvelous Mrs. Maisel pausa o cliffhanger da season finale para se jogar numa inusitada viagem para Paris, a fim de analisar os desejos da família de Midge (Rachel Brosnahan).

    E essa não será a última vez que a trama faz uma curva fantasiosa, no lugar de centralizar na jornada da protagonista rumo ao sucesso na comédia. Basta ver como vários episódios são destinados para as férias em Catskill, por exemplo. É uma comédia de costumes que toma seu próprio tempo. Por vezes, mostra os altos e baixos da carreira de Midge. Mas não irá hesitar em envolvê-la num evento fútil da sociedade local, apostando nas mais inusitadas situações.

    Tal escolha não surge apenas pelo estilo de Palladino, mas também reflete a indecisão de sua protagonista. Sim, Midge não tem medo de enfrentar o machismo e busca uma carreira "fora dos padrões", mas também não está pronta para abandonar seu estilo de vida. Ela ainda pensa como uma pessoa privilegiada e apenas começa a perceber como o 'stand-up' vai mudar seu cotidiano, já que não pode mais esconder tal segredo. A discrepância entre o mundo do humor e alta sociedade da época deve ganhar mais destaque na terceira temporada, já que os problemas causados por tal conflito foram tratados de forma bem breve e decepcionante, até agora.

    Se a jornada controversa de Midge pode perder atenção do público, os problemas enfrentados por Susie (Alex Borstein) são um prato cheio. Ela é responsável por carregar a parte mais pesada da narrativa, pois sua vida não é tão fácil como a de Midge. Ou seja, a forma inusitada como a pobreza é abordada na tela causa identificação imediata com o espectador, com o humor fazendo a personagem se virar como pode, diante dos problemas. Aliás, fica aqui mais uma lembrança sobre como funciona o estilo de Paladino: durante todo um episódio, o espectador teme pela vida da agente, mas, em nenhum momento, a trama fica negativa, encontrando um desfecho singular.

    Outra diferencial é a decisão de não transformar Joel (Michael Zegen) em um vilão. Ele errou (e feio!), então irá sofrer as consequências de seus atos. Não o vemos como antagonista, mas como um humano. Tenta se redimir, comete mais erros, realmente se importa com a ex-esposa e os filhos. Ganhando mais espaço na temporada, vemos como ele também está se adaptando com a nova vida, com o peso da responsabilidade de tê-la criado. Em contraste, outro pretendente é Benjamin (Zachary Levi), um médico que se encanta pelo estilo excêntrico da comediante. O astro de Shazam! traz charme para o personagem, mas não é aprofundado, pois essa não é sua função na trama. Ele é apenas uma espécie de bengala de Midge, ainda tentando ver como pode se encaixar na sua vida antiga. Fica aqui a torcida pelo seu retorno na próxima temporada, pois a química entre Levi e Brosnahan é ótima. Aliás, obrigada por não transformarem Lenny (Luke Kirby) num par romântico. Continuem assim!

    A temporada ainda separa um bom tempo para explorar as famílias de seus protagonistas. Se as sequências dos pais de Joel — Moishe (Kevin Pollak) e Shirley (Caroline Aaron) — parecem forçadas, o mesmo não pode ser dito sobre a dinâmica entre Abe (Tony Shalhoub) e Rose (Marin Hinkle). Está claro como os produtores decidiram dar mais espaço para o antigo astro de Monk, é incrível vê-lo trabalhar com o limite entre hilário e irritante. Ao mesmo tempo, a matriarca Weissman consegue roubar cada cena em que aparece, merecendo o crescimento da personagem. 

    O grande alívio é perceber a continuidade de tudo aquilo que funcionou na primeira temporada. A carismática e expressiva Brosnahan segue construindo Midge de forma impecável, lidando com rápidos diálogos, principalmente em suas performances no palco (a cena de Paris é algo fora do normal). Já Borstein brilha ao misturar drama e acidez, com muita naturalidade. Ambas mantêm uma química incrível, que se esbanja no belíssimo trabalho conjunto de direção de arte, fotografia e figurino. Com certeza, a série comprova como algo pode ter qualidade, tanto em estética, como em conteúdo.

    Trata-se de uma temporada inferior ao seu ano de estreia, mas não é nenhuma queda que comprometa a qualidade geral da atração. O espectador é capaz de mergulhar nesse doido e belo universo, mesmo que nem todas suas decisões sejam acertadas. Dentre altos e baixos, The Marvelous Mrs. Maisel ainda é uma série que te faz sorrir. Precisa de mais?

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