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    "Volínia é um ótimo cartão de visitas para o cinema polonês atual", afirma a atriz Michalina Labacz em São Paulo

    O filme de guerra integra a Mostra de Cinema Polonês, que vai até o dia 15 de dezembro.

    Em cartaz desde o dia 8 de dezembro, a Mostra de Cinema Polonês celebra em São Paulo os 100 anos da reconquista da independência com uma seleção imponente de filmes.

    Além de clássicos de Andrzej Wajda (Cinzas e Diamantes, O Homem de Mármore) e Roman Polanski (O Pianista), o evento traz o aguardado Guerra Fria, vencedor do prêmio de melhor diretor para Pawel Pawlikowski no último Festival de Cannes, e Volínia, épico de guerra multipremiado na Polônia, porém censurado na Ucrânia por retratar os violentos confrontos entre os dois países durante a Segunda Guerra Mundial.

    Em Volínia, a debutante Michalina Labacz interpreta Zosia, uma jovem forçada a se casar com um homem que não ama, em pleno período de bombardeiros, tiros e abusos sexuais dos invasores nazistas. O AdoroCinema conversou com a atriz, de passagem a São Paulo devido à Mostra:

    O confronto retratado em Volínia ainda é muito presente no imaginário polonês?

    Michalina Labacz: Esse tema sempre foi tabu para nós, era algo de que não se falava nem nas escolas, nem em locais públicos. Sempre se manteve o silêncio sobre esses conflitos. Por isso o projeto é tão importante: se não resgatarmos essa memória, não podemos seguir em frente, nem perdoar. Este é um filme sobre amor em tempos desumanos, até por isso o diretor Wojciech Smarzowski costuma dizer que a intenção era construir uma ponte, e não um muro.

    Tomasz Holod / PolkaPress

    Que tipo de pesquisa você efetuou para o papel?

    Michalina Labacz: Fiz uma preparação própria, li muitos livros sobre o assunto. Mas também considerei importante pesquisar sobre o período que antecede os conflitos. Todo acontecimento histórico deste porte decorre de circunstâncias específicas antes dele, e eu considerava importante fazer este resgate histórico. Além disso, passei muito tempo conversando com o diretor sobre os sentimentos de Zosia em cada cena, sobre o relacionamento dela com cada personagem, porque o público precisa acreditar no comportamento daquela jovem cujas ações são muito representativas da época.

    Zosia se tornou uma amiga minha, ela carrega parte da minha vida, e eu aprendi muito com ela. Eu me tornei mais forte graças a esse papel, e amadureci muito rápido não apenas enquanto personagem, mas como pessoa e como mulher. Como este foi o meu primeiro longa-metragem, a relação de confiança com o diretor foi essencial para eu me sentir segura.

    Volínia suscitou polêmicas: ele foi premiado na Polônia, mas censurado na Ucrânia. Acredita que o filme tome partido neste conflito?

    Michalina Labacz: O diretor trabalhou com diversos historiadores para garantir a fidelidade aos fatos. Houve uma preocupação evidente nesse sentido. A certo ponto do projeto, pensaram em trabalhar com dois diretores juntos, um polonês e um ucraniano, mas não tivemos resposta do lado deles. É claro que esta história é vista pelos olhos de uma jovem polonesa, e tem um diretor polonês, mas realmente existiu a tentativa de trazer a imagem mais fiel possível dos fatos.

    Como você se sente em relação às imagens fortíssimas de violência no filme?

    Michalina Labacz: Quando este filme foi exibido na Polônia, nós conversamos com muitas pessoas após a sessão. Alguns espectadores choraram muito, outros ficaram chocados, e tiveram aqueles paralisados, em silêncio. Existia um clima pesado, como se tivessem vivenciado um pesadelo. Muitas pessoas que assistiram ao filme estiveram em Volínia durante este período, ou têm familiares que passaram por lá, e nos disseram que as cenas nem foram tão violentas assim, porque a realidade foi muito pior. Eles achavam importante que os acontecimentos fossem compartilhados com as pessoas em sua brutalidade.

    Além disso, Smarzowski foi o diretor ideal para esse projeto. Ele era o único que realmente poderia abordar o tema, por ser muito corajoso e acostumado a tratar de temas fortes. Sem filmes como este, a gente sequer saberia ou lembraria o que aconteceu de verdade no nosso país.

    De que maneira a sociedade conservadora da época dialoga com a Polônia de hoje?

    Michalina Labacz: Com certeza, os tempos mudaram, e estrutura social melhorou bastante. Mas o que me interessa é o fato de mostrar como somos capazes de fazer o mal a alguém tão próximo de nós, nosso vizinho. Volínia serve de alerta para as pessoas que as pessoas nunca mais deixem isso acontecer. Essa seria a principal mensagem. Os conflitos entre Polônia e Ucrânia aconteceram não apenas em Volínia, mas outras regiões também, então serve como um recado para todos.

    Acredita que o resto do mundo possa interpretar o conflito local da mesma maneira que os poloneses?

    Michalina Labacz: É difícil dizer. O filme está repleto de detalhes das culturas polonesa e ucraniana, então talvez alguns pontos específicos sejam mais difíceis de compreender pelos estrangeiros. Mas a questão sobre a luta entre irmãos, a guerra entre países vizinhos é algo que pode ser compreendido facilmente por qualquer pessoa ao redor do mundo, que vai encontrar equivalências na História de seu país.

    Então acredito que o filme possa se comunicar com todos, ainda que em níveis diferentes. Embora ele seja um filme difícil, assustador e até meio doloroso de assistir, acredito que represente um ótimo cartão de visitas para o cinema polonês atual.

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