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    Mostra SP 2018: A experiência de realidade virtual Chalkroom permite ao espectador voar pela mente de uma cineasta (Exclusivo)

    Algo como um filme de David Lynch, segundo os produtores Jason Stern e Shaun MacDonald.

    Divulgação

    Nos últimos anos, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo tem discutido outras formas de audiovisual para além dos formatos tradicionais do cinema. A realidade virtual, em particular, permite ao espectador não apenas presenciar um mundo paralelo, mas também interagir com ele. 

    A 42ª edição dedica um espaço tão grande ao VR que extraiu de uma destas instalações a imagem de seu cartaz principal. Chalkroom, criado por Laurie Anderson, proporciona a viagem por um gigantesco espaço interativo, no qual cada cômodo é preenchido com vozes, palavras, letras e objetos importantes na vida da cineasta. O espectador pode andar, voar, desenhar, criar esculturas sonoras, mover objetos pelo espaço.

    A experiência fascinante foi produzida pelos jovens Jason Stern e Shaun MacDonald, acostumados a criar instalações de realidade virtual nos maiores festivais do mundo. O AdoroCinema perguntou à dupla sobre a criação deste projeto:

    "Esta é uma experiência singular por estar dentro de um festival de cinema. Chalkroom é diferente de outros filmes em realidade virtual, porque neste caso você realmente interage o tempo todo. Ele não se parece em nada com os filmes em 360º diante dos quais o espectador fica parado. Este é um mundo novo criado pela Laurie Anderson e recheado com pequenas histórias. Você escolhe a sua própria aventura, não existe uma maneira correta ou única de experimentá-lo".

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    Mas como o espectador deve reagir diante deste universo? Não existe uma resposta correta, de acordo com Stern e MacDonald: "A nossa intenção foi criar um mundo e dar a cada um a liberdade de explorar como quisessem. As experiências são muito diferentes: já vi pessoas apenas voarem em direção ao Sol durante vinte minutos! Outros querem explorar tudo e encontrar cada história escondida dentro dos cômodos. Isso produz uma sensação curiosa, na verdade, porque você cria diversas intenções, e espera que as pessoas estejam interessadas em ouvir tudo e visitar tudo, mas às vezes eles não veem nem 10% do que criamos".

    "Alguns espectadores ficam com medo, não sabem o que fazer. Já ouvimos relatos de tontura, vertigem. Acredito que muitos esperam uma experiência passiva. Acreditam que vão colocar o capacete na cabeça e ver o que temos a oferecer, mas cabe a eles procurar e descobrir tudo o que existe nesta realidade paralela. Mas isso é como voar, superar nossas habilidades humanas. Por isso, não vem de modo natural, não estamos acostumados a isso".

    Por estar associado à voz de Laurie Anderson e as palavras escritas nas paredes, Chalkroom é concebido inicialmente para quem fala a língua inglesa, mas os criadores garantem que este fator não é indispensável para aproveitar a instalação: 

    "O aspecto positivo é que nem os americanos talvez entendam tudo o que é dito em Chalkroom! É algo surreal e disperso, de propósito. Laurie descreve suas lembranças como se este fosse um portal para dentro da cabeça dela. Normalmente, quando você conta uma história, faz questão que ela seja linear e compreensível, mas aqui todas as palavras escritas e contadas são quase um delírio, e cabe ao espectador juntar as partes que quiser ou conseguir, em busca de significado. Os fãs de Laurie Anderson reconhecerão os temas comuns dos filmes dela, porque são muitos próximos das evocações que ela costuma fazer. Ao invés de uma grande história, temos uma série de pequenas histórias fragmentadas. A realidade virtual é um ótimo meio para este tipo de aventura".

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    Mas como definir este espaço: um sonho? Um jogo? Uma história fragmentada? A melhor metáfora veio com a associação às obras hipnóticas do cineasta David Lynch:

    "É como um espaço infinito. A geografia deste local foi criada por um artista especializado em realidade virtual, que vem de uma grande empresa de videogames. Ele é um especialista em criar mundos. O processo foi bastante cooperativo, mas ele desenhou o espaço geográfico, enquanto Laurie preencheu com palavras, sons e músicas. É como um sonho. Chalkroom tenta imaginar o que se passa na cabeça da pessoa enquanto ela tem um sonho realmente elaborado. Como são agenciados os pensamentos? Acho que se parece com um filme de David Lynch, na verdade. Tudo depende de como você recebe esses estímulos e como os associa uns aos outros. Não é linear, claro, mas quando você absorve tudo, pode criar uma história própria".

    Chalkroom está disponível aos frequentadores da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo entre os dias 18 e 31 de outubro, no CineSesc.

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