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    Jack Ryan ainda não sabe onde quer chegar (Crítica da 1ª temporada)

    Drama estrelado por John Krasinski capricha na ação, mas traz uma narrativa irregular.

    Nota: 2,5/5,0

    Adaptar um personagem clássico da literatura nunca é tarefa fácil. Ainda mais se for a primeira vez que irá apresentá-lo no formato televisivo. Logo, os fãs de Jack Ryan podem ficar aliviados ao saber que a aguardada série da Amazon foge do fracasso do Operação Sombra. Porém, não está perto de ser a melhor versão do agente em live-action. Afinal, mesmo após dez episódios, ainda não está clara qual é a pretensão do projeto.

    Em sua primeira temporada, a obra criada por Carlton Cuse (Lost) e Graham Roland (Fringe) almeja apresentar o início da jornada de Jack Ryan. Apesar de ter um passado militar, o protagonista vivido por John Krasinski ainda é apenas um analista da CIA em sua primeira perigosa missão em campo, longe de ter tanta sabedoria e habilidade. A partir disso, o público se encontra dividido entre os dois mundos frequentados por ele: investigações tensas e intelectuais vs. momentos de tiro, porrada e bomba.

    Visualmente, o show não tem medo de investir em grandes espetáculos de ação, agradando fãs do gênero. Porém, quando chega a hora da carga dramática, se perde pelo medo de assumir uma posição em atual situação política. Se a construção do vilão Suleiman (um ótimo Ali Suliman) foge dos estereótipos para explicar como as grandes potências mundiais são capazes de construir seus próprios monstros, a história compara certas ações dos Estados Unidos como literais intervenções divinas. Assim, se assemelha aos blockbusters de Michael Bay... Lindo de ver, mas vazio de conteúdo. Curiosamente (ou não!), o poderoso criador da franquia Transformers é produtor da série.

    É necessário ressaltar que o resultado final até apresenta um bom ritmo e prende o espectador. Mas o foco da trama acaba fugindo de construir algo coerente e parte para uma "necessidade inquietante de criar sequências complicadas, em diferentes continentes, para mostrar o investimento caprichado". Assim, tal mistura de 24 HorasHomeland perde potencial, culminando em tantas pontas soltas que só conseguem ser resolvidas, de forma abrupta, nos dois episódios finais.

    A indecisão na narrativa também é refletida em seu protagonista. Dá para entender como Cuse e Roland estão determinados em construir uma versão quase inocente (e talvez hipócrita) do personagem de Tom Clancy, ainda não acostumado com conflitos mundiais e os sacrifícios de tal negócio. Porém, o que se transmite na tela um homem simplista demais, com decisões estranhas e demorando para trazer algum tipo de complexidade emocional. Por sorte, o carisma de Krasinski consegue carregar a narrativa em seus ombros, mesmo que seja impossível não lembrar do icônico Jim Halpert de The Office, cada vez que aparece numa mesa de escritório.

    Os melhores diálogos de Jack Ryan surgem justamente nos confrontos envolvendo seu novo chefe, James Greer, papel interpretado por maestria por Wendell Pierce, sempre alternando entre dureza, cinismo e uma leve vulnerabilidade. Já Abbie Cornish acaba sobrando como uma coadjuvante de luxo, mesmo quando sua vida profissional se conecta com a trama principal — tentando fugir do estigma de típico interesse amoroso do mocinho. Quem realmente acaba roubando a cena é Dina Shihabi, graças ao emocionante e surpreendente arco de Hanin, que acaba se tornando a verdadeira heroína da história, ao tentar salvar os filhos da tragédia que cerca seu marido.

    Com uma 2ª temporada já garantida, a esperança é que os criadores enxerguem o potencial da franquia para fazer questionamentos mais interessantes sobre o mundo atual. Por enquanto, Jack Ryan é necessário? Não. Ofensivo? Não. Apenas existe. É apenas entretenimento.

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