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    Festival de Vitória 2018: Sensibilização à cultura e ao Museu Nacional, homenagem a Cláudio Tovar e curtas capixabas marcam 1ª noite

    Programação das mostras competitivas foi aberta com predominância de mulheres na direção.

    Localizado no Centro Histórico de Vitória, o Teatro Carlos Gomes é o palco principal da 25ª edição do Festival de Vitória, que começou nesta segunda-feira (03). A plateia se mostrou calorosa especialmente com as boas-vindas de Rita Cadillac, que apresentou a cerimônia acompanhada do ator e músico Zéu Britto.

    A data de abertura do evento se chocou diretamente com o atual momento em que se fala, ainda mais, sobre a negligência do governo para com a nossa cultura. O clima de pesar e luto pelo incêndio que devastou o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, se complementou com a programação cinematográfica. Larissa Caus, produtora-executiva do evento, reiterou o quanto festivais como este são importantes: "O Festival de Vitória é uma realidade que dá certo", afirmou. Não só Larissa como também o prefeito de Vitória, Luciano Rezende, desejaram que festividades como esta cresçam cada vez mais.

    As reflexões sobre nosso panorama cultural iam e voltavam no decorrer da noite, mas tal presença não deixou de dar espaço para uma bela homenagem do Festival e do Canal Brasil - a primeira de três nesta edição. Cláudio Tovar, artista, cenógrafo e figurinista capixada, subiu ao palco para receber o Troféu Vitória pelas mãos de sua própria esposa, a atriz Lucinha Lins. Ambos foram ovacionados e Tovar, emocionado, relembrou de quando assistia filmes naquele mesmo Teatro na infância: "É como um ciclo que se fecha receber um prêmio como esse neste palco", disse.

    Barbara Demerov

    Em sua 7ª edição, a Mostra Foco Capixaba reuniu uma safra de curtas cujas direções já chamam a atenção de imediato: dos cinco concorrentes, quatro são dirigidos ou co-dirigidos por mulheres. A Mulher do Treze, estreia da cineasta Rejane Kasting Arruda, é um retrato frio da velhice e do que ela pode trazer a um casal quando já existe certa distância entre eles – esta provocada por fatores externos. Água Viva, de Bárbara Ribeiro, é por sua vez uma obra sensorial e que surpreende ao aproveitar uma simples aula de hidroginástica da terceira idade para tratar as relações e os pensamentos daquelas senhoras.

    Meninas, de Ana Cristina Murta e André Erlich (e adaptado de uma crônica de Luiz Fernando Veríssimo), foi gravado em 2014 por crianças de oito anos na época. As atrizes mirins subiram ao palco para apresentar o curta e deram um show de simpatia – que foi ainda mais comprovada quando o curta foi apresentado. Com estilo lúdico, a obra traz um olhar leve sobre infância e primeiros amores.

    A “Hidra” de Pilares, de Lucas Bonini, abriu espaço para uma ficção muito bem executada, ambientada na década de 70. Tendo como protagonista um serial killer com problemas do passado e utilizando uma mini road trip entre ele e uma jovem (cujo perfil é o alvo do assassino), a obra entra em questões psicológicas e instiga, além de não deixar dúvidas de que também resultaria em um bom longa.

    Finalizando o Foco Capixaba, o documentário Rio das Lágrimas Secas, de Saskia Sá, serve como lembrete de como há memórias e vidas indo embora por conta do descaso de terceiros. Abordando a quebra da barreira da Samarco no Rio Doce, em 2015, a diretora centra a obra nos depoimentos de moradores da região em que ocorreu o desastre. Emocionante na medida certa e sem cruzar a linha do didatismo, certamente este foi o curta mais marcante da 1ª noite.

    Reflexão, de fato, é a palavra que permeou a abertura do Festival de Vitória. O longa que abriu a mostra competitiva, Pastor Cláudio, aborda a Ditadura Militar e a importância de conhecer nossa própria história. A diretora Beth Formagini apresentou seu filme ao público e reforçou: "A ocultação e incineração de cadáveres, como fez o pastor Cláudio na época, não foi um simples movimento de alguns coronéis da extrema direita. A CIA comprovou que este foi um projeto oficial do governo Geisel". Leia nossa opinião sobre o filme aqui.

    Fechando a cerimônia, Formagini também expressou sua indignação com relação ao incêndio do Museu Nacional e afirmou que "este não foi um acidente, foi uma morte anunciada". Em noite pautada por palavras em homenagem às memórias, filmes como Rio das Lágrimas Secas e Pastor Cláudio ainda teriam suas devidas forças se exibidos em outro momento no decorrer do Festival; mas hoje, mais uma vez, a arte foi certeira em dialogar tão bem com a realidade.

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