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    Filme bom é filme de grande bilheteria? Ancine é criticada por critério controverso de distribuição de verbas

    O futuro é a comédia popular?

    A Agência Nacional do Cinema, ANCINE, está despertando uma batalha no meio cinematográfico ao mudar as regras que determinam a distribuição de verbas.

    De acordo com o último edital publicado, o Fundo Setorial do Audiovisual passa a classificar os diretores, produtoras e distribuidoras através de um sistema de notas atribuídas pela própria instituição. A ideia é privilegiar os diretores e produtoras de filmes que obtiveram sucesso de público.

    A medida tem sido duramente criticada, com razão. Segundo este raciocínio, serão contemplados principalmente os criadores que já tiveram oportunidades antes, o que dificulta os projetos de novos diretores ou novas produtoras. Além disso, a "meritocracia" baseada nos números de público leva à concentração de estilo padronizado de cinema, com foco na comédia popular em detrimento de outros gêneros. 

    Em outras palavras, a ANCINE passa a recompensar a quantidade ao invés da qualidade, deixando explícita a busca por uma bilheteria mais agressiva ao invés da diversidade da produção ou da formação de público. Com a aplicação destas regras, tende a crescer o número de blockbusters populares, enquanto os filmes de pesquisa estética ou com narrativas mais ousadas encontrarão maior dificuldade de viabilização.

    Consequentemente, a decisão tende a aumentar o fosso que separa o sucesso popular dos projetos mais inventivos, ao invés de estabelecer uma ponte necessária para a criação dos "filmes do meio", capazes de seduzir tanto os críticos quanto o público médio. Estas produções são fundamentais para a renovação das cinematografias nacionais, como ocorre nas saudáveis indústrias de cinema francesa e argentina, por exemplo.

    De acordo com a lista divulgada pela instituição, são considerados diretores "nota 10" Alexandre Avancini (Os Dez Mandamentos), André Pellenz (Minha Mãe é uma Peça), Cris d'Amato (S.O.S. Mulheres ao Mar) e Ian SBF (Porta dos Fundos - Contrato Vitalício), enquanto Gustavo Beck, do elogiado Muito Romântico, Otavio Cury, do ótimo Como Fotografei os Yanomami, além dos veteranos Jorge Bodanzky e o falecido Andrea Tonacci, criadores de obras-primas do cinema nacional como Iracema - Uma Transa Amazônica e Bang Bang, amargam uma nota 2. A lista completa pode ser vista aqui.

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