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    Cine Ceará 2018: Amor e lágrimas em Cabras de Merda, filme-denúncia sobre a ditadura no Chile

    Enquanto isso, foi dada a largada à mostra competitiva de curtas-metragens.

    Até que ponto um filme fraco pode ser perdoado por suas boas intenções? Cabras de Merda, segundo filme apresentado na mostra competitiva do 28º Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, denuncia os abusos de poder de Pinochet, enquanto dá voz às vítimas da ditadura no Chile. A história gira em torno de três personagens: a jovem militante Gladys (Nathalia Aragonese), seu filho Vladi (Elías Collado) e o missionário religioso Samuel (Daniel Contesse), por quem Gladys se apaixona.

    O tema é importante, especialmente nos dias de hoje, permitindo ao público brasileiro enxergar ecos de sua própria história naquela vivida pelos vizinhos sul-americanos. No entanto, o diretor Gonzalo Justiniano aposta num melodrama padronizado, com direito a romances impossíveis, criancinhas em perigo e vilões perversos.

    Pelo apelo a sentimentos universais, Cabras de Merda deve se comunicar com um público amplo - ele foi bastante aplaudido ao final da sessão. No entanto, como forma de cinema, proporciona um discurso pouco elaborado, e incômodo pela posição inocente em que coloca os Estados Unidos.

    Leia a nossa crítica.

    A segunda noite do festival também trouxe os primeiros curtas-metragens em competição. O carioca Plantae, de Gustavo Gehr, se destacou pela animação onírica sobre a ação do homem na natureza. Ao contrário do didatismo comum às denúncias políticas, o filme opta por uma narrativa metafórica, como se a árvore cortada recusasse seu destino de ir para as mãos do madeireiro.

    O filme traz imagens belíssimas, com destaque para a minuciosa atenção à fotografia e ao relevo das plantas. O contraste entre a animação realista da natureza e os traços cartunescos do personagem humano também produzem um interessante contraste. Talvez a elipse final, com uma longa tela preta, prejudique um pouco o bom ritmo do curta, mas o resultado é um projeto excepcional em termos estéticos e narrativos.

    O pernambucano A Menina Banda, de Breno César, parte de um conceito singular: em um pequeno vilarejo rural, uma garotinha produz sons de orquestra com partes do seu corpo. Quando levanta os braços, ouvimos um piano. Quando mexe o tronco, é a vez das percussões, e assim por diante. O instante em que o fenômeno é demonstrado ao espectador, sem diálogos, é particularmente bem-sucedido.

    A partir desse instante, o curta se desenvolve com um olhar de constatação: cena após cena, testemunhamos a menina banda produzindo sons. As imagens são belíssimas, muito adequadas ao ritmo contemplativo e lúdico. No entanto, seria interessante se a premissa musical se desenvolvesse, tanto para a sociedade como para a própria vida da menina, destituída de psicologia. No final, o projeto é dedicado "à infância que existe dentro de cada um".

    O paulista A Ponte, de Rafael Câmara, parte de um impasse: dois cortejos se confrontam numa ponte estreita, e ambos querem passar primeiro. Um dos grupos vai a um casamento, o outro, a um funeral. A premissa alegórica poderia dizer algo sobre os nossos tempos de intolerância, promover alguma forma de associação entre a vida e a morte. No entanto, o roteiro prefere o humor simples, os enquadramentos fechados no detalhe que interessa, os diálogos escritos em excesso.

    Este é possivelmente o projeto mais popular entre os três apresentados, mas também o menos aprofundado esteticamente. Em meio a um elenco pouco confortável com seus personagens-tipos, destaque para Walter Breda, que consegue imprimir delicadeza a um marido em luto.

    O 28º Cine Ceará continua no dia 6 de agosto com a exibição do aguardado drama Petra, de Jaime Rosales, que integrou a Quinzena dos Realizadores em Cannes. A mostra competitiva de curtas-metragens segue com as projeções de Maria Cachoeira, de Pedro Carcereri, O Evangelho Segundo Tauba e Primal, de Márcia Deretti e Márcio Júnior, Eu Sou o Super-Homem, de Rodrigo Batista, e Nomes que Importam, de Ângela Donini e Muriel Alves.

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