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    The Alienist abraça o suspense de época - para o bem e para o mal! (Crítica)

    Daniel Brühl, Dakota Fanning e Luke Evans estrelam a minissérie indicada ao Emmy.

    Nota: 3,0 / 5,0

    The Alienist não é uma série para todos os públicos. Afinal, o pontapé inicial para sua história é o assassinato brutal de um jovem de 13 anos, vestido com roupas femininas, que teve olhos e genitais arrancados, durante o século XVIII. Ou seja, não é um tópico leve para se tornar aquela série bacana que você vê durante um almoço... Porém, também não se trata de um show que deveria fugir da atenção do espectador.

    Adaptação do livro homônimo de Caleb Carr, a série gira ao redor de Laszlo Kreizler (Daniel Brühl), o alienista do título (como psicólogos e psiquiatras eram chamados na época). Percebendo como o crime acima pode ter sido obra de um serial killer, ele junta uma inusitada equipe para investigá-lo, diante das descrenças da opinião pública. Para isso, ele conta com o apoio de seu leal amigo, o ilustrador John Moore (Luke Evans); e a moderna Sara Howard (Dakota Fanning), a primeira mulher a trabalhar na polícia de Nova York.

    Durante dez episódios, o público é jogado num mistério no estilo de Sherlock Holmes, com um protagonista sagaz e antipático; mergulhando no aspecto sombrio do mundo de antigamente. Em desenvolvimento desde 2015, a série idealizada por Cary Fukunaga sabe construir um clima de tensão e imediatismo, com algumas surpresas interessantes pelo caminho. Por outras vezes, é capaz de incomodar quando coloca seu foco narrativo na forma como os gays eram considerados "pervertidos", construindo um paralelo com a forma que a sociedade ainda trata diferenças nos dias atuais, infelizmente. Ao mesmo tempo, a direção não tem medo de exagerar em cenas gráficas, dando close em poças de sangue e corpos mutilados.

    O grande problema é que a construção desse clima sombrio ganha mais destaque que o desenvolvimento da história em si. Apostando num investimento estético impecável, a trama passa mais tempo mergulhando nesse aspecto, reconstruindo tal época, demorando um bom tempo nessa ambientação longa e sombria. Mas não apresenta o mesmo esforço em conteúdo. Por vezes, a história passa a ser arrastada, em outras é rápida demais. Em determinados momentos, o foco se perde completamente, investindo em subtramas românticas desnecessárias e enrolações que tentam gerar suspense, mas acertam no tédio. Uns episódios a menos poderiam beneficiar o show.

    Se a modernidade não consegue ser transmitida na hora de adaptar essa história para o olhar do público atual, é bom destacar como esse lado contemporâneo surge em suas personagens femininas. Sara é uma personagem incrivelmente corajosa e inteligente; Esther (Daisy Bevan) mostra uma visão moderna de vida; Mary (Q'orianka Kilcher) não tem medo de sujar suas próprias mãos pelo que deseja... Até a tradicional avó de John (Grace Zabriskie) tem fortes opiniões e as expressa quando quer.  

    No elenco, é impressionante o destaque para Daniel Brühl, que constrói um personagem paradoxal, mesmo sem fugir de uma expressão séria, apostando em olhares e entregas rápidas de suas falas. Por sua vez, Dakota Fanning apresenta a melhor performance de sua carreira adulta, conseguindo transmitir todas as dificuldades de uma personagem que foge das limitações de sua sociedade. Já Luke Evans traz charme, mas não tem muito o que fazer com um papel praticamente inútil. Se a dinâmica entre os irmãos vividos por Douglas SmithMatthew Shear é boa, Brian Geraghty fica preso num Roosevelt que parece ter medo de arriscar o legado de uma figura real.

    Apesar de ser considerada uma minissérie, vale lembrar que o livro de Caleb Carr ganhou uma continuação. Seria possível uma segunda temporada no estilo Big Little Lies? De uma forma ou outra, The Alienist é uma atração rara na TV atual e já merece reconhecimento por isso.

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