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    Woody Allen afirma que deveria ser uma referência para o movimento #MeToo

    Mais um capítulo para a controvérsia envolvendo o cineasta.

    Dimitrios Kambouris

    As acusações de Dylan Farrow; a reavaliação de Manhattan; e o movimento #MeToo, incluindo o escândalo Harvey Weinstein: todos estes assuntos entraram na pauta de uma longa entrevista feita pelo jornal argentino Periodismo Para Todos com Woody Allen. E o polêmico cineasta, que se manteve majoritariamente em silêncio nos últimos meses face às denúncias e protestos contra sua obra, abriu o jogo e declarou, em uma sutil alfinetada aos seus críticos, que deveria ser o "rosto" do movimento #MeToo (via Quartz):

    "Acredito que é triste qualquer situação em que qualquer um é acusado de maneira injusta. Acho que todos concordam com isso... Todos querem que a justiça seja feita. E se há algo como o movimento Me Too agora, você torce por isso, você quer ver estes terríveis assediadores sendo punidos, essas pessoas que fazem coisas terríveis [...] O que me incomoda é ser ligado a eles. Àqueles que foram acusados por 20, 50, 100 mulheres de abusos e abusos e abusos - e eu, que só fui acusado por uma mulher em um caso de custódia infantil que foi julgado e arquivado, sou colocado no mesmo grupo que esses assediadores [...] Sou um grande defensor do movimento Me Too [...] Eu deveria ser o rosto do pôster do movimento Me Too. Trabalho na indústria há 50 anos. Já trabalhei com centenas de atrizes e nenhuma delas - sejam elas famosas, importantes ou novatas - sequer sugeriu nenhum tipo de comportamento impróprio da minha parte. Tenho um ótimo histórico com elas", sentenciou Allen.

    A controvérsia em torno do cineasta ganhou força novamente durante o ápice do #MeToo, cujo estopim foi a revelação das décadas de abusos sexuais cometidos pelo ex-produtor e ex-magnata de Hollywood, Harvey Weinstein - ele está prestes a enfrentar os tribunais após ser formalmente processado por estupro. Recapitulando: no início da década de 1990, Allen foi acusado de ter abusado sexualmente de sua filha Dylan Farrow. Apesar de ter sido avaliado e arquivado pelo Serviço Social de Nova Iorque e por uma junta de médicos especializados em crimes de abusos infantis, o caso ressurgiu com força total e, nos últimos tempos, inúmeros colaboradores de Allen expressaram arrependimento por terem trabalhado com ele. Agora, o diretor vê seu próximo filme, A Rainy Day in New York, ameaçado: de acordo com fontes internas da Amazon, o estúdio considera cancelar a estreia do longa apesar do longo contrato com o cineasta.

    Ainda na mesma entrevista, o realizador voltou a negar as denúncias de Dylan Farrow, recentemente refutadas em um longo artigo escrito por Moses Farrow, seu irmão e outro dos filhos adotivos de Woody Allen: "É claro que não fiz nada, quer dizer, isso é uma loucura. É um caso que foi amplamente examinado há 25 anos por todas as autoridades e todos chegaram à conclusão de que as alegações eram falsas. E foi o fim do caso e eu segui com a minha vida. O retorno dessas acusações... É terrível acusar alguém do que eu sou acusado. Sou um homem que tem sua própria família e seus próprios filhos. Então é claro que isso é perturbador".

    Por fim, Allen também comentou sobre a situação envolvendo o controverso Manhattan, um de seus mais aclamados filmes e obra que tornou-se alvo de revisões à luz dos recentes acontecimentos por causa do relacionamento central do longa, entre um homem de meia-idade (Allen) e uma adolescente (Mariel Hemingway): "Quando fizemos Manhattan, Marshall Brickman e eu escrevemos o roteiro procurando a graça na situação. Achamos que o cenários nos daria várias oportunidades para fazermos muitas piadas, sabe, com um homem mais velho e uma mulher mais nova - pensamos constantemente em fazer piadas em que a moça não tem ideia do que o homem está falando e as diferenças entre as referências e as gerações deles. Mas foi só isso que pensamos, que seria uma boa ideia".

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