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    Kleber Mendonça Filho publica carta aberta para o Ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão

    Cineasta defende a legalidade da captação do filme, protesta contra punição inédita e sugere represália por seu posicionamento político contra o Governo Michel Temer.

    O diretor Kléber Mendonça Filho publicou carta aberta no Facebook direcionada ao Ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão. O Ministério da Cultura (MinC) cobra a devolução de mais de R$ 2 milhões referentes à verba concedida para realização do filme O Som ao Redor, alegando que o longa-metragem excedeu o teto permitido para captação de longa-metragem de baixo orçamento. Segundo KMF, a publicação se deve às tentativas de discutir a questão por "contato pessoal e marcação de uma agenda oficial, sem sucesso" com Sá Leitão. Sendo assim, ele expôs o seu lado da história para todos. De maneira detalhada e técnica.

    O Som ao Redor custou R$ 1,7 milhão (o valor superior a R$ 2 milhões diz respeito à correção monetária). O Edital de Baixo Orçamento do MinC tem um limite de R$ 1,3 milhão. Kléber Mendonça Filho detalha que a Ancine forneceu R$ 1 milhão. Os outros R$ 300 mil vieram de um prêmio da Petrobrás no valor total de R$ 571 mil — tendo a produção do filme devolvido a verba excedente para cumprir o teto de recursos federais previsto no Edital de BO. Os R$ 410 mil que faltavam para a financiar o longa foram captados junto à Funcultura, órgão estadual de Pernambuco.

    Kléber Mendonça Filho explica que seu consultor jurídico à época indagou a Coordenação de Editais da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura sobre a legalidade de complementar o financiamento de O Som ao Redor com a verba estadual da Funcultura. KMF alega que obteve a resposta de que "a captação de recursos não federais não violaria os limitadores dispostos no edital de Baixo Orçamento em questão", restritos à esfera federal.

    "Nós nunca faríamos alteração de orçamento sem o acompanhamento das agências responsáveis, elas próprias regidas por regras internas duras", assina KMF, que questiona o fato de o MinC buscar uma irregularidade não identificada pela própria Ancine. "Pergunto ao senhor se houve comunicação entre o MinC e a Ancine para tentar esclarecer essa questão institucional que não deveria ser transformada numa punição inadequada para os produtores de um filme exemplar", questiona.

    KMF ainda afirma que o dever de Sérgio Sá Leitão na função de Ministro da Cultura é representar a classe artística, mesmo que, em âmbito pessoal, possa haver entre eles "ideias distintas sobre temas como o Cinema, a Cultura e o país". Neste momento, o cineasta levanta um ponto muito discutido desde que essa cobrança se tornou pública: o fato de Sá Leitão ter opiniões divergentes de Kléber Mendonça Filho antes mesmo de ter sido escolhido por Michel Temer para ocupar a pasta da cultura de seu Governo.

    "É de suma importância que esse meu escrito não perca de vista a natureza dessa situação. No Brasil dos últimos tempos, a nossa capacidade de expressar indignação como cidadãos vem sendo diminuída, creio que por dormência", afirma Kléber, sugerindo retaliação por sua posição política. No lançamento de seu último longa-metragem, Aquarius, no Festival de Cannes 2016, o diretor protestou junto ao elenco principal do filme — Maeve Jinkings, Sonia BragaCarla RibasHumberto Carrão — contra o impeachment de Dilma Roussef. "Um golpe de estado assola o Brasil", dizia o cartaz de Kléber.

    A carta aberta de Kléber Mendonça Filho encerra exaltando a expansão da produção artística pelo país desde que "critérios de cota regional passaram a vigorar". Ele defende que é preciso ter coragem para contar histórias brasileiras, enfrentando "dilemas de um país dividido pela desigualdade social e pela ação de políticos torpes ao longo de décadas de história". E que, movido por isso, ele filmou O Som ao Redor, Aquarius e seu novo filme, Bacurau, cujas filmagens terminaram há duas semanas.

    Confira a carta aberta de Kléber Mendonça Filho ao Ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão — e à sociedade:

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