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    A História dos Blockbusters - Parte 3: Os reis do mundo

    Da queda do Muro de Berlim ao "bug" do milênio, Hollywood experimentou um período de intensas - e bilionárias - mudanças.

    SPIELBERGMANIA - PARTE II

    Após um período de quase 10 anos alternando entre dramas praticamente feitos para o Oscar e narrativas que repetiram ou deram sequência direta aos motivos e temas de suas obras anteriores, Steven Spielberg retornou ao auge da inovação em 1993. Além de lançar A Lista de Schindler (US$ 321 milhões), que venceria 7 Oscar e lhe renderia sua primeira estatueta da Academia como diretor, o realizador nova-iorquino também deu luz a uma aventura cuja premissa já é suficiente para impressionar: um parque de diversões onde os clientes se divertem - até certo ponto - com... dinossauros geneticamente recriados em laboratório! É claro que estamos falando de Jurassic Park - Parque dos Dinossauros, que arrecadou US$ 914 milhões e desbancou o campeão geral anterior das bilheterias, seu "irmão" E.T. - O Extraterrestre.

    Apesar de ter recebido a bagatela de quase US$ 250 milhões pela aventura jurássica, Spielberg também teve que liberar bastante grana. Os impressionantes dinossauros robóticos e os incríveis efeitos visuais - produzidos pela ILM (Industrial Light & Magic), companhia de George Lucas - custaram, junto ao restante da obra, aproximadamente US$ 63 milhões. Para vender todas as maravilhas que desenhou, o produtor e cineasta gastou mais US$ 65 milhões de publicidade. O esforço, evidentemente, rendeu ótimos resultados: mais de 86 milhões de estadunidenses assistiram ao longa, classificado pela crítica como um "entretenimento colossal", um "espetáculo visual" e um "marco cinematográfico". Baseado no livro homônimo de Michael Crichton, mesmo autor do material base de Westworld, Jurassic Park deu origem a mais de 1000 produtos licenciados, reavivou o interesse frenético do público pelos grandes efeitos especiais, deu à luz um parque de diversões nos arredores da Disneylândia e anunciou o novo objetivo da indústria: entrar para o seleto clube do bilhão - que seria "inaugurado" quatro anos depois.

    Mas o triunfo de um filme não é medido apenas pelo seu próprio rendimento. Na história dos blockbusters, como já vimos anteriormente, longas erguem-se por si próprios mas também têm seus êxitos realçados pelo fracasso de seus concorrentes - atualmente, não há exemplo melhor desta dicotomia do que o duo formado pelo Universo Cinematográfico Marvel e pelo Universo Estendido da DC. Desta forma, ao mesmo tempo em que Spielberg e seus imensos dinossauros se aproximavam do inédito bilhão, a primeira tentativa de adaptar um videogame falhava miseravelmente. Em 1993, Super Mario Bros. obteve apenas US$ 20 milhões, menos da metade de seu orçamento de US$ 48 milhões - seria este longa a pedra fundamental da maldição que paira sobre as bilheterias das adaptações de jogos eletrônicos até hoje?

    FLOPANDO

    Os flops, ou as bombas cinematográficas, não foram "inventados" na década em questão, mas certamente conheceram um período de "desenvolvimento" por causa das expectativas geradas sobre produções cada vez mais megalomaníacas. Se no final da década de 1960 a bolha finalmente estourou em Hollywood, a boa saúde financeira da indústria trinta anos depois fez com que os executivos apostassem que novos tempos de declínio demorariam a chegar - previsão correta, aliás, uma vez que Hollywood vem passando praticamente incólume às crises desde a recuperação dos anos 70/80. Portanto, quando os blockbusters dos anos 90 sofriam quedas, o tombo era severamente mais dolorido porque a altura de seus voos era proporcional ao tamanho do insucesso. Data de 1995, por exemplo, o primeiro reboot malsucedido do cinema de super-heróis - e logo com o mais vitorioso personagem até então: o Homem-Morcego.

    Não se pode dizer que Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997) tenham acarretado prejuízos, uma vez que arrecadaram US$ 336 milhões e US$ 238 milhões, respectivamente. Todavia, a brusca quebra da interpretação de Tim Burton e de Michael Keaton e a "inexpressiva" abordagem de Joel Schumacher, como definiu a crítica, prejudicaram ambas as obras. Hoje, ambos são mais lembrados pelos seus fracassos - de quem foi a ideia de apresentar trajes com mamilos de borracha? - do que pelos seus (poucos) méritos. Em Hollywood, arrecadar mais que o suficiente para pagar os custos de produção, mas render muito pouco ou quase nada na visão da imprensa especializada, é sinônimo de fracasso - e outros exemplos de flops do período incluem O Juiz (US$ 113 milhões); A Ilha da Garganta Cortada, cujos risíveis US$ 10 milhões arrecadados representam apenas 10% do orçamento total; e Waterworld - O Segredo das Águas (US$ 264 milhões), conhecido como "O Portal do Paraíso de Kevin Costner".

    Como os equívocos da concorrência fazem a alegria dos estúdios ao alavancar suas produções, a casa de Mickey Mouse sorriria de orelha a orelha entre 1994 e 1995 por causa dos lançamentos de O Rei Leão e Toy Story. Esta, a primeira animação computadorizada da história e pontapé inicial do império de US$ 12 bilhões de arrecadação da Pixar, foi o filme mais bem colocado no ranking de público em 95, com US$ 373 milhões. Posteriormente, o longa dirigido por John Lasseter - afastado do estúdio após acusações de assédio sexual, em 2017 - gerou uma franquia e tornou-se um verdadeiro fenômeno cultural. A outra aventura supracitada, por sua vez, estava sendo planejada desde 1988 com o objetivo de extrair a essência do Hamlet, de William Shakespeare, para transferir a clássica tragédia para o reino animal. O resultado da ousadia? O Rei Leão arrecadou US$ 768 milhões no fim de sua jornada original nas telonas globais.

    MAIS DESASTRES, POR FAVOR

    Lembram da gloriosa época em que pessoas ficavam presas em prédios em chamas, aviões encaravam riscos de cair e tubarões assassinos infestavam os mares? É, os filmes-catástrofe, após um hiato, voltaram com força total nos anos 1990 - e com um toque especial: por que matar somente meia dúzia de personagens se você pode destruir o mundo inteiro? Do micro ao macro, os disaster movies experimentaram um período de renovação ao colocar o futuro de toda a humanidade em perigo de uma só vez - e o destaque principal fica com o rei do gênero na década, Independence Day (US$ 817 milhões). Para além do retorno das tragédias climáticas e/ou alienígenas - Twister, com US$ 494 milhões, também se destacou -, a metade de 1990 também reservava a redenção dos espiões: além de Missão Impossível (US$ 454 milhões) estrear, coroando Tom Cruise como um dos maiores astros de todos os tempos, James Bond também voltou com força total após seis anos distante das telonas. Com Pierce Brosnan como protagonista, 007 Contra Goldeneye revitalizou a saga 007 com uma injeção de US$ 352 milhões.

    Prestaram atenção nas tendências citadas? Ótimo, porque as mais lucrativas "modas" seguidas por Hollywood culminariam no maior ápice da indústria em 1997, momentos antes da virada para o século XXI.

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