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    Paddington 2: Diretor revela inspiração em Charles Chaplin e Buster Keaton para fazer cinema com diversão e emoção (Entrevista exclusiva)

    Paul King buscou no criador de Amélie Poulain a inspiração para tornar Londres um personagem do filme, e revela o prazer de trabalhar com Hugh Grant e Sally Hawkins.

    Paul King surgiu como um nome ao mesmo improvável e perfeito para comandar um filme sobre Paddington, ursinho famoso na literatura britânica. Por um lado, sua experiência recente na televisão e apenas um longa-metragem alternativo no currículo deixavam uma dúvida em se tratando de uma propriedade tão popular, importante, em sua primeira adaptação ao cinema. Por outro, a inventividade demonstrada no tresloucado Bunny e o Touro, com latente diálogo entre fábula e realidade, bem como a energia natural do cineasta, pareciam adequados à principal propriedade do autor Michael Bond.

    Pois os prós prevaleceram e As Aventuras de Paddington foi um sucesso capaz de tornar o personagem conhecido em todo o mundo, faturando relevantes US$ 268 milhões nas bilheterias, sendo muito visto na televisão e atraindo a simpatia de quem o assistiu. Diante disso, foi um enorme desafio para Paul King retornar para mais um capítulo e transformar Paddington não apenas em uma franquia, como um produto relevante em sua continuação, independente, assim pavimentando um desejado caminho duradouro da franquia.

    O cineasta revelou essa e mais questões em entrevista exclusiva ao AdoroCinema. No bate-papo a seguir, King conta como é trabalhar com um grande elenco estrelado por Hugh Bonneville (Downton Abbey), Sally Hawkins (A Forma da Água) e o galã Hugh Grant (Um Lugar Chamado Notting Hill) como um vilão ímpar; fala sobre as ótimas referências do filme — de Charlie Chaplin a Jean-Pierre Jeunet; comenta brevemente o impacto das acusações contra Harvey Weinstein na distribuição de Paddington 2; e, dentre outros, responde se a franquia continuará, e se com ele no comando. Confira:

    Qual é a principal diferença entre levar Paddington aos cinemas pela primeira vez e em realizar esse segundo filme?

    Certamente, o que eu mais aprendi a fazer foi um filme daquela escala. Eu nunca tinha trabalhado em algo daquele tamanho antes, com um elenco tão incrível, e enorme... Mas algo que eu achei bem difícil de fazer foi um filme que não fosse igual ao primeiro. Eu busquei encontrar uma história que existisse por si só, e que não fosse como se eu estivesse fazendo o primeiro filme de novo. Esse foi um grande desafio.

    Bacana, pois você conseguiu fazer uma boa continuação. Do que você mais se orgulha nesse filme?

    Há alguns momentos dos quais me orgulho muito. Do começo, naquele momento puramente cinematográfico em que a história é contada oficialmente. Logo depois, quando surgem a prisão, a cela, é uma sequência maravilhosa, da qual, como diretor, eu me orgulho muito. A cena em que Hugh Bonneville e Sally Hawkins invadem a casa do Hugh Grant também… Adoro a forma como a comédia funciona nesse momento.

    Aliás, conta como é fazer esses filmes com Hugh Bonneville, que é um ator muito respeitado, Sally Hawkins, que acaba de ser indicada ao Oscar...

    Eu gosto demais desse elenco. E Sally, particularmente, eu conheço há um bom tempo. Ela é uma velha amiga, que eu conheci assim que terminou sua formação na escola de arte dramática. Eu escrevi Mary, sua personagem, com Sally em mente, porque ela é incrível, brilhante, e construiu muito bem algo que não existia. Um dos desafios dos filmes do Paddington é o fato de o urso não estar lá na gravação. Então, os atores precisam não só pensar nas suas falas, como também no que o urso estaria fazendo naquele exato momento. E, quando comecei a fazer as animações, nas cenas em que ela estava atuando, eu percebi que as nuances que ela expressa em sua performance refletem pequenos movimentos no rosto de Paddington que nem eu imaginava que estariam lá, mas ela tem esse talento extraordinário.

    Como você convenceu o Hugh Grant a fazer o vilão?

    Eu não conhecia Hugh. Nunca tido sido apresentado a ele. Aí eu pensei, "Dane-se!". Escrevi uma carta a ele dizendo "Temos um personagem que é um ator que era muito famoso, agora não é mais, e ele é importante no filme, tem mais ou menos aa sua idade, é muito malvado, e pensamos em você!" Foi assim. Hugh tem um ótimo senso de humor, é muito profissional... Tivemos muita sorte de ele ter aceitado.

    E como foi trabalhar com ele no set? Ele está muito divertido na tela.

    Sim, Hugh é muito engraçado! Ele improvisava bastante, levando isso não só para sua atuação, mas também para o roteiro. Ele chegava com sugestões de falas, novas ideias, e é isso que queremos: alguém que pegue o que temos e torne ainda melhor, duas vezes melhor. Isso é tudo que um diretor deseja. E Hugh faz isso.

    Eu notei várias influências cinematográficas em Paddington 2, como Charlie Chaplin e, principalmente, Buster Keaton.

    É, eles são uma enorme influência para mim. Buster Keaton é um dos meus cineastas e comediantes preferidos de todos os tempos, Charlie Chaplin também, e eles têm uma grande influência em mim porque são engraçados e universalmente compreensíveis. Seus filmes são feitos com o coração, com emoção. Eu não consigo assistir O Garoto sem chorar, nem Luzes da Cidade. Meu desafio foi fazer algo assim, que tivesse uma mistura de humor e emoção. Outro cineasta que me inspirou foi Jean-Pierre Jeunet, que fez Delicatessen e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Eu queria abordar Londres, contar uma história em Londres… Então, eu quis fazer de Londres o que ele fez por Paris em Amélie Poulain. Se tivermos conseguido tornar Paddington 2 um filme ao estilo Jeunet, ficaremos felizes.

    Falando em Londres, eu citei Buster Keaton porque um de seus grandes filmes, A General, possui uma cena de trem icônica que vocês emulam em Paddington 2. Conta como você convenceu os produtores a fazer essa sequência.

    [Risos] Sim, essa cena foi uma grande produção. Realmente, foi um tanto mais difícil de filmar, e mais caro. Mas acho que o mais importante foi convencer as pessoas de que essa sequência devia ser engraçada, para não deixar a ação tomar conta da gravação. Por isso tivemos a ideia da cena em que o personagem do Hugh Bonneville abre as pernas, e alguns outros momentos que o David [Heyman, produtor] sugeriu e, no final, valeram o desafio. Eu fiquei bem feliz de gravá-la. Foi uma experiência que tomou o dia todo no set, mas foi divertida.

    Falando em inspirações, em alguns momentos de Paddington 2 eu vejo o cinema de Wes Anderson, no modo como os personagens se comportam diante da câmera e, principalmente, quando eles usam rosa. Ele também é uma inspiração? Foi uma referência proposital?

    Não acho que tenha sido proposital fazer referência ao Wes Anderson, mas tem mesmo um enquadramento bastante formal que eu me diverti bastante filmando. Mas não tenho certeza de que estava pensando nele quando fiz...

    Gostaria de fazer uma pergunta mais delicada agora. Você acha que as polêmicas envolvendo Harvey Weinstein possam impactar Paddington 2 de alguma forma. Em termos de distribuição, indicação em premiações ou qualquer outra coisa?

    Não... Acho que não. Acho que Paddington 2 não tem possibilidade de ser indicado para algo grande, como um Oscar, e se por algum milagre conseguíssemos, seria só ano que vem. Seria incrível, mas...

    Você planeja fazer uma próxima sequência de Paddington?

    Nós adoraríamos fazer outro filme. Ele é um personagem adorável e tem muitos livros que servem como inspiração. No momento, precisamos pensar em como estamos financeiramente, para então pensarmos em novas histórias e no público, mas não há nada certo.

    Mas é algo que gostaria de fazer em seguida?

    Esse universo é adorável para mim, com que eu adoro passar o meu tempo, mas eu gostaria de fazer outras coisas. Então, eu precisaria ver como as coisas estarão. Quando a oportunidade surgir, vai depender do que estiver acontecendo no momento.

     

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