Minha conta
    10 filmes tão ruins, mas tão ruins que viraram clássicos cults

    Conheça o lado Z da sétima arte!

    A PORTA DA LOUCURA

    Conheça o avô dos piores filmes de todos os tempos: A Porta da Loucura, uma propaganda governamental tresloucada em formato de longa-metragem contra a pior e mais violenta droga de todos os tempos... a maconha - que, vale lembrar, pode ser utilizada para tratar certas doenças. A cartela inicial do filme anuncia os efeitos da droga: primeiro, o usuário é acometido por uma risada violenta e incontrolável; em seguida, alucinações perigosas começam a ocorrer, distorcendo a percepção espacial-temporal do usuário. Logo, ideias fixas dão lugar a extravagâncias monstruosas, e a juventude perdida para a droga perde o controle de suas faculdade mentais e não mais consegue resistir aos seus impulsos primitivos. No fim, depois de cometer atos chocantes e violentos contra outras pessoas, o usuário da maconha é atacado por uma insanidade incurável. Ou seja, a droga seria uma praga em forma de substância psicotrópica que transforma pessoas em zumbis. Nem mesmo George A. Romero, o papa do cinema dos mortos-vivos, pensaria nisso, tamanha a loucura que se instalou na mente dos produtores desta obra precursora de todos os outros filmes ruins. Às vezes, dizer que um longa não tem um gênero definido pode ser um baita elogio: clássicos como Blade Runner, o Caçador de AndróidesAliens pertencem a mais de um tipo de código cinematográfico ao mesmo tempo; no caso de A Porta da Loucura, no entanto, decretar que não existem gêneros por aqui significa dizer que o filme não tem a menor ideia do que está fazendo. É um drama? Um suspense? Um terror? Uma ficção científica, de algum modo? Uma fantasia? Um documentário? Pode ser tudo isso. Ou nada. Ou até mesmo um pássaro, um avião... Por aí vai. A única droga que chega remotamente perto de causar um estado de insanidade incurável como o combatido por A Porta da Loucura é o próprio filme. Se o camp é definido por tudo aquilo que é "bom porque é horrível", então esta comédia involuntária, confusa e hilária, é camp até a última ponta. Quer dizer, até a última cena.

    PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL

    Se The Room é o Cidadão Kane dos filmes ruins, Plano 9 do Espaço Sideral é o equivalente à 2001 - Uma Odisseia no Espaço, obra-prima de Stanley Kubrick, desta infame categoria. Este é a obra mais famosa do pior diretor de todos os tempos: Ed Wood, cineasta que foi homenageado por Tim Burton no filme homônimo, uma comédia dramática que precede Artista do Desastre. Contado por um narrador onisciente que parodia os cinejornais da época, Plano 9 do Espaço Sideral acompanha a dramática aventura de alienígenas zelosos que ressuscitam e comandam zumbis e vampiros para impedir que a humanidade construa uma espécie de "arma do juízo final" que pode destruir o Sol: no caso, este é o tal plano 9 do título. É evidente que a ficção científica, com seus atores sofríveis e suas cenas que necessitavam de efeitos visuais que só seriam desenvolvidos anos depois, é um dos piores filmes já feitos por todos os seus problemas - que vão muito, muito além dos poucos citados acima. Contudo, a ridícula tentativa de Wood é tão pífia que acaba tornando-se, de certo modo, charmosa e simpática. Plano 9 do Espaço Sideral é o filme que você ama odiar e odeia amar: é péssimo, mas em todas suas falhas, há um certo quê de ingenuidade que atenua o paupérrimo resultado final. Todos os planos são pobres em todas as questões cinematográficas possíveis e nem mesmo a trilha sonora constantemente presente consegue informar e manipular o público da maneira correta; todavia, simplesmente desenvolvemos um afeto pela inocente empreitada de Wood e de seus companheiros, atores marginalizados e/ou em fim de carreira, como Bela Lugosi. É da natureza humana torcer pelos desfavorecidos em qualquer tipo de narrativa, seja ela real ou ficcional - o que não quer dizer que ver Plano 9 do Espaço Sideral até o término dos créditos seja tarefa fácil: quando você acredita que está prestes a acabar, ainda falta bastante tempo para que os "curtos" 79 minutos de duração se encerrem.

    GLEN OU GLENDA?

    Na cartela inicial de Glen ou Glenda?, Ed Wood anuncia: este é um filme de "puro realismo"; que busca trazer os fatos de maneira imparcial; que é uma semi-biografia de temas "estranhos" e "curiosos" que deliberadamente não escolheu as "saídas fáceis"; e, por fim, pede para que nós, enquanto sociedade, não julguemos os personagens. No entanto, Glen ou Glenda? já começa a descer ladeira abaixo após três minutos, provando-se ser um filme que necessitaria de um diretor e de um roteirista mais capacitados para executá-lo. O problema é que, contando com o cientista maluco/filósofo/feiticeiro de Bela Lugosi, existem pelo menos três narrativas em jogo, o que faz com que Glen ou Glenda? funcione, de certo modo, em um registro metalinguístico. Assim, se tivesse sido escrito por um roteirista como Christopher Nolan, perito em narrativas em forma de quebra-cabeças, ou se a escrita fosse realizada por um roteirista que soubesse, de fato, analisar as profundas temáticas sobre gênero e sexualidade de Glen ou Glenda?, tudo poderia ficar bem. Contudo, como é Ed Wood o responsável pela direção e pelo roteiro, o que você ganha é um show de argumentos tão leves e sutis quanto um elefante que passeia por uma loja de porcelanas. O desejo de contar uma história relevante é óbvio, mas a pura falta de capacidade para fazer isso de uma maneira cinematográfica faz com que Glen ou Glenda? se aproxime mais de uma coletânea ruim de comerciais ou de um vídeo educativo governamental - afinal de contas, agências estatais não são conhecidas por sua sutileza artística, como bem vimos no caso de A Porta da Loucura. Glen ou Glenda? falha, portanto, em ser um tratado analítico sobre a sociedade estadunidense ou sobre seus tabus, é um equívoco como melodrama sobre a transsexualidade e fracassa como pseudo-documentário social. Mas as coisas ficam "boas" de verdade quando Lugosi surge na tela. Todas as suas falas são incongruentes, o seu sotaque é impossível e, de repente, estamos ouvindo um sermão sobre dragões sem saber muito bem o objetivo. E, logo em seguida, nos deparamos com uma sequência de sonho tão absurda e tenebrosa que faria David Lynch parecer um diretor realista e Freud desistir de sua profissão. Ah, o momento em que o capeta em pessoa aparece também é bastante interessante, ainda que o sentido de sua presença continue sendo uma incógnita. Seria Glen ou Glenda? é um sonho experimental de Bela Lugosi? Seria esta uma comédia surrealista? Prepare-se para sentir burro: é necessário ter um Q.I. de pelo menos 200 pontos para compreender o que se passa, de fato, em Glen ou Glenda?.

    E os dragões verdes voltam! São quase 20 minutos sobre dragões verdes que teoricamente estão à espreita. Mas o que são esses dragões verdes? De onde Bela Lugosi tirou esses dragões verdes? O que Glen ou Glenda? tem a ver com dragões verdes? No fim das contas, Glen ou Glenda? talvez seja o melhor filme sobre a natureza dos sonhos e dos desejos humanos - se eles são realmente incompreensíveis, ninguém trata melhor do assunto do que esta obra-prima camp.

    BÔNUS: O SACRIFÍCIO

    Nicolas Cage é um dos maiores especialistas em fazer as piores escolhas de carreira da história. Ele é o cara que tem um Oscar por Despedida em Las Vegas e que trabalhou com diretores aclamados como Joel e Ethan CoenDavid Lynch e Martin Scorsese, mas também é o mesmo cidadão que insistiu em protagonizar uma série de filmes de ação, suspense e terror que parecem ser todos iguais. Portanto, uma lista com "os melhores piores filmes do mundo" não seria completa sem a presença de Cage. E quando se trata do tétrico O Sacrifício, maiores explicações não são necessárias. Afinal, este é o longa em que o ator grita "Não, as abelhas não!" - sim, a cena do famoso meme - como se os insetos tivessem invadido o cérebro dele e tomado controle de todas as faculdades mentais. Não precisamos dizer mais nada, né?

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top