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    10 filmes tão ruins, mas tão ruins que viraram clássicos cults

    Conheça o lado Z da sétima arte!

    Cidadão Kane. Oito e Meio. Ladrões de Bicicleta. Era Uma Vez em Tóquio. A Regra do Jogo.

    Estes são alguns dos melhores filmes de todos os tempos. No entanto, o Cinema, esse senhor de 123 anos, não vive apenas de triunfos. Cineastas como Orson Welles, Federico Fellini, Ingmar BergmanAkira KurosawaAndrei Tarkovski podem ter feito história, mas a sétima arte também é o que é por causa de seus maiores fracassos: afinal de contas, para conhecer a alegria, é preciso ter passado pela dor, como já diriam os filósofos.

    Aproveitando o lançamento de Artista do Desastre nas telonas brasileiras - a comédia dramática de James Franco presta homenagem àquele que é considerado o pior dos piores longa-metragens de todos os tempos, a maior bomba atômica cinematográfica, o "genial" The Room -, o AdoroCinema decidiu preparar (sofrendo incansavelmente no processo, é claro) uma seleção com 10 clássicos do lado Z do cinema:

    THE ROOM

    "É bom porque é horrível". Quando Susan Sontag assim definiu o Camp, fenômeno estético que tem predileção por tudo aquilo que é teatral, exagerado e/ou artificial, o folcórico The Room ainda estava longe de se tornar uma realidade. Mas por mais que tenha sido lançado quase 40 anos após o ensaio de Sontag sobre o Camp, o filme estrelado, escrito, dirigido, produzido e patrocinado a partir de uma fortuna misteriosa pelo cartunesco Tommy Wiseau é o melhor exemplo do que a autora quis comunicar. Não é à toa que The Room, brilhantemente recontado em Artista do Desastre, seja considerado o "Cidadão Kane dos filmes ruins". Assim como Welles, Wiseau também subverteu as regras do cinema - só que para o lado inverso. Ridiculamente interpretado, debilmente roteirizado e risivelmente dirigido, The Room é tão horroroso que no meio deste bizarro e pavoroso drama sobre um bancário que, repentinamente e sem motivo algum, é traído por sua noiva e seu melhor amigo, o espectador começa a entender porque o Camp exerce tanto fascínio quanto repulsa. E começa a acreditar que o pior filme de todos os tempos é uma obra-prima involuntária feita para atingir o auge do cinema pela contra-mão. E começa a ter certeza de que Wiseau é um gênio incompreendido - e que sua obsessão maníaca por futebol americano faz algum sentido. Ou talvez não. Ou talvez sim. Ainda estamos confusos.

    A RECONQUISTA

    O exagero, quando bem utilizado, pode fazer com que um filme supere sua artificialidade. Para Sontag, inclusive, o Camp é uma forma de ver o mundo de uma maneira cômica, de acabar com a seriedade através da teatralidade. Sem ele, por exemplo, não existiriam os populares filmes de Guerra nas Estrelas ou os diálogos rápidos, hilários e nada realistas de roteiristas aclamados como Quentin Tarantino e Aaron Sorkin. Grandes filmes podem ser, sim, um pouco bregas - e, afinal de contas, o que seriam os melodramas sem o camp? Mas existem limites. Quer dizer, menos para a zuera e para o quanto A Reconquista pode ser tétrico. Esta atrocidade em forma de ficção científica, descrita pelo crítico Roger Ebert como uma longa viagem ao lado de alguém que não toma banho há dias, até pode enganar. No ano 3000, os seres humanos, correndo risco de extinção, são escravizados por alienígenas que desejam explorar todas as reservas de ouro do planeta. Mas se depender de Jonnie Goodboy Tyler (Barry Pepper), líder e herói da resistência humana que aprende a falar a língua do inimigo após ser sequestrado, ainda será possível encontrar uma forma de virar o jogo. Parece ok, não é mesmo? É, mas como dizia sua avó, não confie nas aparências. Confie no momento em que John Travolta surge como um alienígena rastafári de cinco metros de altura para entender por que A Reconquista, projeto pessoal do ator, foi recusado por todos os estúdios de Hollywood. Dirigido por um "cineasta" que parecia disposto a causar enjoo nos espectadores a cada ângulo de câmera entortado, A Reconquista é uma masterclass em como quase jogar sua carreira recém-conquistada pelo ralo. Se você quer ser como o Travolta dos anos 90 - ainda que esta não seja a melhor das ideias -, basta fazer o seguinte: comece como um ator de musicais oitentistas; atinja o fundo do poço dublando bebês que falam como adultos (duas vezes); retorne ao topo com uma obra-prima como Pulp Fiction; e depois volte à estaca zero como um alien gigantesco cientologista - o filme é baseado na obra homônima de L. Ron Hubbard, criador da polêmica seita. Isso que é um planejamento de carreira eficiente.

    TROLL 2

    "Quando algo é apenas ruim (e não Camp), frequentemente é ruim porque sua ambição é demasiado medíocre. O artista não tentou fazer nada realmente exótico", escreve Sontag. Exótico, no entanto, é um conceito insuficiente para começar a descrever Troll 2, este conto de fadas que vai te assombrar, mas não da maneira pretendida por Claudio Fragasso, vulgo Drake Floyd, o cineasta responsável por... essa coisa. Vamos lá. Uma continuação que não tem nada a ver com o suposto filme original? Atores que poderiam ter sido substituídos por cones de trânsito? Diálogos tão ofensivos que poderiam incriminar seus roteiristas por tentativa de homicídio? Trilha sonora pasteurizada retirada de algum banco de canções pré-existentes? Uma cidade cujo nome - Nilbog -, quando lido ao contrário, revela todos os "horrores" que estão à espera dos protagonistas? Um velho sábio imaginário que retorna dos mortos? Uma família esquisita que, no fundo, parece ter graves e preocupantes problemas de negligência parental? Máscaras de monstros compradas no Saara, na 25 de Março ou na principal rua de comércio popular da sua cidade? Gosmas verdes escorrendo por todos os cantos possíveis? Um trabalho de câmera que consegue combinar o pior das cinematografias italiana e estadunidense? Efeitos especiais mais ameaçadores do que encarar um ônibus lotado na hora da volta da praia? Sim, sim e sim. Troll 2 tem tudo isso. Mas sabe qual é a melhor parte? Os vilões do filme são Goblins vegetarianos disfarçados de humanos realmente medonhos que transformam suas presas - no caso, a desavisada família de turistas - em plantas através de comidas enfeitiçadas para poderem se alimentar. Por essa você não esperava, não é mesmo?

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