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    Arquivo pessoal de Woody Allen é composto por roteiros misóginos, segundo jornalista do The Washington Post

    Os documentos, apelidados de "Woody Papers" pelo repórter, guardam ideias bastante controversas para filmes e contos, entre outras anotações.

    A recente avalanche de corajosos testemunhos das vítimas de assédio sexual em Hollywood que ajudou a derrubar poderosos como Harvey WeinsteinKevin SpaceyLouis C.K. sempre tangenciou outro controverso nome da indústria: o do diretor Woody Allen. Além do fato de que o artigo expondo os crimes de Weinstein foi escrito por Ronan Farrow, filho do realizador, pesam também as acusações de abuso e pedofilia feitas contra o diretor por Dylan Farrow, sua filha; e a polêmica relação - e posterior matrimônio - do artista com sua ex-enteada, Soon-Yi Previn, iniciada quando a jovem sequer havia completado 20 anos de idade. Até então, Allen escapara do atual escândalo de assédios, mas isso parece prestes a mudar.

    De acordo com o jornalista Richard Morgan, em um longo e inquietante artigo escrito para o jornal The Washington Post, o cineasta e roteirista guarda e alimenta 56 caixas com seus arquivos pessoais desde 1980 na Universidade de Princeton, em Nova Jérsei. A questão é que o conteúdo destes documentos, que varia desde ideias para roteiros e contos à anotações variadas e até mesmo entrevistas fictícias, é repleto de misoginia - o ódio ou aversão às mulheres - e marcado por uma "insistente e vívida obsessão por mulheres jovens e adolescentes". No texto, Morgan batiza os documentos de Woody Papers, em referência aos inúmeros casos de vazamentos de controversos arquivos que marcaram a história dos EUA, como os dos Pentagon Papers - que deram origem ao filme The Post - A Guerra Secreta.

    Esta última temática, inclusive, deu origem a um dos filmes mais celebrados de Allen, Manhattan. No drama romântico, Allen interpreta um comediante de 42 anos que tem uma relação proibida com a personagem de Mariel Hemingway, de apenas 17 à época. Ainda, o próximo longa do realizador, A Rainy Day in New York, atualmente em fase de montagem, supostamente inclui uma sequência em que um homem de 44 anos - interpretado por Jude Law e muito provavelmente baseado na persona de Allen, como de costume em sua filmografia -, tem uma relação sexual com uma adolescente de apenas 15 anos. Outras anotações para roteiros e contos presentes nos Woody Papers também incluem personagens femininas entre 15 e 18 anos frequentemente descritas de maneira abertamente sexual por narradores de meia-idade.

    A descoberta mais perturbadora de Morgan, no entanto, realçada pelo próprio jornalista, é a de uma ideia descartada, entre o final da década de 60 e o início dos anos 70, para um longa cujo título seria The Filmmaker. Na trama, Allen interpretaria um documentarista cult, inspirado no cineasta Federico Fellini, que faz bicos como diretor de filmes pornográficos para manter seu estilo de vida e de sua mulher culta, porém fria, Susan. Os problemas do personagem - que se chamaria justamente Woody Allen, assim como em O Que Há, Tigresa? - são "solucionados" quando ele encontra seu novo amor em um manicômio: Jennifer, uma jovem esquizofrênica. No fim do filme, o diretor deixaria Susan no altar para viver seu romance com a nova conquista.

    A assessoria de Allen foi procurada pelo The Washington Post, mas não obteve nenhuma resposta do cineasta de Roda Gigante, que normalmente se mantém recluso e não concede entrevistas. Morgan finaliza o artigo levantando o debate sobre a separação entre a arte e o artista, defendida por alguns e criticada por outros: "Amar a arte trata-a como um produto finalizado, polido e embalado para o público. Mas quais são os pensamentos que fazem parte da arte? As emoções? As prioridades? A feiura? Toda arte é parcialmente autobiográfica — vem do interior da mente de alguém, da alma. O arquivo de Allen mostra o que está dentro da dele".

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