Minha conta
    Mostra de São Paulo 2017: Filho de Abbas Kiarostami revela que último filme do diretor será lançado no Brasil (Entrevista exclusiva)

    Produtor de "24 Frames", Ahmad Kiarostami foi o responsável pela finalização do filme póstumo deixado pelo diretor iraniano.

    Jalal Morchidi/Getty Images

    Em 4 de julho de 2016, o cinema chorou a morte de Abbas Kiarostami, responsável por pérolas como Gosto de CerejaO Vento nos Levará e Cópia Fiel. Um ano depois, o Festival de Cannes exibiu o último trabalho do diretor, 24 Frames, um belo projeto experimental no qual explorava o movimento a partir de imagens, sempre de forma contemplativa em relação à natureza. Confira nossa crítica!

    O produtor Ahmad Kiarostami, filho do diretor e responsável pela conclusão do projeto após seu falecimento, veio à Mostra de São Paulo para apresentar o longa-metragem. Em entrevista exclusiva concedida ao AdoroCinema, ele falou sobre como 24 Frames foi elaborado, as dificuldades em concluí-lo e ainda revelou uma novidade: o filme será lançado no circuito comercial brasileiro, ainda sem data marcada. Confira!

    ADOROCINEMA: "24 Frames" foi feito ao longo de cinco anos. Como foi a seleção de cada frame, de cada quadro que compõe o filme?

    AHMAD KIAROSTAMI: Partiram de ideias e temas diferentes. No fim das contas, o que importa é como eles te fazem sentir. Por exemplo, o frame acompanhado por “Ave Maria”, acho que é o décimo, tem a sombra de um pássaro, com uma cortina meio fechada. Acho que aquela é a janela da casa do meu pai, costumava ir lá há muitos anos quando era criança e havia um pássaro que fez um ninho entre a janela e a cerca. Ele fez um ninho e colocou ovos lá, então vimos todo o processo, do nascimento das crias ao voo dos pássaros. Foi uma experiência mágica.

    Meu pai adorava essa canção, “Ave Maria”. Às vezes, quando tínhamos convidados em casa e meu pai não queria que o vai e vém incomodasse os pássaros, nós fechávamos as cortinas. Então, o que você vê naquele quadro era o que acontecia na minha casa. Não é exatamente o que acontecia porque não há um ninho naquele frame, mas lembro da sombra do pássaro por trás das cortinas.

    No frame em que uma gaivota é alvejada, algumas desaparecem enquanto outras retornam para o luto. Aos poucos, elas voltam e recomeçam a voar, a planar no vento. Meu pai tinha uma filha adotiva que morreu em um acidente de carro, pouco mais de um ano antes de meu pai falecer. Ele nunca se recuperou desse incidente. O frame das gaivotas foi feito para ela. O que aconteceu foi um choque, algumas pessoas voltaram à vida normal, mas alguns pássaros sentaram na praia e nunca voaram novamente. Esse é o jeito que ele encontrou para dizer que a vida não era mais como antes. Então, são temas diferentes.

    AC: Gosto muito do segundo frame, o dos dois cavalos como se estivessem dançando ao som de tango.

    AHMAD KIAROSTAMI: Ele dedicou este frame a Martin Scorsese. Este é o único que ele viu e exibiu nas telonas, os outros não ficaram prontos a tempo. Ele mostrou este quadro no Festival de Lyon, quando eles fizeram uma mostra para Martin Scorsese.

    AC: Soube que seu pai trabalhou em mais 40 frames para este filme.

    AHMAD KIAROSTAMI: Ele trabalhou em aproximadamente 40 frames e escolheu 30, porque não gostou do resultado de 10 deles. Mas desde o início, a ideia era ter 24 frames. Então, nós tínhamos que escolher 24 destes 30 frames.

    AC: Como foi finalizar este filme após o falecimento do seu pai?

    AHMAD KIAROSTAMI: Muito emocionante e difícil. Mas foi um trabalho muito técnico. Ele já tinha deixado toda a parte criativa pronta, e aí nós adicionamos o som. Ele já tinha escolhido a trilha sonora, deixou os frames preparados.

    AC: Pude ver o filme no Festival de Cannes e desde então ele tem rodado diversos festivais. Como tem sido a reação do público ao filme?

    AHMAD KIAROSTAMI: Foi surpreendente, para ser honesto. Antes de mais nada, até onde eu saiba, este é o primeiro experimento cinematográfico a ser exibido na sala principal do Festival de Cannes. Antes de exibirmos o filme, achávamos que era um filme bom para museus. Mas, depois da exibição, tivemos ótimas críticas. Conversamos com o diretor da Criterion Collection e eles disseram que definitivamente queriam o filme. Então, a Criterion comprou os direitos do filme para os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido. A reação foi bem melhor do que o esperado.

    AC: E quanto ao Brasil? Ele será exibido no país após a Mostra?

    AHMAD KIAROSTAMI: A Renata de Almeida [produtora da Mostra de São Paulo] vai lançar o filme. Não poderia estar mais feliz. Ela é a melhor pessoa para lançar esse filme, a Mostra de São Paulo era um de seus festivais favoritos.

    AC: Como era a relação do seu pai com os brasileiros? Muitos filmes dele foram exibidos aqui.

    AHMAD KIAROSTAMI: Ele adorava o Brasil. Na terceira vez que ele veio para São Paulo, a revista de Francis Ford Coppola fez uma matéria sobre uma garota que o seguiu pelas ruas. Vim para cá pela primeira vez há 12 anos e nós sempre brincávamos que os brasileiros eram nossos primos. Todos são muito receptivos e calorosos, parece que conhecemos todos daqui. É como ser parte da família. Meu pai amava o Brasil.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Pela web
    Comentários
    Back to Top