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    Tarantino se diz "envergonhado" por não ter se manifestado antes contra o comportamento de Harvey Weinstein

    "Eu sabia o suficiente para fazer mais do que fiz", declara o cineasta sobre o produtor e amigo acusado de assédio sexual.

    Quentin Tarantino é o amigo mais ilustre de Harvey Weinstein, primeiro distribuidor a acreditar no cineasta desde a sua estreia em Cães de Aluguel, e cuja parceria como produtor nunca mais parou desde Pulp Fiction: Tempo de Violência. Com isso, o cineasta afirmou que precisava de um tempo para processar o misto de emoções (de tristeza a raiva) decorrente das inúmeras acusações de assédio sexual contra o o colega de profissão e amigo pessoal. Pois bastou uma semana para ele se dizer envergonhado por não ter se posicionado antes sobre o comportamento do executivo.

    "Eu sabia o suficiente para fazer mais do que fiz", admitiu Tarantino, em entrevista (via New York Times), citando diversos episódios envolvendo atrizes de renome. "Havia mais que apenas rumores, uma fofoca normal. Não vinha de um terceiro. Eu sabia que ele tinha feito algumas dessas coisas", lamenta o diretor, que gostaria de ter "assumido a responsabilidade do que ouviu" e nunca mais trabalhado com Weinstein: "Tudo que eu diga agora soará como uma desculpa ruim".

    Tarantino diz isso porque, embora horrorizado com a gravidade dos relatos publicados por The New York Times e The New Yorker, de fato "marginalizou" tudo que se dizia sobre Weinstein (e, segundo ele, muita gente na indústria sabia). Uma das pessoas que contou-lhe sobre o comportamento abusivo do produtor era então sua namorada: Mira Sorvino, que estrelou Poderosa Afrodite para a Miramax de Harvey Weinstein.

    Segundo Mira, Harvey a massageou sem seu consentimento, a perseguiu até um quarto de hotel e, em uma ocasião bizarra, chegou ao ponto de aparecer em seu apartamento no meio da noite "Eu fiquei chocado, estarrecido", diz Tarantino: "Eu não conseguia acreditar que ele faria isso tão abertamente. Eu fiquei: 'Sério? Sério?' E o que eu pensei na época foi que ele estava particularmente louco pela Mira."

    Em sua cabeça, toda aclamação em torno da atuação de Mira Sorvino no filme de Woody Allen fizera Weinstein se apaixonar pela atriz e "passar dos limites terrivelmente". Apesar do choque com o relato, Tarantino não repreendeu o amigo na ocasião, certo de ser um caso isolado que não se repetiria mais. "Eu estou com ela, ele sabe disso, ele não irá mexer com ela. Ele sabe que ela é minha namorada", conta o cineasta, lembrando seu raciocínio na ocasião.

    Quentin Tarantino soube de um outro caso em primeira mão, e tomou uma atitude, questionando Harvey. Segundo a vítima (que confirmou a história ao TNYT, mas preferiu manter sua identidade em sigilo), o puxão de orelha do cineasta surtiu certo efeito, mas tudo que o produtor fez além de não mais assediá-la foi um pedido de desculpas esfarrapado.

    Outra história conhecida por Tarantino era sobre o acordo entre Harvey Weinstein e Rose McGowan (À Prova de Morte), vítima que fez as revelações mais contundentes contra o executivo, acusando-o de tê-la estuprado em um quarto de hotel em Sundance. O produtor negou todas as alegações de sexo não consensual com McGowan e outras mulheres.

    Sobre os relatos de terceiros, o cineasta disse que os enxergava como "uma imagem do chefe dos anos 50 e 60 correndo em volta da mesa atrás de sua secretária". "Como se isso fosse certo. Essa é a torta na minha cara agora", disse Tarantino, admitindo sua culpa, pela omissão, e que os homens de Hollywood como um todo permitiram que isso existisse. "O que antes era aceito agora é insuportável para qualquer um com o mínimo de consciência."

    Tarantino termina a entrevista dizendo que tem ligado para outras pessoas próximas a Weinstein e as aconselhado a não se assustarem com tudo que está acontecendo, até mesmo evitam falar sobre o caso — apenas admitam que algo de muito errado acontecia e é preciso apoiar suas "irmãs" em Hollywood. Outra pessoa que recebeu telefonemas seus foi o próprio Harvey; que, ineditamente, não atendeu às suas ligações.

    Perguntado sobre como todas as chocantes notícias envolvendo Harvey Weinstein podem afetar sua própria filmografia (integralmente realizada em parceria com o produtor), Quentin Tarantino pausou e disse: "Não sei... Espero que não", respondeu, pensativo.

     

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