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    Festival do Rio 2017: Realidade Virtual, o futuro do cinema - e da humanidade

    O AdoroCinema cobriu o ciclo de palestras dedicado à tecnologia durante o RioMarket.

    Montados, animados e finalizados pela brasileira Maria Fernanda Lauret, jornalista e editora do Al-Jazeera, os documentários I Am Rohingya e Oil in Our Creeks, selecionados para o Festival do Rio, colocam o experimentador em dois cenários de desolação.

    No primeiro filme, acompanhamos os passos de Jamalida, uma refugiada Rohingya, povo muçulmano de Myanmar que não é aceito nem em seu país natal e muito menos na nação vizinha, Bangladesh. Presos em campos de refugiados, os Rohyngia são um povo sem identidade, mas que continuam a lutar pelas suas vidas e por esperança. Já no segundo, seguimos os passos de Lessi, uma professora nigeriana que tenta inspirar suas jovens alunas a batalharem pelos seus destinos frente aos impactos de um trágico desastre ambiental – a explosão de um oleoduto que devastou a paisagem hídrica da região.

    Ambas situações seriam evidentemente impactantes em um documentário tradicional. Mas quando narradas em RV, especialmente com o apoio das animações de Lauret, que compõem a realidade retratada, as duas histórias ganham uma profundidade ainda maior. Ao invés de estarmos sentados, "encarando" as duas narrativas, estamos lá, dentro de uma cena estrangeira aos nossos corpos, ao lado daquelas duas guerreiras. Ao familiarizar uma situação que é tão distante para nós, a RV, nas palavras de Chris Milk, torna-se uma máquina de empatia.

    Se nos primórdios da humanidade éramos criaturas que viviam em pequenas unidades familiares, hoje somos cidadãos globais. E se com as últimas tecnologias – como a internet e os smartphones – nós nos individualizamos e nos isolamos enquanto espécie, a RV chega com a promessa de, paradoxalmente, ser uma máquina que nos tornará mais humanos; que nos tornará mais próximos e mais responsáveis em relação ao Outro.

    Todavia, como Rabah Guendouz, especialista em segurança de dados, aponta, é necessário pensar nas implicações psicológicas, sociais, econômicas, artísticas, políticas e éticas da utilização da Realidade Virtual durante sua gestação para que as gerações futuras empreguem a tecnologia da melhor forma possível. Por lidar com a memória e consciência humanas, a RV precisa ser desenvolvida de forma que a alteração de perspectiva efetuada não se assemelhe, por exemplo, aos efeitos de uma droga alucinógena.

    Por isso, a educação dos experimentadores, cineastas, produtores e desenvolvedores é crucial. Fábio Hofnik – curador e diretor do HyperFestival, primeira mostra brasileira inteiramente dedicada aos filmes em Realidade Virtual –, anunciou que pretende criar centros de ensino para instruir os interessados na RV. Guedes e Pacart, por sua vez, ressaltaram que é preciso utilizar a nova tecnologia de forma ética e narrativamente consciente. Diferentemente do que foi feito com o 3D, a RV deve ser mais que um enfeite.

    Além disso, há o problema do custo. Ainda que existam óculos menos custosos como o Google CardBoard – aproximadamente R$ 60 –, a RV não passa de um sonho distante para o comprador médio. Ainda, a maior parte dos filmes em RV que chegam ao Brasil não têm legendas. Assim, no momento, a tecnologia atinge um público restrito em solo nacional, composto por experimentadores que falam línguas como o inglês e o francês e que têm acesso aos festivais de cinema. Os multiplexes de RV – projeto da rede de cinemas AMC e da OculusRift, gigante do segmento –, podem ser uma boa forma de reunir inúmeros experimentadores em um mesmo espaço, barateando a experiência ao seguir o modelo tradicional.

    Estes são os sonhos e desafios encontrados pelos pioneiros da Realidade Virtual, tecnologia que promete ser o futuro do cinema e da humanidade.

    Para os interessados, os filmes em Realidade Virtual do Festival do Rio continuam em exibição até amanhã, dia 15 de outubro, das 14:30 às 19h, no Centro Cultural da Justiça Federal, região central da Cidade Maravilhosa. E na edição do ano que vem, a mostra carioca deve promover sua primeira seção competitiva dedicada exclusivamente aos filmes em RV, além de organizar laboratórios, palestras e eventos sobre a nova tecnologia.

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