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    'Netflix dos cinemas' reduz a menos de dez dólares por mês acesso diário aos filmes em cartaz nos Estados Unidos

    Compra do MoviePass por uma gigante internacional de coleta de dados viabiliza a drástica medida de popularização do serviço — que pode atuar no Brasil em breve.

    MoviePass, o serviço conhecido nos Estados Unidos como a Netflix do cinema (você paga uma taxa mensal e pode ir ao cinema todo dia), também causou forte impacto na indústria na última semana. Na terça-feira (15), o serviço de assinatura de ingressos de cinema anunciou uma drástica redução no preço de sua mensalidade, que passa a custar US$ 9,95 nos Estados Unidos.

    O plano em questão permite que o assinante assista a um filme por dia a esse custo fixo abaixo de 10 dólares. A questão é que o tíquete médio de um ingresso no território norte-americano é de US$ 8,84. A medida causou a fúria do mercado cinematográfico, mas também atingiu o objetivo principal de conferir visibilidade ao serviço. A procura foi tamanha que provocou a queda do site do MoviePass.

    A promoção é a grande jogada de Mitch Lowe — cofundador da Netflix contratado para o cargo de CEO do MoviePass no ano passado — para enfim alavancar o serviço, lançado em 2011. Após adotar, sem sucesso, um sistema de precificação que diminuiu o custo da assinatura para US$15 em cidades pequenas, mas provocou seu aumento para US$50 nos grandes centros, o executivo foi arrojado: vendeu parte majoritária das ações do MoviePass, conseguindo, assim, viabilizar seu novo plano de massificação do serviço.

    Um sonho e um debate

    "O objetivo é conseguir financiamento para nossos novos parâmetros de preço", prometeu Lowe ao anunciar a transação junto à empresa de análise de dados Helios and Matheson. "Nós estamos mudando o que os consumidores pensam sobre ir ao cinema ao tornar possível experimentar uma gama mais ampla de filmes — do blockbuster das férias ao documentário aclamado pela crítica — por meio de um modelo de assinatura", declarou o executivo, que acredita que o lugar ideal para se ver um filme é o cinema.

    O sonho do MoviePass é o pesadelo dos grandes exibidores. Presente em mais de 90% das salas, desde as principais cadeias, como AMC, Regal e Cinemark, ao dito circuito de arte, o serviço provoca questionamentos aos preços praticados pela indústria. "Acreditamos que convencer os consumidores de que filmes novos podem ser assistidos nos cinemas em grande quantidade a um preço mensal de US$ 9,95 não traz nada de bom para os espectadores", reage a AMC, que combate o preço "insustentável" praticado pelo concorrente tentando impedir que o serviço atue em suas bilheterias.

    A magia do MoviePass

    O modelo de atuação do MoviePass é engenhoso. Ao mesmo tempo, genial e controverso. Que exige de seus assinantes um cartão e um celular. Pelo aplicativo do serviço (que só funciona a até 100 metros da bilheteria do cinema — um pequeno problema), o usuário escolhe o filme, a sessão e compra o ingresso. Quando a transação é autorizada, o valor exato do ingresso cai no cartão, o assinante se dirige à bilheteria e compra o bilhete.

    Portanto, o MoviePass não dá prejuízo nenhum aos exibidores (o que levanta uma questão ampla sobre a sua rejeição ao modelo), mas a si mesmo. À data de seu lançamento, o serviço previa parcerias com exibidores, estúdios e outras marcas para compensar a operação negativa, tida por analistas de mercado como irreversível — até sua compra pela Helios and Matheson.

    Presidente da empresa indiana, Ted Farnsworth explica que a transação viabilizará ampla coleta de dados sobre o comportamento do espectador de cinema, devido à informações contidas na base do MoviePass. Assim, a empresa terá lucro em venda de produtos, serviços, publicidade — "não diferentemente do Facebook ou do Google", segundo Farnsworth, em defesa a questões sobre a ética do big data em sua atividade de vigilância dos gostos de um indivíduo. Uma discussão ampla, que contempla o cultural, o financeiro e o moral.

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