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    Cine PE 2017 exibe Toro em outra noite de destaque dos curtas-metragens

    A densidade dramática de Tronco, a ambição questionadora de Autofagia, o suspense psicológico de Sal, a dor e a poesia do traço abstrato de Quando os Dias Eram Eternos.

    Toro, última ficção exibida pela competição principal no Cine PE 2017, porta um aspecto comum de seus concorrentes: a irregularidade. No segundo filme de sua ambiciosa Trilogia da Vida Real, Edu Felistoque volta a subaproveitar sua boa premissa com um roteiro mal desenvolvido, sequências frouxas, muitas vezes antecipatórias de suas reviravoltas. A dramaturgia é falha, o ritmo é ditado por uma trilha sonora banal e a história do bom protagonista, pensada como tragédia, é concretizada numa combinação estranha de pastiche policial e melodrama barato.

    Crítica completa em breve.

    As mostras competitivas de curtas-metragens, por sua vez, mantém a regularidade e a qualidade. Tronco explora bem a dilatação do tempo, em contraponto com a limitação espacial, para compor suficientemente, e de maneira potente, um drama familiar de narrativa minimalista sobre a decadência (física, psicológica, interpessoal) de um lar.

    Autofagia segue a cartilha do cinema de arte na composição das imagens, numa construção pictórica, arrojada, que destoa de seu clímax violento — o que reflete a concretização óbvia do que deveria ser uma alegoria sobre transfobia, religião, hipocrisia e a voracidade humana. Apesar disso, o filme de Felipe Soares segue tendo inequívoca relevância, uma cinematografia muito boa (como todos os curtas da noite) e uma cena final (embora nada sutil) expressiva, uma verdadeira pintura.

    Sal é um dos curtas em live-action mais completos do Cine PE 2017, com dois ótimos atores, personagens bem construídos, e uma direção de fotografia requintada, condizente, que eleva o patamar de uma trama de suspense convencional — onde reside o seu único problema. O roteiro de Claudia Barral e Marcos Barbosa preserva o mistério de maneira forçosa, extremamente manipulativa, produzindo diálogos inverossímeis que comprometem a dramaturgia do filme. Por bem, Diego Freitas e André Martins retomam as rédeas no clímax, compõem um leitmotiv (rima visual) brilhante entre a primeira e a última cena e terminam o thriller de maneira empolgante, em que até a cartela final anunciando se tratar de uma história baseada em fatos reais intensifica a experiência do curta.

    Primeiro filme animado vencedor na categoria de curtas e médias-metragens do Festival de Brasília, em 2016, Quando os Dias Eram Eternos encanta com seus traços abstratos, vivazes, numa adequação perfeita de ambição e execução. Assim, Marcus Vinícius Vasconcelos explora as possibilidades da animação e da ficção para potencializar os sentimentos contrastantes de um filho que retorna à casa de infância para cuidar da mãe em fim de vida.

    Hoje no Cine PE 2017

    As mostras competitivas se encerram hoje (2), tendo como principal atrativo a estreia da comediante Fabiana Karla na direção (ao lado de Chico Amorim) de um longa-metragem, o documentário O Caso Dionísio Diaz. Dentre os curtas, o doc pernambucano Entre Andares, de Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel, a animação brasiliense José, de Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos, e o curioso documentário paulista Aqueles Anos em Dezembro, de Felipe Arrojo Poroger.

    O AdoroCinema viajou a convite da organização do evento. 

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