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    Cinema em realidade virtual, a nova fronteira

    Evento do Festival Varilux de Cinema Francês exibe oito curtas em cinemas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    Há mais de um século, o conceito básico do cinema se refere à uma tela transmitindo imagens para alguém. Se a forma alterna entre a experiência coletiva de uma sala de cinema ao conforto individual a partir da televisão, tablet ou até mesmo celular, fato é que a experiência do espectador sempre foi passiva em relação ao que é exibido... até agora!

    O cinema em realidade virtual tem por conceito básico promover a imersão absoluta do espectador, eliminando as fronteiras bidimensionais. A proposta é arremessar quem assiste em um mundo narrativo repleto de movimentos e sensações, onde a quarta parede simplesmente não existe. Assim é o curta Carne y Arana, dirigido por Alejandro González Iñárritu (Birdman) e exibido no Festival de Cannes deste ano, que retrata a fuga alucinada em uma tentativa de atravessar a fronteira entre México e Estados Unidos. Ou no curta exibido no Alien Day, às vésperas da estreia de Alien: Covenant, onde o espectador entra na pele do infectado que tem um ser extra-terrestre saindo de si através da costela.

    "A realidade virtual é uma nova opção que vem somar às possibilidades dos autores para contar histórias. Porque, no fim das contas, o que importa é a história, independente da plataforma", afirma Michel Reilhac, especialista no formato que veio ao Brasil para ministrar palestras sobre RV no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    Fato é que, aos poucos, o cinema em realidade virtual ganha espaço. Tanto que o Festival Varilux de Cinema Francês neste ano trouxe uma mostra de oito curtas em RV, exibidos nos cinemas Odeon (Rio de Janeiro) e CineArte (São Paulo). A iniciativa foi um sucesso, gerando filas de cinéfilos e curiosos para ver como era a tal experiência imersiva.

    360º ≠ Realidade Virtual ≠ Realidade Aumentada

    Mas, afinal de contas, como funciona o cinema em realidade virtual? Para início de conversa, é necessário abrir mão do aspecto coletivo existente no cinema atual; todos usam um capacete RV, o que faz com que sua experiência seja única, por mais que os usuários sigam a mesma narrativa. São os seus movimentos que definem o caminho a ser seguido dentro da história.

    Entretanto, é importante não confundir RV com os formatos 360º ou em realidade aumentada. Se o primeiro mantém o aspecto bidimensional, permitindo apenas que o espectador altere o ângulo da história apresentada a partir do dedo deslizado na tela, o segundo tem como exemplo maior a armadura utilizada pelo Homem de Ferro nos filmes da Marvel. Através de telas em RA, disponibilizadas diante dos olhos, é possível interagir com elementos do mundo real - devido a esta característica, não é possível (ainda) se falar em cinema em realidade aumentada. Como criar uma narrativa pré-estabelecida a partir de algo que você vê naquele exato momento?

    No caso da realidade virtual, o espectador está inteiramente cercado pelo mundo narrativo - o que gera um desafio ainda maior nas filmagens, já que câmeras e operadores precisam se disfarçar em meio ao cenário, para que não sejam identificados durante a própria história. A imersão provocada faz com que a empatia ao que acontece seja potencializada, de forma que o espectador sinta-se mais próximo aos personagens e seus sentimentos. Não por acaso, muitos se referem ao RV como "fornecedor de experiências".

    Uma questão importante pré-definida na narrativa implementada é se o corpo do espectador existe ou não no universo em RV - ou seja, se ele apenas observa ou também existe naquele ambiente, havendo a possibilidade de ser reconhecido. A interatividade com personagens e objetos é o grande desafio, de forma a sincronizar ações múltiplas e até mesmo ver seu próprio corpo - algo que, ainda, possui limitações técnicas.

    O futuro do cinema?

    Por mais que seja uma tecnologia instigante e promissora, ainda é cedo para afirmar que o cinema migrará rumo à realidade virtual. O custo e o peso dos capacetes ainda são impeditivos consideráveis, ainda mais no mercado brasileiro. Entretanto, já é possível notar alguns movimentos no sentido da criação de histórias a partir do RV.

    Além dos próprios curtas exibidos no Festival Varilux, várias têm sido as iniciativas no sentido de promover filmes feitos dentro do formato tradicional do cinema. São os chamados filmes-complemento, que se apropriam de ideias externas para propiciar a imersão dentro de um ambiente pré-concebido, sem que haja o compromisso de estabelecer uma nova história. É o que aconteceu no já citado caso do Alien Day ou com o brasileiro O Rastro, que teve uma experiência em RV disponibilizada na Comic Con Experience 2016. Ready Player One, próximo longa-metragem dirigido por Steven Spielberg, terá um complemento em RV com duração de 40 minutos. O aguardado Blade Runner 2049 seguirá o mesmo caminho.

    Apesar das dificuldades e limitações técnicas, já existe até mesmo um longa-metragem feito inteiramente em realidade virtual. Trata-se de Jesus VR, com 95 minutos de duração e lançado no Festival de Veneza 2016, que acompanha a história de Jesus Cristo. O próprio Michel Reilhac trabalha em uma série feita inteiramente neste formato: Mona, com oito episódios de 10 minutos cada. E, vale lembrar, Ridley Scott gostou tanto da experiência em RV com Alien: Covenant que resolveu criar um estúdio dedicado apenas ao formato.

    Se ainda há dúvidas sobre o quanto a realidade virtual influenciará o cinema no futuro, já é possível notar algumas situações interessantes existentes no mundo atual. Através do aplicativo Netflix VR, pode-se assistir filmes em ambientes criados em realidade virtual, como um chalé com lareira ou até mesmo na Lua. O filme em si é exibido no formato tradicional, mas o ambiente que o cerca é todo em RV - e você pode até mesmo aumentar a tela do tamanho que desejar.

    Mas isso, é claro, se você tiver em mãos um capacete ou óculos em RV. O sucesso do formato depende muito da popularização destes utensílios, algo que pode acontecer já nos próximos anos. Ao menos é o que prometem as empresas de tecnologia, como Google e Apple, que tem se dedicado à área e prometem lançamentos em RV para breve. Até lá, resta acompanhar os próximos passos deste possível caminho para a sétima arte e aproveitar oportunidades como a oferecida pelo Festival Varilux, onde se pode ter um gostinho do cinema em realidade virtual sem qualquer custo para o espectador.

    Mostra de Realidade Virtual no Festival Varilux:

    • cinema Odeon (Praça Floriano, 7, Rio de Janeiro, foyer do 2º andar) => até 18 de junho, das 13h30 às 20h30
    • cinema Cine Arte (Av. Paulista, 2073, São Paulo) => até 18 de junho, das 14h às 22h
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