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    Atriz de The Birth Of a Nation fala sobre escândalo envolvendo a acusação de estupro contra o diretor

    "Por mais importante que seja este filme, não posso encarar essas acusações com leveza", disse Gabrielle Union.

    Jeff Vespa / WireImage / Getty Images

    Gabrielle Union, atriz de The Birth Of a Nation, divulgou um artigo de opinião no jornal Los Angeles Times onde fala sobre a controvérsia que cerca o diretor e protagonista do filme, Nate Parker. A atriz, que já atuou em filmes como 10 Coisas Que Eu Odeio em Você e Bad Boys II, foi bastante franca sobre sua vida pessoal ao comentar as acusações de estupro contra Parker, que voltaram à tona depois de 17 anos e a fizeram lembrar de traumas íntimos.

    "Há 24 anos, eu fui estuprada por um homem armado no frio e escuro quarto dos fundos da loja em que trabalhava", escreve Union. "Há dois anos eu entrei para o elenco de um filme com um roteiro brilhante chamado The Birth Of a Nation para interpretar uma mulher que foi estuprada. Há um mês atrás me enviaram uma reportagem sobre Nate Parker, o talentosíssimo diretor, roteirista e protagonista deste filme. Há 17 anos, Nate Parker foi acusado e absolvido de um crime sexual. Há quatro anos, a mulher que o acusou cometeu suicídio".

    Com um primeiro parágrafo que sintetiza todo o caso envolvendo o cineasta responsável pelo longa-metragem, Union diz que quando soube do caso ficou num "estado de confusão de revirar o estômago". "Eu aceitei este papel porque eu me identificava com a experiência [da personagem]. Eu também queria dar voz para a minha personagem, que permanece em silêncio durante todo o filme. Em seu silêncio ela representa as incontáveis mulheres negras que foram e continuam sendo violadas. Mulheres sem voz, sem poder. Mulheres em geral, mas mulheres negras em particular".

    No ano de 1999, Parker e Jean McGianni Celestin, seu amigo, colega de quarto e colega na equipe de luta olímpica na Universidade Estadual da Pensilvânia, foram acusados de terem estuprado uma outra estudante da mesma universidade, que afirmou que estava intoxicada e inconsciente durante o ato. Celestin divide com Parker os créditos pelo roteiro de The Birth of a Nation.

    A mulher, que não teve o nome revelado, afirmava ainda que os dois assediaram ela depois que ela decidiu prestar queixa e que ambos chegaram a contratar um detetive particular que mostrou a foto dela para outros estudantes, divulgando sua identidade e causando-lhe constrangimentos. Nate Parker foi absolvido da acusação de estupro, mas Celestin foi condenado. Em 2005, a sentença contra Celestin foi anulada depois de um recurso de seu advogado. Outro julgamento poderia ser realizado então, mas isso nunca aconteceu pois a mulher se recusou a voltar para o tribunal para testemunhar. No ano de 2012, após duas tentativas, a mulher cometeu suicídio.

    "Por mais importante que seja este filme, não posso encarar essas acusações com leveza", disse Union. "Naquela noite, há 17 anos, Nate teve o consentimento daquela mulher? É muito possível que ele tenha achado que tinha o consentimento. Ainda assim, ele admite que não teve uma confirmação verbal e mesmo que ela nunca tenha dito 'não', o silêncio não é a mesma coisa que 'sim'. Apesar de as vezes ser difícil de ler e entender a linguagem corporal, o fato de alguns indivíduos interpretarem a ausência de 'não' como um 'sim' é, no mínimo, problemático, e, na pior das hipóteses, criminoso."

    Entretanto, Union disse que não pode concluir nada sobre a culpa que Nate Parker teria ou não. "Independente do que eu penso que possa ter acontecido há 17 anos, depois de ler todas as 700 páginas da transcrição do julgamento eu continuo sem saber de nada, assim como qualquer pessoa que não estava naquele quarto", afirmou. "Mas eu acredito que este filme seja uma oportunidade de educar e informar para que estas situações parem de acontecer em campus universitários, dormitórios, fraternidades, apartamentos e em qualquer lugar de sociabilidade juvenil".

    The Birth of a Nation, vencedor do Grande Prêmio do Júri (Drama) no Festival de Sundance, é baseado na história real de Nat Turner, um afro-americano escravizado que lidera uma revolta na primeira metade do século XIX.

    Letrado, intelectual e religioso, Turner atua como pastor batista no Condado de Southampton, na Virginia. Ao perceber que a escravidão era algo inconcebível com sua noção sobre a ética cristã, "O Profeta", como era chamado, organizou um levante ao lado de outros escravos e negros livres, mobilizando sua comunidade com seus discursos fervorosos.

    Antes da controvérsia, o longa-metragem era apontado como uma forte aposta para o Oscar 2017.

     

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