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    Festival de Gramado 2016: Dois dramas dirigidos por mulheres, sobre mulheres

    Espejuelos Oscuros e Mammal foram apresentados na primeira noite da mostra competitiva latina.

    O acaso trouxe à primeira noite da mostra latina do 44º Festival de Cinema de Gramado dois filmes dirigidos por mulheres, sobre mulheres solitárias e determinadas: Espejuelos Oscuros e Mammal. Na verdade, a noite deveria incluir o longa-metragem Las Toninas Van al Este que, por problemas de projeção, não pôde ser exibido.

    No lugar dele, portanto, foi projetado o nada latino Mammal, drama irlandês selecionado no festival de Sundance. A aproximação involuntária dos dois filmes evidenciou como duas cineastas pouco experientes, partindo de ideias semelhantes, podem proporcionar obras praticamente opostas:

    O drama sem lágrimas

    Mammal foi a melhor surpresa da noite. A história gira em torno de Margaret (Rachel Griffiths), mulher solitária que abandonou o filho muitos anos atrás. Quando descobre que o garoto abandonado faleceu, adota um jovem encrenqueiro (Barry Keoghan) como filho simbólico.

    A diretora Rebecca Daly, em seu segundo longa-metragem, aposta no realismo, sem trilha sonora nem iluminação muito artificial. As atuações são muito boas, embora o relacionamento (sexual, inclusive) entre a mulher adulta e o garoto adolescente tenha incomodado alguns espectadores.

    Leia a nossa crítica.

    O drama com lágrimas até demais

    Espejuelos Oscuros, da estreante Jessica Rodríguez, aborda a história de uma mulher cega (Laura de la Uz) cuja casa é invadida por um agressor (Luis Alberto García). Para evitar o assalto e o possível estupro, começa a contar histórias de amor e da revolução cubana ao invasor, cativando o desconhecido.

    Apesar do caráter doce, a trama é difícil de levar a sério. As atuações apostam em tons exagerados, enquanto uma surpresa no final prejudica ainda mais a narrativa. Depois do estilo contido de Mammal, os excessos melodramáticos deste drama soam novelescos. Espejuelos Oscuros é um filme fraco demais para figurar na competição de um grande festival.

    Leia a nossa crítica.

    Documentário e animação

    Os curtas-metragens brasileiros, em compensação, melhoraram de qualidade em relação aos dias anteriores. Ingrid, biografia de uma mulher transexual, sobrepõe histórias de sua vida a imagens do corpo, da pele e da feminilidade. O recurso é simples, mas adequado ao formato do curta-metragem, e o conceito estético também se desenvolve muito bem - o formato quadrado da tela soa especialmente adequado ao tom confessional em tempos de selfies. O curta dirigido por Maick Hainnder é o melhor apresentado nesta edição de Gramado até o momento.

    A animação O Ex-Mágico, de Maurício Nunes e Olímpio Costa, impressiona desde o início pela beleza dos traços quase expressionistas para relatar a história de um homem dotado de poderes, mas condenado à vida enfadonha de uma repartição pública. É uma pena que a narrativa não se desenvolva bem, e que a atuação monocórdia do ator principal, responsável pela voz do ex-mágico, comprometa a construção do personagem.

    A terça-feira, 30 de agosto, é o dia de diversos longas-metragens convidados (Anita, Desvios, Cromossomo 21) antes da exibição de dois filmes latinos em competição oficial: Carga Sellada e Guaraní.

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