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    Mayana Neiva e Djin Sganzerla falam sobre o ofício da atriz e empoderamento feminino no Festival Guarnicê 2016

    "Já vi diretores homens que acham que o empoderamento da mulher se dá no nível sexual, o que é muito reducionista", criticou Mayana.

    João Vitor Figueira

    As atrizes Mayana Neiva (Para Minha Amada Morta) e Djin Sganzerla (Ralé) debateram temas como feminismo e as particularidades de seus ofícios no cinema, teatro e televisão na tarde de sexta-feira (10). A conversa, aberta ao público, fez parte do 39º Festival Guarnicê de Cinema e foi realizada na na Casa do Maranhão, no Centro Histórico de São Luis. 

    Primeiros passos na carreira

    "Eu sou filha de dois cineastas, do Rogério Sganzerla e da Helena Ignez. Eu não queria ser atriz. É a tal história: 'Filho de peixe...' — as vezes ele não é peixinho", revelou Djin, logo no começo da conversa. O peso de ter, no sangue, uma herança muito forte, escrita na história do cinema brasileiro, foi fundamental para que reavaliasse sua decisão. "Queria fazer Psicologia, ir por outro caminho, até que eu descobri que era uma necessidade minha pessoal ser atriz."

    Nascida no Agreste da Paraíba em uma família sem conexão com o mundo das artes, Neiva disse que durante a adolescência tinha a certeza de que seria astrofísica. Na escola, descobriu a vocação para a atuação, ao acompanhar a montagem de As Bruxas de Salém, de Arthur Miller. "Eu fiquei chocada com aquilo, em como se transformava a palavra escrita numa sensação tão poderosa, que tomava as pessoas". Antes de se dedicar exclusivamente à arte, Mayana ainda estudou Letras e Direito.

    Semelhanças na trajetória

    Depois que narraram suas trajetórias, Djin percebeu que elas duas tinham histórias semelhantes. "Eu passei pelas mesmas pessoas que você, Mayana!", disse, surpresa.

    "Eu trabalhei primeiro com o Antunes [Filho], depois com o Zé Celso — que é um dos maiores diretores de teatro, sem dúvidas", afirmou. O diretor e ator José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, foi muito lembrado por ambas. Mayana chegou a dizer que depois de conhecê-lo sua vida "nunca mais foi a mesma".

    O ofício de atriz

    "O espaço do ator é um espaço muito cruel. Às vezes você fica esperando, como se você não fosse protagonista de sua vida. Você aguarda convites, aguarda o sonho do outro. Mas as vezes o sonho do diretor não é o seu sonho", revelou. Em seguida, a atriz lembrou de quando, ainda menor de idade, seus pais decidiram abrir uma produtora para ela, para que ela tomasse as rédeas de sua carreira.

    Neiva falou sobre a importância do ator conseguir certa autonomia do diretor para imprimir suas marcas próprias nos personagens. "Quando você toma o comando você não é mais o personagem na história de outra pessoal, você começa a saber qual é a sua voz"

    Empoderamento feminino

    Falando sobre o empoderamento da mulher, tema proposto pela mediadora Áurea Maranhão, também atriz, Neiva disse que era um privilégio estar em um festival que coloca as mulheres na linha de frente.

    Ela destacou a importância de ter mulheres atrás das câmeras, dirigindo projetos cinematográficos, o que evitaria olhares unidimensionais e ultrassexualizados que diretores homens podem dar para personagens mulheres. "Fica às vezes recorte do desejo [sexual], quando o maior desejo é o desejo de ser. É um desejo ontológico."

    Djin citou Ralé, dirigido por sua mãe, para exemplificar a dimensão que o cinema feito por mulheres pode tomar. "O filme fala sobre feminismo, sobre liberdade sexual de uma forma extremamente amorosa."

    A mulher evangélica

    Em Para Minha Amada Morta, Neiva vive uma mulher evangélica dedicada à família, com uma atuação elegante e singela.

    Perguntada pelo AdoroCinema, Neiva disse que, antes de participar do filme, olharia para uma mulher como a sua personagem com um certo julgamento sobre suas escolhas e desejaria vê-la "liberta". Porém, por ter gostado muito do roteiro, passou a amá-la. "A paixão já tira toda diferença que existe entre você e a personagem." 

    Ela comentou como compôs os traços dessa mulher, tão distinta dela mesma. "Eu fui lá no centro de Curitiba e comprei uma roupa que eu achei que ela usaria. Comecei a ir em todas as igrejas evangélicas que tinham na região. E comecei a conviver com essas mulheres e entender, ver a beleza delas, o amor que elas tinham por aquela doação pela família, por serem essa força que une tudo".

    Sem fazer julgamentos, Mayana comparou a questão do recato na mulher evangélica com as roupas usadas por muçulmanas, que representam a vontade de parecer pura. "É até um paradoxo, mas eu comecei a achar tudo lindo", disse, ponderando que "Isso pode ser visto como uma repressão, sim", é claro.

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