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    Cine PE 2016: Documentário sobre parceiro de Luiz Gonzaga conquista o público

    Danado de Bom.

    Daniela Nader

    Um filme ser aplaudido em um festival de cinema não é necessariamente um sinal de aprovação do público. As palmas são praxe, até mesmo um ato de educação. Agora, um filme ser aplaudido duas vezes durante a projeção e mais uma terceira, com o público de pé, o ovacionando, no fim... bem, não é algo que aconteça com frequência. Assim começou a carreira de Danado de Bom, na noite dessa sexta-feira, no Cine PE, em Recife.

    Daniela Nader

    O documentário, longa de estreia de Deby Brennand no formato, promove a protagonista aquele que sempre foi coadjuvante: o compositor João Silva, um dos parceiros mais constantes de Luiz Gonzaga, que viveu à sombra do “Rei do Baião”. “Nossa ideia não era fazer uma biografia. O filme é focado na parte compositora da vida dele”, explicou a montadora, Jordana Berg, na coletiva para a imprensa na manhã deste sábado, em Olinda. “E a gente percebeu que não tinha como lutar contra essa luz [Luiz Gonzaga]”, ela completa, para concluir que a opção foi não “romantizar” a vida do retratado.  

    Divulgação

    O resultado é um filme-homenagem, que levou quase dez anos para ser concluído, dividido em quatro fases de produção desde 2007. Composto de um elenco enxuto de entrevistados (Dominguinhos, Elba Ramalho, Genaro, entre outros), Danado de Bom tem como fio condutor mais forte o próprio João Silva e os depoimentos exclusivos – e, muitas vezes, hilários – que ele prestou à produção, convencional, mas conduzida com uma linguagem dinâmica de forte apelo popular (sem demérito).

    “Minha maior dor foi que, o tempo todo, o João pedia para ver um pedaço do filme e eu dizia ‘não, só quando estiver pronto’. E ele acabou morrendo em 2013, sem ter visto nada”, lamentou a diretora.

    Colombo na berlinda.

    Após o debate, foi a vez dos organizadores do festival, Alfredo e Sandra Bertini fazerem um balanço da edição 2016 do Cine PE. Eles foram questionados, sobretudo, a respeito da presença da animação infantil As Aventuras do Pequeno Colombo na competitiva de longas-metragens.

    “A gente adora vocês [jornalistas], mas nós fazemos o festival para o público”, disse, com jeitinho, Sandra. Para ela, o objetivo da curadoria, assinada pelo jornalista Rodrigo Fonseca, é “trazer um panorama grande do que está sendo produzido no Brasil” - a tal da pluralidade - e lembrou que o país teve uma

    Daniela Nader

    animação concorrendo ao último Oscar (O Menino e O Mundo). Alfredo ainda argumentou que esse é um nicho pouco explorado no mercado nacional, e foi ainda mais além: “Sem filme infantil, como é que a gente forma plateia?”

    Eles acreditam que, ao longo desses vinte anos do Cine PE, o público tenha mudado. “Muitas pessoas saem do trabalho e entram ali no cinema [São Luiz]”, acredita Sandra. “Hoje, a plateia é muito mais variada, visivelmente são pessoas das classes C e D”, observou Alfredo, que pretende realizar uma pesquisa para confirmar a tese. “É o pessoal menos cabeçudo”, resumiu ela.

    Apesar do discurso afinado, os três primeiros longas exibidos (Por Trás do CéuO Prefeito e Guerra do Paraguay) apresentam enredos e/ou formatos bastante incomuns para o grande público.

    Duas vezes Marcélia Cartaxo.

    Daniela Nader

    A polivalente Marcélia Cartaxo, de 52 anos, foi “vista” duas vezes na competitiva de curtas. Como atriz protagonista de Maria, de Carol Correia, pela disputa local; e como diretora de Redemunho, representante da Paraíba na competição nacional. O primeiro é uma ficção levemente baseada nas memórias da prostituta que ficou conhecida como Severina Branca; o segundo, uma história de mãe e filho de uma família decadente que vivem no meio de um sertão arcaico.

    Completou a noite o curta pernambucano Gosto de Carne, de Álvaro Severo e Everton Maciel, documentário apelativo que mostra o abate cruel bovino, e que ganhou aura ainda mais pretensiosa depois que os realizadores o anunciaram como “um dos filmes mais impactantes que vocês vão ver nos últimos anos”. Ah, vá...

    Divulgação

    Pernambucanas

    > Depois de Pablo Polo (Minha Geladeira Acha que É um Freezer) chamar a atenção para o “descaso” com o patrimônio público do estado, durante a segunda noite, foi a vez de Carol Correia (Maria) denunciar a forma “imoral” como vêm sendo tratados pelo Governo do Estado o Teatro do Parque e o Cinema Olinda. “Talvez, se houvesse mais investimento público em cultura, a gente não ouvisse tanta gente falando babaquice sobre as mulheres”, cravou.

    *O AdoroCinema viajou a convite do Cine PE

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