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    Exclusivo: Um dia nas filmagens de Altas Expectativas, novo filme de Camila Márdila, de Que Horas Ela Volta?

    Roteiro que pretende “quebrar o paradigma de que anão só pode fazer humor” teve o aval de produtor de Oliver Stone, Cacá Diegues e Daniel Filho.

    Divulgação

    O Carnaval ainda não tinha tido o seu fim até a última sexta-feira, 25 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Não, não se tratava de mais um bloco pisoteando o gramado do Aterro do Flamengo, mas das filmagens de Altas Expectativas, que, na reta final, aconteciam no Jockey Club Brasileiro, na Gávea, bairro de classe alta da Zona Sul da cidade.

    O longa-metragem marca a volta de Camila Márdila, a Jéssica de Que Horas Ela Volta? – prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance, dividido com Regina Casé, pelo filme de Anna Muylaert – para os cinemas, em uma comédia romântica meio torta, com um quê de dramédia, ao lado do Gigante Léo.

    A produção é a estreia da dupla Álvaro CamposPedro Antonio (egressa da TV, de programas de comédia, sobretudo para o canal pago Multishow, como Os Buchas, Prêmio Multishow de Humor e Ferdinando Show) no formato, e conta a história de Décio (Léo), um bem-sucedido treinador de cavalos, que se encanta por Lena (Márdila), uma jovem batalhadora e um tanto melancólica, que acaba de herdar uma cafeteria no mesmo jóquei clube onde ele trabalha.

    A 'Amélie Poulain' do Jockey.

    Arturo Aguilar

    Dividida entre Rio e São Paulo, onde ensaia uma peça de teatro, Camila explica a ordem do dia: “Essa é a primeira tentativa do Décio de falar com a Lena, que é marcada por um erro de comunicação que vai pautar os desencontros deles daí para frente”, ela faz mistério. “Logo nesse momento acontece um mal-entendido, e ele acha que acabou [a chance de conquistá-la]”, endossa Léo, mantendo o suspense.

    Lena é órfã, uma artista plástica que não tem condições de viver da própria arte e, ainda por cima, herda também a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo depois que o tio, dono do tal café, morre. A vida dura acaba por apagar o sorriso da garota.

    “As imagens que me vinham como referência eram uma coisa meio Amélie Poulain, misturada com um pouco dos filmes do Wes Anderson. Pensei muito nesses personagens, que são quase cartoons e, ao mesmo tempo, muito humanos”, conceitua. Trazer a alegria de volta à vida da mocinha, portanto, passa a ser uma tarefa para Décio.

    “Quebrar o paradigma de que anão só pode fazer humor”.

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    Para quem não está ligando o nome à pessoa, Leonardo Núñez de Miranda Reis, o Gigante Léo, é um humorista de stand-up, que já participou de alguns episódios do Porta dos Fundos; mede 1,10m e brinca o tempo inteiro sobre a própria estatura.

    “Sem colocar uma tinta forte no nanismo, todo mundo [do filme] tem suas falhas: uma menina que tem dificuldade de sorrir; a joqueta que não tem altura para função; o menino que está na cadeira de rodas. E o dia a dia segue”, explica Camila, que conviveu com um tio (da mãe) anão, que era a referência de intelectualidade na família, por ter sido um dos poucos do grupo a cursar uma faculdade.

    O maior serviço que o filme pode prestar, segundo Gigante Léo – que, além de ator, é funcionário público com mestrado em informática – é “quebrar o paradigma de que anão só pode fazer humor”. Para embarcar no drama, ele passou por um mês e meio de orientação do preparador de elenco Sergio Penna – o mesmo de Bicho de Sete Cabeças, Carandiru, Bruna Surfistinha.

    “Minha esperança é que o filme abra um pouco essa janela no Brasil, para dizer que anão ou não-anão, a pessoa pode fazer qualquer papel. E não só [anão da] Branca de Neve, fadinha, cachorrinho...” ou “anõezices” (“virar cambalhota, levar torta na cara, correr pelado”) em geral, como ele mesmo gosta de chamar.

    Aval internacional.

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    Trata-se de uma história universal, não necessariamente apoiada no nanismo, garantem os realizadores, um roteiro – assinado pelos diretores, com a ajuda de Léo – trabalhado com a consultoria do argentino Miguel Machalski, que opinou no texto de O Lobo Atrás da Porta; além de, segundo Álvaro, ter contato com a aprovação de Cacá DieguesDaniel FilhoJosé Alvarenga Júnior (Altas Expectativas tem coprodução da Globo Filmes).

    “A gente também mandou [o roteiro] para o produtor do Oliver Stone [Dan Halsted, que ministrou uma oficina de roteiro na TV Globo], e ele se amarrou, falou que era ‘do caralho’ porque, na verdade, não tem nada a ver com deficiente, mas com um cara que se apaixona por uma mulher que ele acha ‘areia demais para o caminhão dele’”.

    Porém, é inegável: “Essa condição faz com que o Léo receba muita atenção, mas ao mesmo tempo o aprisiona dentro de uma gaiolinha do anão, do comediante palhacildo", contextualiza o diretor, fã de O Agente da Estação, que viu nessa dicotomia o gatilho do projeto.

    No set, sob um calor impreciso de 70º - com os foliões metidos em um figurino caprichado, enquanto suavam a fantasia ao grito de guerra de “ação!” -, o baile seguia, ironicamente, com um palhaço apaixonado sofrendo com a frieza de uma colombina.

    Arturo Aguilar
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