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    Steven Spielberg fala sobre seus filmes de super-herói favoritos, Ponte dos Espiões e diversidade em entrevista

    Uma dica: Spielberg é fã de um certo gênio, playboy, bilionário e filantropo.

    Steven Spielberg iniciou um debate há algumas semanas quando disse que acreditava que os filmes de super-heróis perderiam a populariadade um dia, assim como aconteceu com os filmes de faroeste. Representantes do lado da Marvel e da DC da trincheira comentaram a "profecia" do cineasta, que agora esclarece que não tem absolutamente nada contra o gênero e diz até quais são suas produções favoritas.

    "Eu não estava reprovando o gênero, porque eu assisto todos os [tipos de] filmes", contou o veterano cineasta em entrevista para o jornal The New York Times. "Meus filmes de super-herói favoritos são os filmes do Homem de Ferro. Eu amo os filmes do Batman de Tim Burton e -- corte para o futuro -- gosto de tudo que Chris Nolan fez em Batman, por causa da escuridão, por mostrar o que iria motivar um personagem assim, um personagem muito rico, a prestar o serviço ao público que ele presta".

    Ao explicar sua admiração pelo herói interpretado por Robert Downey Jr. no Universo Marvel Cinematográfico, Spielberg contou como as habilidades do "gênio, playboy, bilionário e filantropo" mexem com sua imaginação. "Há muito de Joseph Campbell [estudioso norte-americano de mitologia e religião comparada] nos filmes do Homem de Ferro. Todos nós gostaríamos de voar. E nós sabemos que não podemos voar sem asas, exceto em nossos sonhos. Eu costumava sonhar que estava voando em um traje especial e quando o Homem de Ferro surgiu eu pensei: 'Eles escreveram isso para mim. Isso é a realização do meu sonho".

    A entrevista foi concedida para o jornal para promover Ponte dos Espiões, próximo filme do prolífico diretor. Na trama, baseada em fatos reais, Tom Hanks interpreta o advogado James Donovan, que defendeu um espião soviético -- Rudolf Abel (Mark Rylance) --  nos Estados Unidos no auge da Guerra Fria. Depois disso, Donovan negociou com Moscou uma troca de prisioneiros, oferecendo Abel em troca da liberdade do piloto espião americano Francis Gary Powers, que foi capturado na União Soviética, e de um estudante americano detido na Berlim oriental.

    O advogado interpretado por Hanks acreditava com convicção que todas as pessoas merecem uma defesa justa. O diretor foi perguntado se esse princípio pode se relacionar aos prisioneiros de Guantánamo, quando trazido para os dias de hoje. O diretor afirmou que o tema de seu filme tem correlação com diversos acontecimentos do mundo contemporâneo. "Muitas coisas estavam na minha mente... Missões com drones. A Prisão de Guantánamo. Cyberhacking, porque cyberhacking é uma forma de espionagem", avaliou. "Quando a tecnologia começou a ser usada em técnicas de espionagem, no final dos anos 50, com os sobrevôos dos U-2 [aviões de reconhecimento em altas altitudes lançados pela força aérea dos Estados Unidos], nosso medo era que o Sputnik fosse um satelite espião, o que logo foi esclarecido que não era verdade, e havia a suspeita e o medo de um holocausto nuclear. Eu cresci nessa era. As especulações eram muito, muito fortes. Hoje em dia, há muito mais pavor e medo da parte de quem está nos vigiando. Havia um inimigo específico que era a União Soviética, nos anos 50 e 60. Hoje em dia nós não conhecemos nossos inimigos. O inimigo não tem um rosto específico."

    Spielberg ainda afirma que, nos dias de hoje, uma história como a de Donovan não seria algo ainda mais complicado de se vivenciar. "É um pouco mais difícil hoje em dia. Donovan poderia trabalhar em segredo numa época em que não havia redes sociais. Hoje seria muito difícil encontrar um homem que iria ser fiel aos seus princípios e sofrer os ataques dos haters nas redes sociais. Donavan viveu maus bocados. Eles atiraram na janela de seu apartamento no final dos anos 50. Imagine a quantidade de sofrimento que seria levado a família de Donavan se esse incidente acontecesse na era das redes sociais."

    Ao ser perguntando se, por estar em uma posição tão influente, sentia-se na responsabilidade de ajudar a indústria cinematográfica a ter uma presença maior de mulheres, Spielberg falou um pouco sobre o assunto da diversidade. "Eu tenho mulheres ao meu redor na produção de filmes desde que decidi promover minha secretária a minha produtora e fundar minha companhia, Amblim. Fico muito mais confortável na companhia de mulheres. Me refiro à mulheres nas áreas criativas, não na área administrativa. O primeiro filme a qual dei o sinal verde na DreamWorks foi um filme chamado O Pacificador, e Mimi Leder o dirigiu. Mulheres estão em diversas posições executivas na indústria cinematográfica hoje em dia -- a presidente da Universal, a presidente da Fox 2000, a antiga chefe da Sony. O que eu não entendo é a falta de diversidade e pessoas de cor entre os executivos de estúdios. Isso é algo que eu acho que devemos olhar calmamente e nos perguntar os motivos que levam a isso. Eu acho que precisamos de uma infusão de mais mulheres na direção de filmes e de mais homens e mulheres de cor na direção."

    Outro tema abordado na conversa foi o bom momento na produção de séries de TV nos Estados Unidos. "A indústria cinematográfica sempre competiu com a televisão, e nos primórdios da TV, alguns dos melhores roteiristas do cinema trabalhavam na TV. Paddy Chayefsky, Stirling Silliphant, Rod Serling. Então a televisão se tornou bastante formulaica. Mas algo aconteceu nos últimos sete ou oito anos. Alguns dos melhores roteiros de hoje em dia foram feitos para a televisão, como Transparent, Bloodline, Wolf Hall e Downton Abbey. Uma ótima série na qual eu estou viciado é Homeland", contou o cineasta. 

    Por conta da competição com a TV, Spieblerg acredita que agora os diretores podem arriscar mais em seus filmes. "Sim, os estúdios podem arriscar mais agora e permitir que os diretores contem histórias que são auto-suficentes e não evoluem para uma sequência. Eu acho que a televisão ajudou o cinema independente e o cinema independente inspirou Hollywood. Esta é a segunda era de ouro da Televisão."

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