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    Opinião: O Oscar e o cinema mexicano

    Dois mexicanos ganharam o Oscar de melhor diretor. É festa?

    Sempre que o Oscar se aproxima, renasce a torcida para que algum filme brasileiro enfim ganhe a cobiçada estatueta dourada. O Brasil já bateu na trave algumas vezes, mas nunca correu para o abraço. Pois a premiação deste ano trouxe uma peculiaridade: pelo segundo ano consecutivo, o Oscar de diretor coube a um mexicano. Em 2014 foi entregue a Alfonso Cuarón, por Gravidade, e neste ano a Alejandro González Iñárritu, por Birdman. Motivo de festa para o México, certo? Depende.

    É claro que o sucesso de compatriotas na sempre cobiçada premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é algo relevante, mas é preciso saber diferenciar tais premiações do que elas significam para o cinema mexicano. Por mais que tanto Cuarón quanto Iñárritu tenham ótimas crias made in México, como E Sua Mãe Também e Amores Brutos, os filmes pelos quais foram premiados nada têm a ver com sua terra natal. Pelo contrário: Gravidade é uma ficção científica cheia de efeitos especiais hollywoodianos e Birdman fala sobre o modus operandi do entretenimento norte-americano. São produções estadunidenses que contam com o talento estrangeiro para moldá-las, como tantas vezes ocorreu no passado (lembre-se de Billy Wilder, Roman PolanskiFritz Lang e tantos outros).

    A grande vantagem de tais premiações para o cinema mexicano como um todo é que, de certa forma, despertam a atenção para o que acontece no próprio país. É quando despontam filmes como Heli e Post Tenebras Lux, ambos recentemente premiados no Festival de Cannes, e até a inofensiva comédia Não Aceitamos Devoluções, que aproveitou a vasta comunidade latina nos Estados Unidos para obter uma boa arrecadação nas bilheterias. Filmes que, estes sim, representam a cultura mexicana e suas peculiaridades. E que, também por isso, enfrentam bem mais obstáculos para serem exibidos mundo afora - a não ser quando é "cultura latina para exportação", como no caso da recente animação Festa no Céu.

    No fim das contas, a dupla vitória dos diretores mexicanos no Oscar é algo a ser festejado mais pelo reconhecimento à excelência do trabalho feito por ambos do que propriamente por ser uma demonstração da abertura do mercado (e de interesse) ao cinema produzido no México. Que, por sinal, teve sua última indicação ao Oscar de filme estrangeiro com O Labirinto do Fauno, em 2007 - e, por incrível que pareça, foi derrotado pelo alemão A Vida dos Outros.

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