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    Entrevista exclusiva com Andrey Zviaguintsev, diretor de Leviatã

    Drama russo está na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

    Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes, Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, indicado ao Oscar 2015... Leviatã é um dos filmes mais cultuados a chegar aos cinemas brasileiros neste início de ano. O AdoroCinema conversou com exclusividade com o diretor Andrey Zviaguintsev.

    Ele falou sobre a ideia para o projeto, sobre o cinema russo, sobre suas influências e muito mais. Confira o bate papo na íntegra!

    AdoroCinema: Leviatã é um filme sobre uma família russa oprimida pelo sistema. O que motivou você a contar esta história?

    Andrey Zviaguintsev: Leviatã começou em 2004, quando eu ouvi pela primeira vez a história de Marvin Heemeyer e sua revolta (indignado com uma disputa de terras, Marvin pegou um trator e usou para demolir a prefeitura, a casa do prefeito e outros edifícios de uma pequena cidade norte-americana). Causou um grande impacto em mim e me fez pensar. Comecei a escrever o roteiro. Ao longo do tempo, encontrei outras fontes de inspiração, trabalhos que me estimularam e que afetaram a história final – como “Leviatã”, de Thomas Hobbs, que é o principal estudo sobre “o homem e o estado”, e também a história bíblica de Jó.

    No filme, teve algum sentimento particular que buscou expressar sobre viver e trabalhar na Rússia?

    Estava terminando meu filme Elena quando comecei a escrever Leviatã. Não importa se vivemos numa sociedade progressista ou arcaica: é inevitável o momento da verdade no qual a pessoa se vê sozinha lutando contra o sistema e ela tem que lutar por sua dignidade e sua definição de justiça. Está história de homem contra o Estado é universal e atemporal. A trama é construída no contexto da Rússia, mas isso é apenas pelo fato de que não existe outro lugar no qual eu sinta tanta afinidade. Entretanto, estou completamente convencido de que independentemente da sociedade em que vivemos, teremos que enfrentar uma decisão: agir como escravos ou como homens livres.

    Seus filmes são sempre lindamente compostos, sempre utilizando o cinemascope. Quais as suas referências?

    Os diretores que mais me influenciaram foram Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Andreï Tarkovski e Robert Bresson. Seus filmes eram grandes lições sobre a vida e sobre a arte de dirigir.

    Sendo tão críticos ao governo russo, foi uma surpresa ser escolhido o representante do país no Oscar? Como foi receber uma indicação?

    Foi uma grande honra! Estamos todos muito empolgados e gratos com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Leviatã examina duras verdades, tanto sobre a vida na Rússia quanto sobre a luta universal do homem contra um sistema indiferente. Tenho muito orgulho do comitê russo ter escolhido o filme como representante do país no Oscar. Espero que o público sinta uma conexão com nossos personagens não importando aonde vivem. Divido este adorável momento com os produtores do filme e com toda minha equipe.

    Li que em algumas cenas os atores estavam de fato ingerindo bebidas alcoólicas. Como foi lidar com atores alcoolizados?

    Durante a cena do piquenique no lago, os personagens de Alexeï Serebriakov, Vladimir Vdovitchenkov, Sergey Bachursky e Aleksey Rozin bebem uma garrafa de vodka cada em homenagem ao aniversário de Stepanych (Bachursky). Por um erro da pessoa responsável pelos objetos de cena, os atores receberam uma garrafa com vodka de verdade no primeiro take. E eles acabaram com a garrafa na tomada. Só quando eu falei “corta” que eles avisaram que era vodka de verdade. Os quatro atores juram que foi uma pegadinha que fiz com eles e até hoje se recusam a acreditar no contrário. Pelo menos os atores aproveitaram em primeira mão o costume hardcore russo de beber vodka no bico. Falando nisso, Roman Madianov, que interpreta o prefeito no filme, não colocou uma gota de álcool na boca durante as filmagens.

    Para da imprensa em Cannes apontou o filme como sendo anti-Putin. Como você vê isso? Foi a sua intenção?

    É uma ilusão perigosa pensar que o presidente Putin lê os nossos roteiros e decide pessoalmente o que pode ser feito. Quando paramos para pensar, essa ideia é absurda. Este filme é uma obra de arte e não uma declaração política. É uma história sobre a vida e a dignidade humana. Acredito que este seja o motivo pelo qual a maioria das críticas na Europa falarem mais do lado dramático do que do político. A história que contamos pode acontecer na Rússia, na Inglaterra ou na Austrália. Pode acontecer em qualquer lugar. Além disso, o filme foi concebido seis anos atrás e ninguém poderia imaginar os eventos políticos que aconteceram recentemente.

    Como funciona o financiamento de filmes na Rússia? É difícil conseguir dinheiro para fazer uma produção crítica?

    Não posso falar por todos os diretores independente. Meu produtor Alexander Rodnyansky é um monstro do cinema russo. Não preciso esconder nada dele. Ele entende tanto de arte quanto do negócio de fazer filmes.

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