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    Entrevista: Diretor comenta o "multicolorido e audacioso" As Férias do Pequeno Nicolau

    Laurent Tirard falou sobre a sequência de O Pequeno Nicolau, explicando o que mudou na segunda aventura do personagem.

    Quando chegou aos cinemas, em 2010, O Pequeno Nicolau tinha tudo para dar certo: uma história conhecida tirada dos quadrinhos de René Goscinny e Sempé, nomes consagrados no elenco (Kad Merad e Valérie Lemercier em especial) e um sentimento de nostalgia dos anos 1950 que marcou vários franceses. A aposta foi certeira: mais de 5,5 milhões de espectadores na França, e um grande sucesso no mundo inteiro - inclusive no Brasil.

    Quatro anos mais tarde, chega aos cinemas a sequência, As Férias do Pequeno Nicolau. Ao invés da rotina do personagem na escola, agora os cinéfilos descobrem as turbulentas férias do personagem com a família. Mas porque será que o ator principal mudou? Por que as cores são tão diferentes, e por que a história não segue o final da primeira?

    Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, o diretor Laurent Tirard explicou essas e outras questões sobre o filme. Descubra abaixo nossa conversa sobre As Férias do Pequeno Nicolau, que estreia em pleno dia de Natal, 25 de dezembro:

    O Pequeno Nicolau (2010) obteve ótima resposta do público na França, mas a sequência demorou quatro anos para chegar aos cinemas. 

    Nós pensamos em fazer uma sequência logo após o primeiro filme. Mas eu já estava trabalhando em Asterix e Obelix: Ao Serviço de Sua Majestade (2012), que demorou três anos. Quando terminei Asterix, comecei a escrever o roteiro de As Férias do Pequeno Nicolau.

    O primeiro filme indicava uma possível continuação sobre a história da irmã de Nicolau, mas As Férias do Pequeno Nicolau toma outros rumos. Por quê?

    Eu queria que o segundo filme fosse muito diferente do primeiro. A história original se passa na escola e na cidade. Logo, eu pensei que as férias seriam uma boa ideia. Pensei em referências como As Férias do Sr. Hulot, Duas Garotas Românticas... É verdade que tinha a irmãzinha no final do primeiro filme, mas isso seria difícil de abordar. No livro, não existe a irmã de Nicolau, ficaria complicado continuar. Eu preferi recomeçar do zero e manter Nicolau como filho único.

    Você mudou de ator entre os dois filmes: ao invés de Maxime Godart, agora Mathéo Boisselier interpreta o protagonista. Como foi feita a mudança?

    Nós precisamos trocar de Nicolau, porque Maxime Godart, que fez o primeiro Nicolau, já tem quinze anos, ele não poderia mais interpretar uma criança ingênua. Como no primeiro filme, organizamos testes por toda a França. Vimos muitas centenas de crianças, e um dia Mathéo Boisselier chegou nos testes e nos surpreendeu. Além disso, ele se parecia muito com Maxime, então escolhemos ele.

    Você já tem experiências com adaptações de Pequeno Nicolau e Astérix. Quais são os desafios específicos de adaptar histórias em quadrinhos tão famosas?

    O que é complicado, especialmente no caso de um material tão conhecido, é permanecer fiel ao espírito da obra, e ao mesmo tempo trazer algo original, pessoal. Quando eu adapto, quero que seja uma versão minha, e que seja diferente de tudo que foi visto antes. Como espectador, eu espero sempre algo diferente. Quando assisto a Alice no País das Maravilhas de Tim Burton, o que quero ver é como Tim Burton consegue trazer algo pessoal à história. Então eu me perguntei o que poderia trazer a Asterix e o Pequeno Nicolau em termos de tom, de humor. Este é o maior desafio.

    Anne Goscinny, filha do criador do Pequeno Nicolau, René Goscinny, seguiu de perto as duas adaptações ao cinema. Qual foi a diferença na segunda vez?

    Na primeira vez, ela vigiou tudo de perto, porque era a primeira vez que o Pequeno Nicolau ganhava uma adaptação. Asterix já tinha sido adaptado várias vezes, Lucky Luke também... Então ela estava apreensiva para saber como ia acontecer. Como o primeiro filme deu certo, no segundo filme, ela nos deu muito mais liberdade.

    As Férias do Pequeno Nicolau tem outra atmosfera, outras músicas, outras cores... Como você definiu a estética que buscava nesta sequência?

    A partir do momento em que escolhemos as férias, buscamos um sentimento de leveza, de liberdade, e um pouco de loucura também. Como o primeiro é muito influenciado por Meu Tio, de Jacques Tati, este segundo é mais próximo de Jacques Demy. O universo é multicolorido, mais audacioso, e próximo dos anos 1960. O primeiro filme era mais próximo dos anos 1950. Agora tem mais fantasia, e tem traços de As Férias do Sr. Hulot, que eu adoro. É uma boa referência por causa de Sempé, que também traz um universo minimalista, mas bem definido, bem refletido. Neste filme de Tati, também existe um senso do absurdo que está igualmente presente em Sempé. Tati é muito próximo da infância, e seu personagem não deixa de ser uma criança no corpo de um adulto.

    Você trabalhou essas referências diretamente com os atores?

    Bom, Valérie Lemercier, Kad Merad e todos os franceses já viram os filmes de Tati, nem precisava mostrar... Mas eu organizei uma sessão de As Férias de Sr. Hulot para as crianças antes da filmagem. Não sei se isso ajudou muito, porque com crianças é mais complicado. Pelo menos elas gostaram do filme, que nunca tinham visto. Acho que elas conseguiram compreender o espírito do filme que íamos fazer.

    Algo surpreendente em As Férias do Pequeno Nicolau é a importância dos adultos nesta história. Eles são quase tão importantes quanto as crianças, concorda?

    É verdade. Isso foi uma vontade minha. Eu tinha gostado muito de trabalhar com os personagens dos pais no primeiro filme, mas fiquei frustrado por não ter criado mais cenas com eles. Pensei também no público adulto que leva as crianças ao cinema, e que poderia se identificar. Queria que este não fosse um filme apenas para crianças. Mas é verdade que nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio... Algumas pessoas acharam uma pena que os adultos tenham se tornado tão importantes, mas eu gosto que todos possam se encontrar no filme.

    Outra surpresa foi o número musical, com direito a uma coreografia com Valérie Lemercier. Como você decidiu introduzir esse momento na história?

    Desde a criação do roteiro, pensamos nesta cena na casa noturna, onde ela dançaria com o diretor... Mas não existia uma coreografia particular. Fizemos uma pausa no verão, antes de filmar esta cena. Durante estas férias, eu vi Os Homens Preferem as Loiras, com Marilyn Monroe, e tem essa cena famosa, quando ela dança Diamonds are a Girl’s Best Friends. Pensei que seria bom ter algo parecido, pois era um filme dos anos 1960, e fazia sentido ter algo musical. Por isso trabalhamos uma coreografia com Valérie Lemercier, e colocamos no filme.

    Alguma cena foi particularmente desafiadora no filme?

    Bom, a cena da dança foi muito difícil, claro. Foi preciso ensaiar, e filmar de noite, porque não tínhamos muito tempo. Além disso, foi difícil captar a transformação da garotinha que faz a amiga de Nicolau. Ela sempre tem esses olhos arregalados e assustadores, como em A Cidade dos Amaldiçoados, mas depois, no meio de uma cena de terror, ela se transforma e revela que é apenas uma criança comum. Mas ela foi excelente, acho que vai se tornar uma grande atriz na França. 

    No Brasil, O Pequeno Nicolau teve bom resultado de bilheteria, embora os quadrinhos não sejam tão conhecidos quanto na França. Você considera o filme tipicamente francês, ou um filme universal?

    Acho que tem um pouco dos dois. Na forma, ele é profundamente francês, porque representa o ideal que os estrangeiros têm da França. Quando os outros países pensam na França, eles lembram dos anos 1960, dos garotinhos de calças curtas... Mas o conteúdo – e isso me surpreendeu quando mostrei o filme aos brasileiros – é totalmente universal. As crianças se identificam na tela, em todos os países. Eles reconhecem seus problemas, seus amigos, seus pais. É um filme sobre a infância. Eu estava na Rússia há duas semanas, e via que as crianças russas também se identificavam.

    Podemos esperar um terceiro filme do Pequeno Nicolau?

    Eu gostaria muito. Tenho alguns projetos pessoais para dirigir antes disso, que devem levar cerca de dois anos. Mas talvez seja possível daqui a três anos. Este é um universo de que gosto muito, e ainda teria muito a fazer a respeito.

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