A história é bem conhecida, especialmente nas maiores cidades brasileiras: os tradicionais cinemas de rua foram, pouco a pouco, fechando as portas e sendo parcialmente substituídos por salas mais modernas instaladas em shopping centers. Culpa do declínio do mercado cinematográfico nos anos 1990 e também do crônico problema da insegurança, que afastou a população das ruas. Diante disto, os antigos locais de exibição ganharam novas funções, seja como agências bancárias, lojas ou, principalmente, igrejas. Só que, na cidade fluminense de Armação de Búzios, aconteceu exatamente o contrário.
Abandonada há tempos, a antiga capela localizada no Instituto de Educação e Formação Integral Judite Gonçalves foi transformada em uma sala de cinema! O espaço, inaugurado pela prefeitura local em 26 de novembro de 2013, completa hoje um ano de existência.
Coordenado por Marcos Buck, o Cine Teatro da Rasa tem como objetivo principal a formação de público na população mais humilde da cidade. Trata-se da segunda sala de cinema de Búzios, que antes contava apenas com o Gran Cine Bardot, localizado na badalada Rua das Pedras. "Há uma diferença grande entre a península e o continente em Búzios. Aqui é preciso formar público mesmo, acostumar as pessoas a saírem de casa e irem ao cinema", disse o administrador em conversa com o AdoroCinema.
Com este objetivo em mente, a programação busca filmes mais populares que atendam aos interesses da população local, muitas vezes incluindo comédias, aventuras e animações. Outro detalhe: os filmes são sempre exibidos dublados, devido às dificuldades existentes ao acompanhar as legendas. "Não adianta forçar a barra, é preciso primeiro criar a cultura do cinema para, aos poucos, ir inserindo coisas diferentes", explicou Buck.
O trabalho de popularização do Cine Teatro da Rasa passa também pela realização de sessões dedicadas às escolas da região. Durante a Mostra Búzios-France, os alunos tiveram a chance de conferir a animação francesa O Quadro, ainda inédita no circuito comercial brasileiro. Praticamente em todos os dias são realizadas sessões escolares, com exibições para o público em geral ocorrendo aos fins de semana. "Às vezes exibo filmes para apenas cinco pessoas, mas não me importo. É um trabalho de continuidade, de fazer com que as pessoas sintam necessidade de ir ao cinema para que o projeto siga em frente, mesmo que mude o prefeito. Aí o pessoal da APAE, das escolas e das igrejas vão querer que ele continue funcionando, independente de quem esteja no governo", concluiu o administrador.
