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    Semana dos Realizadores 2014: Cinema de agressão, cinema de reconforto

    Noite, de Paula Gaitán, e Ela Volta na Quinta, de André Novais, foram apresentados no festival.

    A Semana dos Realizadores 2014 trouxe dois longas-metragens completamente diferentes na noite da segunda-feira. Mas antes destes filmes, foi apresentado o curta-metragem Rua de Mão Única, de Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado.

    Aproveitando os recentes protestos de junho de 2013, o filme mostra em um plano único o avanço dos manifestantes em direção à polícia. A imagem aérea destaca apenas o povo combatendo um poder invisível, enquanto o trabalho de som privilegia o som ambiente, sem incluir frases de protestos ou gritos. São apenas corpos se deslocando no espaço, atacando e se defendendo, avançando e recuando. Como num videogame, estes corpos são todos iguais, são vistos sem rostos ou sem particularidades, como representantes de uma massa única. O resultado é certamente interessante, embora não desenvolva muito o conceito estético inicial. 

    Noite começou com uma novidade: protetores para o ouvido foram entregues ao público, e a diretora Paula Gaitán avisou, quase como um pedido de desculpas, que tinham diminuído o som o máximo possível. Ou seja, os espectadores se prepararam para o incômodo que viria em seguida: durante 80 minutos, a imagem concentra-se no rosto de mulheres (em especial a atriz Clara Choveaux) enquanto experimenta diferentes sons, canções, estilos e texturas de imagem. O conjunto representa uma experiência dura e hermética ao espectador, e não foram raras as pessoas se levantando e abandonando a sessão. Mas este é um cinema feito para provocar, instigar, ou até entediar (muitos artistas não temem o tédio), ao invés de divertir ou reconfortar. É um cinema da afronta e da agressão, e neste sentido, combinou com a projeção de Rua de Mão Única.

    A sessão se completaria com um filme totalmente oposto: o doce Ela Volta na Quinta, de André Novais. O AdoroCinema já tinha tido a oportunidade de assistir ao filme durante o festival de Brasília, ficando surpreso com esta bela e naturalista história sobre o próprio André e seus familiares, envoltos na trama fictícia de uma separação. O filme está longe da noção comercial de "entretenimento", mas representa uma experiência da simplicidade, um olhar carinhoso e agradável aos momentos cotidianos. É sempre bom, depois das imagens rebuscadas e ostensivamente autorais de Noite, presentear o público com um respiro.

    Críticas dos filmes da Semana dos Realizadores 2014

    Branco Sai. Preto Fica

    Brasil S/A

    Ela Volta na Quinta

    O Som ao Redor

    Ventos de Agosto

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