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    Exclusivo: Conversamos com Gregório Duvivier e Clarice Falcão no set de Desculpe o Transtorno

    Dupla do Porta dos Fundos protagoniza comédia 'indie' que foca os arquétipos de Rio e SP a partir de personagem com dupla personalidade. “Não improvisar com essa galera é como ir de 747 pela Dutra”, brinca o diretor do filme sobre o elenco.

    Assistimos a uma cena de amor entre Gregório Duvivier e Clarice Falcão. Entre eles, o Corcovado: um ménage à trois de parar o trânsito. Da Urca. Mais especificamente da Avenida Portugal, única saída do tradicional bairro do Rio de Janeiro, onde a equipe de filmagens de Desculpe o Transtorno montou o set numa tarde de segunda-feira, seis de outubro, interrompendo o fluxo de veículos.

    Foi lá que, entre um xingamento de motorista e um badalo de sino, um transeunte carregando o micro system na mochila (ligado) e o piloto da ponte aérea insistindo em obedecer a rota, Eduardo (Duvivier) tentava se desculpar com Bárbara (Falcão), depois de pisar na bola. Simples assim.

    Desculpe o Transtorno – nome apropriado para quando é necessário fechar uma via pública – “é a história de um paulista (Gregório), que é noivo de uma paulista (Dani Calabresa) e descobre que tem dupla personalidade e que a sua segunda personalidade é carioca”, resume o mestre de obras, ou melhor, o diretor do filme, Tomas Portella (Qualquer Gato Vira-Lata e Isolados).

    As filmagens, que se dividiram entre Rio e São Paulo, duraram cinco semanas e terminariam no último dia 8. A previsão de lançamento é no primeiro semestre de 2015.

    Daniel Behr

    Rio Vs. SP. O filme, portanto, se aproveita de uma rixa que, dizem alguns, é mais velha do que o sabido desentendimento entre Deus e o Diabo: a rivalidade Rio X SP. “Mas em vez de falar: lá (SP) tem trânsito, aqui tem violência; lá tem poluição, aqui tem políticos ruins, a gente está tentando encontrar o que há de mais bonito entre as duas cidades”, pondera o diretor.

    Gregório concorda: “o filme fala de uma coisa que é arquetípica, mas não do estereótipo. É muito doido como essa coisa da diferença é inegável. São 400 km que separam as duas cidades, mas existe um abismo mesmo. Lá se dá um beijinho, aqui são dois. Quem convencionou isso? Lá, o feijão é claro, aqui é escuro – embora lá, eles chamem o feijão de carioquinha”.

    O personagem dele é originalmente carioquinha. Nascido no Rio, Eduardo se muda com o pai (Marcos Caruso) para São Paulo aos 13 anos e só retorna à cidade litorânea aos 28, quando a mãe morre. Lá, ele leva uma vida metódica, trabalha na empresa de patentes da família e é noivo da controladora Viviane (Calabresa). No Rio, se apaixona por uma doidinha. “Você veria a Bárbara com um bambolê no Posto Nove (território vanguardista da praia de Ipanema)”, define Clarice, longe do bronzeado típico da Garota de Ipanema.

    TDI. Eduardo sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade. E não é piada. “É uma coisa que existe”, pesquisou o ator. “Existe uma personalidade principal, e tem as personalidades, às vezes mais de uma, paralelas, que sabem da principal, mas a principal não tem conhecimento da paralela”. Entendeu? “Então, volta e meia ocorre da paralela virar outra pessoa, que fala alemão, por exemplo”, ele conclui. Clarice contextualiza: “é mais do que um triângulo amoroso, é um quadrado, porque ele são dois”.

    Os dois, Clarice e Gregório, casal na vida real, além de contribuir com o texto – assinado por Adriana Falcão e Tatiana Maciel, respectivamente mãe e irmã dela – também tiveram toda a liberdade para improvisar em cena. “Eles são as pessoas mais indies ao sul do equador”, arrisica Portella. “Seria um crime não usar o que eles têm para dar. Não improvisar com essa galera é como ir de 747 pela Dutra”, brincou o diretor em referência à linha de ônibus que faz o trajeto Vargem Grande – Cascadura.

    Daniel Behr

    Um tom abaixo. Por tudo isso, o cineasta aposta que Desculpe o Transtorno tem um tom um pouco diferente da maioria das comédias lançadas ultimamente: “sem dúvida a gente está atrás de público, mas não é risada a qualquer preço. O filme tem uma carinha dessas comédias mais modernas americanas com diálogo espertinho, tipo Juno”.

    Fã de 500 Dias com Ela, Gregório enumera os diversos tipos de comédia, para associar Desculpe o Transtorno ao “humor poético, que não dispensa a melancolia”, o que Clarice resume como “um mix de gêneros”.

    Surfando – como bom carioca – na popularidade do canal da web Porta dos Fundos, o ator defende o riso como formador de público para o cinema atualmente: “o primeiro filme que uma pessoa vai ver nunca é um filme experimental ou alternativo. A comédia é a melhor maneira de levar ao cinema gente que não está acostumada a ir”. Clarice complementa: “a gente está vindo de um batidão de comédia, mas gostamos muito de fazer drama também”.

    De volta à ordem do dia, a cena, filmada em uma tarde de céu azul tipicamente carioca e temperatura amena importada de São Paulo, o mesmo texto foi repetido pelos atores em sucessivos momentos (há que se liberar o trânsito, de tempos em tempos) e sob diversos ângulos (um preciosismo dos profissionais por trás das câmeras), até o morro do Corcovado se meter entre os dois no pôr-do-sol, com o perdão do lugar comum, cinematográfico. Teve beijo, como pode comprovar o AdoroCinema e toda a equipe de cerca de 30 pessoas no local. Tudo voyeur.

    Daniel Behr
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