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    Toronto 2014: A dupla face de Bill Murray

    St. Vincent é ‘dramédia’ politicamente incorreta que ainda traz Melissa McCarthy e Naomi Watts, ótimas, fora de sua zona de conforto. Burocrático, Boychoir, com Dustin Hoffman, também estreia no festival.

    Que tipo de lição uma criança de 12 anos poderia aprender em uma banca de apostas, matemática? Seria possível ela desenvolver noções de estudos sociais em um bar? E um clube de strip-tease, de que serviria para o tal infante? Uma aula de comércio. Ou seria biologia?

    Se as comédias dramáticas (as "dramédias") já vinham se destacando no Festival de Toronto (TIFF) – Men, Women & Children, Sete Dias Sem Fim, While We´re Young, só para citar alguns exemplos –, o que dizer quando o nome de Bill Murray é incluído nos créditos?

    Ninguém questiona o carisma do ator, muito menos a direção do TIFF que, nesse ano, dedicou um dia inteiro a ele (5 de setembro), em que foram exibidos Recrutas da Pesada (1981), Os Caça-Fantasmas (1984), Feitiço do Tempo (1993) – alguns até se fantasiaram – e o mais novo filme com Mr. Murray, St. Vincent – ele até usou uma coroa, oferecida por um jornalista, em sua caminhada pelo tapete vermelho dessa estreia mundial.

    No filme de Theodore Melfi, mais conhecido pelo ofício de produtor (inclusive de Amor por Acaso, longa do brasileiro Márcio Garcia), que estreia na direção de longas-metragens, William James Murray é Vincent, um sujeito politicamente incorreto que se vê obrigado (pela falta de dinheiro) a cuidar da criança citada – o também estreante Jaeden Lieberher, em uma rara atuação infantil comovente – depois que a mãe dele (Melissa McCarthy) se divorcia e muda para a casa ao lado.

    Vincent bebe, fuma, aposta, faz sexo com prostitutas grávidas (na verdade, só com uma), mas tem um bom coração. Bom, não literalmente, exatamente. (E aqui vai um alerta de leve spoiler). Lá pelas tantas, ele sofre um derrame, o que exige uma performance (mais ou menos) dramática do ator. Se você é fã de Murray, não precisa sofrer. Ele dá conta do papel (sem perder a piada), mesmo quando o personagem tem parte da musculatura paralisada, mas há uma gordura de sentimentalismo na trama que poderia facilmente ser cortada.

    Arrancadas de suas zonas de conforto, Melissa McCarthy e Naomi Watts são duas ótimas surpresas neste St. Vincent. A comediante sustenta com firmeza o papel mais sério, e a outra, acostumada a filmes densos, como O Impossível, está hilária como Daka, a prostituta grávida (a tal) que, como se não bastasse, ainda é russa – e o sotaque que ela faz é impagável. No fim da sessão, foram todos aplaudidos.

    Boychoir

    O mesmo não se pode dizer das performances infantis de Boychoir, longa de François Girard (O Violino Vermelho), capitaneado por Dustin Hoffman. E olha que criança é o que não falta em um filme sobre um coral de meninos. A maioria, no entanto, caricata – o amigo nerd, o invejoso, o briguento talentoso (Garrett Wareing, protagonista).

    Stet (Wareing) é o típico garoto-problema. Fruto de uma noite apenas, a mãe é alcoólatra e, para piorar, morre em um acidente de carro. O pai ausente, então, é convocado quando o menino se vê sozinho no mundo. Mas Stet tem talento vocal. A fim de se livrar dele, o pai o leva para a tradicional The American Boychoir School – um internato que é uma espécie de Hogwarts dos corais. Lá, além de aperfeiçoar a voz, ele vai ter que aprender noções de disciplina – o que o leva a bater de frente com o maestro Carvelle (Hoffman).

    Em meio a toda embromação, cabe à diretora (Kathy Bates, sempre ela) apelar para a objetividade – ela é o alivio cômico. Boychoir é uma fábula inocente sobre valores morais que tem seu público cativo, principalmente entre os mais velhos.

    Nenhum dos dois filmes tem data prevista de estreia no Brasil ainda.

    Assista ao trailer de St. Vincent:

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