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    Cannes 2014: Quentin Tarantino decreta que o digital é a morte do cinema

    O diretor falou sobre a importância de Sergio Leone para a sétima arte, quais são os diretores mais excitantes do momento, como lida com seus filmes e muito mais!

    Quentin Tarantino veio a Cannes com uma missão especial: fazer um tributo a Por um Punhado de Dólares, clássico dirigido por Sergio Leone que será exibido em cópia restaurada na cerimônia de encerramento do festival. Antes disto, o diretor concedeu uma entrevista coletiva. Bastante franco, ele falou sobre sua carreira, o ódio pelo cinema digital e ainda disse quais são os diretores mais excitantes da atualidade.

    POR UM PUNHADO DE DÓLARES

    Logo no início da coletiva, Tarantino expressou toda sua devoção ao longa-metragem dirigido por Sergio Leone. "Não é apenas o nascimento do western spaghetti, o que é inegável, mas de todo o gênero ação no cinema. Tudo o que associamos à ação nasceu com este filme."

    A MORTE DO CINEMA

    No penúltimo dia do Festival de Cannes, Tarantino e Uma Thurman apresentaram a cópia restaurada de Pulp Fiction, em 35 mm, para uma sessão na praia. Algo que é cada vez mais raro, visto que a película está sendo substituída pelo cinema digital em todo o planeta. "Como cineasta e produtor, digo que o DCP é a morte do cinema como conheci. Não é apenas uma questão de rodar seu filme em película ou em digital, mas que seu filme não será mais exibido em 35mm. Ou seja, a guerra está perdida! Cinema digital é ótimo para a TV, mas não para o cinema."

    Apesar de ser radicalmente contra o modelo digital, Tarantino deu o braço a torcer e admitiu um ponto positivo. "O lado bom do digital é que um cineasta pode fazer um filme com um celular. E é legítimo, é real. Isso é como escalar o Everest!"

    PRESSÃO SOBRE OS NOVOS FILMES

    Vinte anos atrás, Tarantino veio a Cannes apresentar Pulp Fiction e saiu do festival com a Palma de Ouro, prêmio máximo do festival. Desde então ele se tornou um ícone do cinema mundial, com seus novos filmes sempre sendo aguardado pelos fãs. O diretor falou um pouco sobre a pressão existente em torno desta expectativa. "Não é propriamente uma pressão, pois ela sempre está lá. Quero que as pessoas esperem muito de mim! Quero que aguardem com muita antecipação, que façam contagem regressiva para meus novos filmes! Esta é uma das coisas que faz um cineasta viver de fato. Não considero isto uma pressão, mas um luxo."

    PALMA DE OURO

    Questionado sobre a importância de ter ganho a Palma de Ouro, Tarantino foi direto! "A Palma de Ouro é o prêmio mais importante da minha carreira. Basta conferir os diretores que já ganharam e a imensa lista de grandes diretores que não ganharam. Ela te dá prestígio, te torna um dos cineastas do mundo."

    TRILHA SONORA

    Tarantino é conhecido por selecionar ele próprio a trilha sonora de seus filmes, que muitas vezes se tornaram sucesso fora dos filmes. "Não consigo contratar um compositor para compôr a alma do meu filme. Não confio tanto assim em ninguém! Definir a alma do meu filme é meu trabalho, eu é que faço as escolhas."

    THE HATEFUL EIGHT

    Após Django Livre, Tarantino pretendia lançar outro faroeste, provisoriamente chamado The Hateful Eight. Entretanto, o primeiro tratamento do roteiro vazou na internet e, com isso, o diretor abandonou provisoriamente o projeto. "Preciso me acalmar primeiro, tirar a faca e o garfo das minhas costas", brincou o diretor. "A bem da verdade, ainda não sei o que farei. Estou terminando o segundo tratamento do roteiro. Talvez eu rode o filme, talvez publique a história e talvez a deixe guardada."

    REVER SEUS PRÓPRIOS FILMES

    "Sempre tive muita pena dos cineastas que não veem seus próprios filmes, porque é muito doloroso ou fica reparando em suas falhas. Como se pode fazer o que faz se acha que seu trabalho é tão ruim? Se for muito doloroso para mim ver algum dos meus filmes, eu faço outro e sigo em frente! Revejo meus filmes o tempo todo! Em casa sou um destas caras que fica o tempo todo mudando os canais no controle remoto. Quando vejo que algum dos meus filmes irá passar, eu sempre o vejo. Às vezes um pedaço, às vezes inteiro."

    O CINEMA DOS ANOS 1980

    "Para mim, os anos 1980 foram um período de grande repressão no cinema em Hollywood, mais até que os anos 1950. Era tão opressor que a indústria cinematográfica instituiu este mantra de que todo filme deve ter uma sequência e que os personagens precisam ser simpáticos. Se a audiência não estiver com eles 100% do tempo, seu filme nunca verá a luz do dia. Eu odeio isto e, ao mesmo tempo, nos livros estes personagens dúbios são muito excitantes e interessantes. Logo, meu cinema no início dos anos 1990 foi uma reação à esta opressão que sentia."

    OS DIRETORES MAIS EXCITANTES DA ATUALIDADE

    "Estava discutindo sobre este assunto há pouco tempo atrás. Enviei um e-mail a alguns amigos perguntando a eles quais seriam os 10 diretores mais excitantes da atualidade. E o que significa ser mais excitante? Significa que seu melhor trabalho ainda está por vir, que seu próximo filme pode ser o melhor de todos. Discutimos bastante, mas apenas dois diretores estavam nas listas de todos os envolvidos: David Fincher e Richard Linklater. Para mim estar na lista de todos foi algo muito significativo."

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