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    Cannes 2014: Belas atuações e rigor estético são os destaques de Mr. Turner

    O veterano diretor Mike Leigh retornou à Croisette para exibir seu novo filme, que já desponta como candidato às premiações.

    O segundo dia do 67º Festival de Cannes começou com a exibição de um dos filmes mais aguardados da mostra competitiva: Mr. Turner, novo trabalho de Mike Leigh, que acompanha a vida do pintor inglês J.M.W. Turner. Tamanha expectativa se justificava pela própria carreira do diretor, repleto de filmes sobre relações humanas que lhe renderam diversos prêmios e indicações - entre eles uma Palma de Ouro, ganha em 1996, por Segredos e Mentiras.

    Entretanto, Mr. Turner é um Mike Leigh diferente. O diretor desta vez se apresenta com uma obra mais rigorosa, que prioriza o lado estético em detrimento de uma história a ser contada. Por mais que apresente fatos importantes da vida do pintor, é a ambientação que o cerca e as peculiaridades marcantes, não apenas suas mas também dos personagens à sua volta, que se destacam.

    Diante desta intenção, quem brilha intensamente é a fotografia de Dick Pope. Buscando a luminosidade típica dos trabalhos de Turner, são vários os momentos em que as pinturas do personagem título são reverenciadas, seja através de recriações na telona ou na simples aproximação da câmera, para ressaltar características de alguma obra em específico.

    FDC / G. Lassus-Dessus

    Em relação ao elenco, dois atores merecem destaque: Timothy Spall e Dorothy Atkinson. Ambos surpreendem com um belo trabalho de composição de personagem, adequado aos tempos abrutalhados nos quais Turner vivia, na Inglaterra da primeira metade do século XIX. Os grunhidos típicos de Turner, marca registrada do pintor, arrancaram risos em diversos momentos.

    Na coletiva realizada logo após a sessão, Spall divertiu a imprensa ao repetir o grunhido, explicando que tratava-se de algo orgânico, como se o pintor estivesse reprimindo algo. O som voltou a ser tema central quando Mike Leigh respondeu se tinha alguma semelhança com o pintor: "Não. Ou, de outra forma...", complementando com o grunhido emblemático.

    Sobre as escolhas estéticas ao rodar Mr. Turner, Leigh explicou que buscou mostrar as imagens que inspiravam o pintor, ressaltando sempre a tensão existente pelo lado épico e espiritual de seu trabalho. "Era a tensao entre a beleza e o horror da natureza. Turner era o pintor do sublime", complementou seu intérprete, Timothy Spall.

    Por mais que Mr. Turner não possua o mesmo impacto dos melhores trabalhos do diretor, demonstrou credenciais suficientes para entrar na disputa por premiações. Talvez não para a Palma de Ouro - sempre se espera a excelência neste tipo de filme -, mas para as categorias de atuação e em um possível prêmio técnico. É, por enquanto, o melhor filme exibido no Festival de Cannes - mas estamos ainda no segundo dia do festival, ou seja, ainda é cedo para fazer qualquer prognóstico sobre favoritos às premiações.

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